domingo, 1 de junho de 2008

MILÍCIAS - POLÍTICA DO TERROR: DITADURA DA BANDA PODRE


Milícias - Política do Terror: Ditadura da banda podre.


Rio - A regra ditada pela milícia do Batan diz que toda locação de imóvel deve ser precedida de análise rigorosa do morador interessado pela associação, dominada pelo grupo criminoso. O principal temor da milícia é a invasão da comunidade pela ADA, facção que dominava a favela antes dos policiais da banda podre. Aspectos da vida íntima ou da comunidade são da competência dos milicianos. O ‘prefeito’ local é um sujeito franzino que só anda de touca ninja na comunidade. Conhecido como ‘01’, ele reveza carros em seus ‘policiamentos’ na favela. Está jurado de morte pela ADA. Costuma amedrontar os moradores posando com sua máscara e arma na cintura na padaria que funciona como ponto de observação dos milicianos, no Largo do Chuveirão. Os criminosos se organizam em turnos para distribuir a função de acordo com o trabalho do policial. Os milicianos fardados formam o primeiro escalão do grupo criminoso, mas recrutam moradores com talento bélico para atuar como sentinelas na proteção de áreas que consideram vulneráveis. A mais frágil no Batan é o morro. Os milicianos já avisaram que pretendem instalar cancelas e portões nas vias de entrada da área.

"Eu era catador de papel. Vocês me vêem todo ferrado assim de dia, mas de noite só dá eu no morro, com a 12 na mão", afirmou senhor de aproximadamente 50 anos.

O miliciano de segundo escalão carregava no chuvoso 1º de maio um carrinho de mão e enxadas. Estava preocupado, pois não conseguia cumprir as ordens dos milicianos. "Acho que vou à Quinta da Boa Vista pegar grama. Se eu arrancar mato e plantar lá, quando crescer vou sentir o peso da Madalena", disse, referindo-se ao caibro utilizado como instrumento de tortura.

O homem conta que a grama seria colocada em volta do campo de futebol da casa usada como Quartel General da milícia, na Rua Pedro Nava. Outros três o acompanhavam. Também eram forçados a trabalhar para o grupo criminoso. "Outro dia eles perguntaram se eu queria bala. Pensei que estavam oferecendo munição e eles atiraram no meu pé só de curtição", contou. Os trabalhos forçados são rotina na favela. Na maioria dos casos são direcionados a supostos viciados em drogas, obrigados a reformar casas dos milicianos e capinar. "Quem falou que o tempo da escravidão acabou? Aqui não teve 13 de maio, não", ironizou o miliciano de segundo escalão.

A milícia do Batan tenta criar novos rótulos e história para a ditadura que impõe à favela. Insiste em ser chamada de "segurança" e atribui à comunidade a condição de"condomínio".

Por toda a favela pichações com os dizeres "ADA" e "narizes" são apagados com tinta da mesma cor usada pela resistência do tráfico, que ainda existe em pequeno número. Os usuários de drogas são simplesmente "narizes". Mulheres mais velhas sequer pronunciam o termo. Fazem trejeitos com o rosto para simular a inalação quando se referem aos viciados.

O combate ao uso de droga transformou-se, na ideologia estreita dos milicianos, em uma cruzada moral. Qualquer morador pego com droga ou sob efeito dela é castigado e humilhado. Na segunda-feira, 7 de maio, no fim da Estrada do Engenho Novo, um rapaz abria uma valeta na rua com o rosto coberto de pó branco, num ritual de intimidação.

Os laços com o tráfico não foram completamente apagados. Na final do Campeonato Carioca, as famílias preferiram assistir ao jogo em suas casas para não confraternizar com os milicianos no Largo do Chuveirão, onde seria instalado um telão. Eles temem que a ADA retome o lugar e castigue os mais ligados à milícia. "Não gosto de conversar com eles. Não sei quando podem ir embora e, se os outros voltarem, como vou ficar?", pergunta uma moradora antiga.

A troca de poderes na favela criou uma legião de exilados. É o caso da pequena J, de 5 anos. O filho de Dona S. se envolveu com uma moça da favela. Eles tiveram um bebê. A mulher dele se apaixonou por um traficante e o largou. Foi morar com o criminoso e a filha. Quando a milícia invadiu, ela teve que ir embora porque o novo marido foi jurado de morte. A avó não conseguiu ficar sem a neta. O filho de Dona S. conseguiu tomar a menina, que agora está com a avó e não pode ver a mãe, proibida de entrar na favela.

A ditadura da milícia no Batan influenciou a religiosidade. Simpáticos à crença evangélica, policiais da banda podre fazem pipocar igrejas na comunidade. Usuários e pessoas ligadas ao tráfico fazem da Bíblia sua defesa contra a milícia. Seguidores do candomblé enfrentam dificuldades. Centros são destruídos de forma violenta no Batan. Religioso da igreja Deus Responde com Fogo, que fica próxima ao QG da milícia, descreve com discurso bíblico a atuação do grupo armado. "Deus sempre manda uma ventania para mudar a vida do homem. No Batan, a ventania veio em forma de tiroteio".

O poder centralizado da milícia impressiona porque os bandidos conseguem impor suas vontades na vida íntima, política, social e comercial da favela. Os moradores são obrigados a pagar R$ 31 por um botijão de gás – R$ 5 a mais que no mercado comum – porque os milicianos impedem a entrada de outros caminhões na comunidade. A venda de água mineral também é controlada e não existe nos supermercados da região. O serviço de gatonet pode ser solicitado via associação de moradores. Eles fiscalizam e punem o "gato do gato". O sinal é captado de um motel. O serviço é muito ruim. Os 100 canais oferecidos não passam de chuviscos ruidosos na tela. À época do tráfico, o gatonet custava R$ 35, agora, são R$ 20.

O serviço de vans é operado de 6h às 21h. É controlado por milicianos, mas um pastor da Assembléia de Deus também tem veículos na linha, o que aborrece os milicianos. Os carros rodam em péssimo estado de conservação e têm ponto final na Avenida Sulamérica, em Bangu. O valor da passagem é de R$ 2. Até moradores que têm RioCard recebem sugestão de tomar van, não ônibus. O comércio informal é regulado. Os estabelecimentos não têm alvará ou CNPJ e por isso pagam taxa mensal de R$ 40 para funcionar. Depois de acabar com os bailes funk, os milicianos criaram um "pagofunk" para limitar a influência do estilo musical na favela.

O jogo do bicho era parceiro do tráfico. Quando a milícia invadiu, tiveram que fazer um acordo com eles para continuar. A milícia teme os cabeças do jogo do bicho.


Fonte: O Dia

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