domingo, 6 de julho de 2008

DELEGADO DIZ QUE MILÍCIA É "UM MAL MAIOR"






Delegado diz que milícia em Campo Grande 'tem nome e sobrenome'



RIO - O delegado Marcos Neves da 35ª DP (Campo Grande), delegacia que sofreu um atentado a bomba no último dia 11 junho, acaba de prestar depoimento na CPI das Milícias. O delegado afirmou que Jerominho Guimarães e seu irmão, o deputado Natalino Guimarães (DEM) são os líderes das milícias em Campo Grande, Zona Oeste da cidade.

- Em Campo Grande, milícia tem nome e sobrenome. Jerominho e Natalino Guimarães são a personificação das milícias em Campo Grande - afirmou o titular da 35ª DP, que de acordo com as investigações da polícia apontam que nos últimos quatro anos 98 pessoas podem ter sido assassinadas na região por milicianos.

- Antes eu pensava que esses grupos seriam um mal menor, hoje eu vejo que um mal maior. Porque estes grupos de milicianos estão infiltrados em todas as esferas do poder - disse o delegado que trabalha há quatro anos na investigação de paramilitares.

O delegado afirmou também que 50% das milícias do Rio estão em Campo Grande. Neves ainda enfatizou o grande poder econômico desses grupos, que segundo ele, começou oferecendo segurança paga à população e hoje tem o controle de serviços como TV a cabo, gás e transporte alternativo. De acordo com Neves, a exploração desses serviços tem o faturamento mensal é de R$ 2 milhões em Campo Grande.

Marcos Neves fez uma apresentação de slides para explicar a atuação da Liga da Justiça, grupo paramilitar liderado por Jerominho, segundo delegado. O vereador Jerominho está preso desde dezembro do ano passado, mas o deputado estadual Natalino responde à Justiça em liberdade o processo de formação de quadrilha e coação de pessoas à prática de crimes. O delegado apresentou uma lista com 27 nomes de supostos membros do grupo denominado Liga da Justiça.

O presidente da CPI das Milícias, deputado Marcelo Freixo (PSol) considerou fundamental e esclarecedor o depoimento do delegado da 35ª DP. Ele disse ainda que o relatório final da CPI deve ficar pronto em novembro.

- Nosso objetivo é entender o funcionamento desses criminosos que tem braços políticos e que funcionam como grupos familiares com organização muito semelhante às máfias estabelecidas na Europa, portanto, uma ameaça a soberania do Estado- explicou Freixo. Na próxima segunda-feira, o parlamentar tem uma reunião com o Ministério Público.

Durante a reunião, Freixo divulgou os dados do Disque Milícia criado nesta segunda-feira para receber gratuitamente denúncias em caráter sigiloso. Em apenas três dias, foram registradas 90 denúncias. Primeiro dia 10, terça 43 e nesta quarta 37. O Disque Milícia funciona de segunda à sexta-feira de 10h às 17h pelo telefone 0800 2820376.

Fonte: JB

DOSSIÊ MILÍCIA


Dossiê milícia: A vida de luxo e riqueza dos políticos e agentes da lei




Rio - Apartamentos de luxo à beira-mar, mansões, fazenda e gado, carrões importados e à prova de balas, iates. É doce a vida dos homens de ouro da milícia, que têm renda de classe média, mas vivem como milionários em endereços bem distantes das comunidades que são acusados de controlar à força. 

A lista inclui policiais, bombeiros e ex-agentes, todos investigados pela Secretaria de Segurança por comandar grupos paramilitares que dominam hoje pelo menos 72 favelas no Rio de Janeiro. Alguns desfrutam do conforto de 240 metros quadrados de apartamento, em um condomínio com direito a campo de golfe, quadras de squash e tênis, piscina e até um exclusivo heliponto. Entre os vizinhos estão os milionários jogadores Ronaldo Fenômeno e Romário.

É o caso do capitão reformado da PM Epaminondas de Queiroz Medeiros Júnior, apontado nas investigações da Secretaria de Segurança como o sucessor, na Favela Rio das Pedras, em Jacarepaguá, do inspetor Félix Tostes, assassinado no ano passado. A atual companheira e ex-sócia do capitão na empresa de vigilância Protec comprou, em 2000, um apartamento no luxuoso condomínio Golden Green, na Barra da Tijuca, um dos mais valorizados da cidade. O imóvel, negociado à época por R$ 792 mil, vale hoje entre R$ 1, 5 milhão e R$ 1,8 milhão. 

O levantamento feito por O DIA nos cartórios de registro de imóveis do Rio mostra que há outros investigados por ligação com as milícias no clube do milhão. O major Dilo Soares Pereira Júnior e a mulher fecharam há dois anos a compra de um imóvel, também na Barra, por R$ 2 milhões. O casal hoje mora num sofisticado prédio no Recreio dos Bandeirantes, avaliado pela prefeitura em mais de R$ 1 milhão. Outro que está nesse seleto time é o inspetor Fábio de Menezes Leão. Com influência na Favela Gardênia Azul, Fabinho, atualmente detido no presídio Bangu 8, morava numa mansão de 451 metros quadrados em Jacarepaguá. 

A Barra é o endereço preferido dos investigados por envolvimento com as milícias. O sargento bombeiro Cristiano Girão Matias há seis anos reside na Avenida Lúcio Costa, a menos de um quilômetro de outro suspeito: o sargento reformado da PM Dalmir Pereira Barbosa, proprietário de um apart-hotel com ampla vista para o mar no Barra Palace. 

O bairro do Recreio também é cobiçado. É lá, numa cobertura, que mora o inspetor e vereador Jerônimo Guimarães Filho (PMDB), o Jerominho, preso desde dezembro. Ele e o irmão, o deputado estadual Natalino José Guimarães (DEM), também investem em imóveis em Búzios, na Região dos Lagos. Um espetáculo de prosperidade que em nada lembra a vida humilde das comunidades que são suspeitos de explorar. Nesses locais, as casas raramente têm mais de 40 metros quadrados, o lazer é quase sempre restrito a precárias quadras esportivas e o transporte é feito em Kombis caindo aos pedaços ou superlotadas. 

A equipe de reportagem passou três meses levantando informações de 43 pessoas investigadas por ligação com a cúpula das milícias. Analisou 131 certidões de 22 cartórios de registro de imóveis e cruzou informações com dados disponíveis no Detran, na Prefeitura do Rio, no Serasa, corregedorias da PM, Polícia Civil e Bombeiros, Tribunal de Justiça e Junta Comercial, além de visitar imóveis na capital e no Interior. O resultado do trabalho começa a ser publicado na edição de hoje.



O Midas da Barra da Tijuca

Major da PM consegue, com soldo e participação em empresas, comprar imóvel de R$ 2 milhões

Rio - A Barra da Tijuca terá erguido, até o fim do ano, um dos maiores empreendimentos imobiliários da cidade: o Milano Residenze, do Riserva Uno, condomínio de alto luxo que promete aos moradores a vista da praia, da Lagoa de Marapendi e da Pedra da Gávea, entre os mais de 10 atrativos paisagísticos e as exclusivas quadras de squash, vôlei de praia, basquete, tênis e piscina coberta. Um dos futuros moradores é o major da PM Dilo Pereira Soares Júnior, investigado por ligações com a milícia de Rio das Pedras e que responde a inquérito por agiotagem na 32ª DP (Tanque).

Ele e a mulher, Andréa, fecharam a compra de um apartamento no Riserva Uno no fim do ano passado por R$ 2.012.279,00, com entrada de R$ 300 mil. O restante será pago em prestações e parcelas intermediárias ao longo dos próximos 10 anos.

O negócio é mais uma transação do major que se transformou em uma espécie de midas da Barra. Dilo e Andréa já são proprietários de um belo e amplo apartamento no Recreio dos Bandeirantes, com 199 metros quadrados, quatro suítes, vagas na garagem para três carros e localizado à beira-mar, na Avenida Lúcio Costa. O imóvel está avaliado pela Prefeitura do Rio, para base de cálculo do ITBI (Imposto sobre Transações Imobiliárias), em mais de R$ 1 milhão. A compra foi concretizada por R$ 714 mil em fevereiro de 2004 e, no ato do negócio, o casal desembolsou um cheque de R$ 150 mil e o mesmo valor em dinheiro vivo. Também assumiu 17 prestações de R$ 11,6 mil e uma parcela de R$ 219 mil.

Nada mal para quem tem rendimento médio anual de R$ 185 mil (o salário da PM mais a participação em empresas privadas e serviços prestados). Já os rendimentos de Andréa beiram os R$ 200 mil.

A aquisição do imóvel no Milano Residenze ocorre apenas um ano depois de o casal quitar o apartamento em que vive atualmente. De acordo com os registros no 5º e 6º Distribuidores de Imóveis, o major e sua esposa negociaram nos últimos cinco anos também a venda de dois apartamentos no Recreio e um terreno em Vargem Grande, comprados entre 1999 e 2004.

O desempenho do militar como administrador de empresas também é um sucesso. Até o ano passado, o PM era sócio de Dalmir Pereira Barbosa na firma Areal Cred Fomento, em Jacarepaguá. Andréa é sócia de uma empresa de consultoria e já foi proprietária de outras duas agências — uma de assessoria e planejamento e outra de serviços automotivos.

Novatos no Golden Green

Os negócios do capitão Epaminondas de Queiroz Medeiros Júnior também estão associados ao sucesso empresarial da atual companheira. Nos cartórios de imóveis do Rio, o oficial aparece apenas como proprietário de uma casa no Recreio dos Bandeirantes (avaliada em R$ 400 mil) junto com Maria Tereza, comprada em 1994. Mas foi ao lado de Glaucia que os negócios prosperaram.

Os dois foram sócios até o fim do ano passado da empresa Protec Prestação de Serviço. Glaucia entrou na sociedade substituindo o pai do militar, Epaminondas de Medeiros, em 1998. O casal, então, decolou na vida. Morou num apartamento na Barra, que está em nome de Epaminondas (pai), e dois anos depois passou a integrar a lista do seleto grupo de milionários do Golden Green. O imóvel, comprado por Glaucia em setembro de 2000, por R$ 792 mil, já foi totalmente quitado, de acordo com o cronograma de pagamentos registrado no cartório do 23º Ofício de Notas. O condomínio do imóvel custa hoje R$ 1.920,00 e o IPTU anual é de R$ 6.228,00.

LUXO GARANTIDO

No Riserva Uno, o major Dilo tem à disposição um apartamento com 333 metros quadrados — o que equivale a 10 quitinetes nas comunidades exploradas pelas milícias. Para a decoração das dependências do prédio, o policial e sua mulher se comprometeram a pagar 10 prestações de R$ 8.511,00, que serão destinadas ao fundo de mobiliário, de acordo com a escritura assinada no Ofício de Notas. O dinheiro será usado para dar um acabamento de alto luxo ao edifício, que inclui, por exemplo, home office e home theater.

As várias opções de lazer são o ponto alto do condomínio. Serão 5 mil metros de área para os moradores relaxarem — o que nem de longe lembra as modestas quadras poliesportivas com no máximo 300 metros nas favelas. Nesse espaço, haverá quadras de tênis, basquete e vôlei de praia. Sem contar salas de artes marciais e de dança, academia de ginástica e a promessa de serviço de acompanhantes para crianças e idosos.

No condomínio, serão vendidos, até o fim do ano, apartamentos ainda mais luxuosos nos cinco edifícios que vão ser construídos. Alguns chegarão a ter 552 metros quadrados.





INVESTIGADOS

Foto Ag. O Dia
DILO PEREIRA

ÁREA DE ATUAÇÃO: Rio das Pedras
PATENTE: Major da PM
HISTÓRICO: Foi preso em caso de seqüestro e morte de taxista em 2001. Chegou a ser expulso da PM, mas recorreu e está na ativa. Citado pela deputada Cidinha Campos (PDT) como envolvido com o inspetor Félix Tostes, morto no ano passado.
Foto Ag. O Dia
QUEIROZ JÚNIOR

ÁREA DE ATUAÇÃO: Rio das Pedras
PATENTE: Capitão reformado da PM
HISTÓRICO: Investigado pela Secretaria de Segurança por ser o chefe da milícia da comunidade de






Bombeiro incendeia a noite

Empresário de funkeiros e freqüentador de festas, Girão se divide entre a vida na Barra e o sítio em Silva Jardim



Do alto do 35º andar, Girão desfruta de uma das melhores vistas da Barra e esbanja em festas. Foto Paulo Araújo
Rio - As festas nas boates da moda na Barra da Tijuca e na Zona Sul têm uma figura carimbada: o sargento do Corpo de Bombeiros Cristiano Girão Matias, 36 anos, que sempre chega a bordo de veículos de luxo — são cinco carros e uma moto —, exibindo roupas das grifes mais famosas e caras do mundo, como Diesel e Polo. É tão afeito à agitação que, em fevereiro, deu uma festa à fantasia para comemorar o aniversário da mulher Samantha, ligada ao funk. Foi vestido de mafioso e deu de presente à amada um CrossFox (avaliado em R$ 50 mil).

Investigado pela Secretaria de Segurança como o responsável pela milícia da Gardênia Azul, em Jacarepaguá, Cristiano Girão mora em um apartamento na Avenida Sernambetiba. Ele também tem um sítio com seis hectares (290 mil metros quadrados) e perto de 100 cabeças de gado em Silva Jardim.

O apartamento na Sernambetiba, avaliado em R$ 500 mil — conforme o cálculo da Prefeitura do Rio para o pagamento do ITBi —, está em nome de Solange Ferreira Vieira, sócia minoritária em duas lojas comerciais na Gardênia Azul (C. Lages e Girão Madeiras). Ela ganhou o imóvel, em dezembro de 2004, do próprio bombeiro, que comprou o apartamento em janeiro de 2002 e o transferiu pelo simbólico valor de R$ 15 mil.

No prédio em que o bombeiro tem apartamento no 35º andar, com vista para toda a Barra da Tijuca, os porteiros e vizinhos não conhecem Solange, mas sabem que Cristiano Girão é um dos moradores. Um dos vizinhos lembra, inclusive, que o militar é bastante extrovertido. Quem geralmente atende ao telefone instalado na residência — também em nome de Solange Vieira — é uma mulher que se identifica como a babá do casal e se diz responsável por cuidar especialmente da mulher de Girão, analisando desde a comida até a roupa que ela usa.

Cristiano Girão já sofreu dois atentados desde que a polícia passou a acompanhar de perto seus passos na Gardênia Azul. Em um deles, foi assassinado o irmão do bombeiro, Alexandre Castro Girão, em 2004. No outro, um ano e meio depois, as vítimas foram seu pai, Severino do Ramos Matias, e um empregado, Paulo Henrique Rocha Veira, que sobreviveram.

Girão também é empresário de funkeiros que já tiveram problemas com a polícia, entre eles o MC Colibri. O homem que adora a noite criou ainda um clube na Gardênia Azul. O Garden Fest vive da efervescência do funk e do pagode e costuma reunir a nata dos dois ritmos musicais e lotar nos fins de semana. É mantido pela associação de moradores da Gardênia, presidida por Cristiano Girão, e destaca-se dentro da comunidade pelo tamanho da área e a beleza do acabamento.

OURO, UÍSQUE E CHARUTOS

O CrossFox que Cristiano Girão deu à mulher está registrado no Detran em nome dela. O veículo foi entregue de surpresa na festa de aniversário e com direito até a lacinho vermelho para simbolizar o presente. No Orkut — site de relacionamentos na Internet —, as fotos dão o tom de quanto o bombeiro impressionou os convidados e a esposa.

A festa foi à fantasia e a roupa de Cristiano chamou a atenção. Ele foi de mafioso, com direito a pulseira, relógio e cordão de ouro e o inseparável charuto cubano Hoyo de Monterrey, para caracterizar à risca o personagem.

Além das roupas de marcas sofisticadas e do ouro, Girão também gosta de servir aos amigos bebidas importadas e o uísque nunca inferior a 12 anos. Pelas fotos do Orkut, percebe-se que o bombeiro e sua mulher convivem com artistas, cantores de funk e jogadores de futebol.

Na paz do campo


Nem tudo é agito na vida de Cristiano Girão. Ele também gosta, em alguns momentos, do sossego do campo. Uma prova está em Silva Jardim. É no pequeno município que o bombeiro mantém o sítio Vanguarda, com cabeças de gado e cavalos de raça em mais de seis hectares às margens da Lagoa Juturnaíba — santuário ecológico que banha o vizinho Parque de Poços das Antas. É ali que Girão e a família costumam passear de barco nos fins de semana, conforme relato de empregados e caseiros de propriedades vizinhas.

O militar é sempre visto no local em carros de luxo e acompanhado de seguranças. O sítio, que funciona como uma espécie de haras, foi comprado em junho de 2001 por R$ 50 mil. Hoje, segundo dois corretores de imóveis do município, está avaliado entre R$ 300 mil e R$ 350 mil.


INVESTIGADO


Foto Ag. O Dia
CRISTIANO GIRÃO


ÁREA DE ATUAÇÃO: Gardênia Azul
PATENTE: Sargento bombeiro
HISTÓRICO: Investigado por extorsão na 32ª DP (Taquara) e responde por furto na 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá. Escapou de dois atentados.
Em um deles, o irmão foi morto. No outro, o pai acabou baleado




Negociação até na cadeia

Em Bangu 8, Jerominho recebeu escrevente para oficializar a venda de terreno


Rio - Nem as grades do presídio Bangu 8 foram capazes de impedir o vereador Jerônimo Guimarães Filho (DEM), o Jerominho, de engordar o seu patrimônio. No dia 5 de março — três meses após ser preso, acusado de chefiar milícia na Zona Oeste —, ele recebeu uma visita especial: o escrevente Carlos Alberto Pinto Siqueira, do cartório do 5º Ofício. Assim, Jerominho fechou a venda de um terreno de R$ 230 mil e o direito a 10 apartamentos do prédio que será erguido até o fim do ano na área, no Recreio. 
O negócio não é o único que o vereador pretende tocar da cadeia. Um dos bens mais valiosos de Jerominho fica na Região dos Lagos e está à venda, por R$ 500 mil: um casarão de 800 metros quadrados, com 12 suítes, próximo à Marina de Búzios. O terreno era dele desde a década de 80, mas só nos últimos anos o vereador decidiu construir ali. 
O projeto de uma pousada ia de vento em popa, até que a prisão acabou freando o empreendimento. “Estamos aguardando propostas. Até agora ninguém procurou”, conta um caseiro, sem saber que dava informações à equipe de reportagem. 
Aos 59 anos, o inspetor de polícia que virou político revela um talento pouco conhecido pelos eleitores: o de multiplicar patrimônio. Até 2004, ganhava um salário de pouco mais de R$ 3 mil por mês na Polícia Civil, morava em Campo Grande e tinha dois terrenos no bairro. Quatro anos depois, a lista de bens beira R$ 2 milhões. O enriquecimento coincide com a escalada dos negócios da Liga da Justiça — grupo paramilitar, segundo o MP, chefiado por Jerominho — e a ascensão à Câmara. 
Da casa em Campo Grande, o policial passou a morar com a mulher, em 2005, em uma cobertura na Rua Senador Rui Carneiro, no Recreio. Na escritura consta que o negócio foi fechado por R$ 120 mil, mas o imóvel hoje vale mais de R$ 250 mil. 
Ele não se desfez do primeiro imóvel na Zona Oeste, hoje também avaliado em R$ 250 mil. O patrimônio do vereador pode aumentar em R$ 600 mil quando ele receber os 10 apartamentos na Rua DW — referentes ao negócio feito dentro da prisão. A escritura da venda deste terreno para dois novos donos chega a ter ironia: o vereador, que presidiu ano passado a Comissão de Grilagem de Terras da Câmara, garante que a tomada da área foi feita por ele desde 1988, de forma “mansa e pacífica”.

INVESTIGADOS

Foto Ag. O Dia
JEROMINHO


ÁREA DE ATUAÇÃO: Campo Grande
POSTO: Inspetor de polícia e vereador
HISTÓRICO: Está preso desde dezembro do ano passado, acusado de chefiar a Liga da Justiça, grupo miliciano que domina comunidades na Zona Oeste.


Foto Ag. O Dia
NATALINO

ÁREA DE ATUAÇÃO: Campo Grande
POSTO: Inspetor de polícia e deputado
HISTÓRICO: Denunciado pelo Ministério Público por ser um dos chefes da Liga da Justiça. Responde ao processo







Luxo e crimes em família

Dalmir e Dalcemir são acusados de mandar matar funcionário da SMTU. Ênio e Flavio respondem por assassinato de topiqueiro

Foto Ag. O Dia
Rio - Unidos pelo sangue, eles também estão juntos no crime e na riqueza. Apesar da influência que têm sobre o transporte alternativo em Rio das Pedras, é em áreas bem mais nobres que os irmãos Dalmir e Dalcemir Pereira Barbosa desfrutam do seu patrimônio: um, sargento reformado da PM, mora de frente para a praia, na Barra da Tijuca; o outro, jornalista, termina este ano a construção de uma mansão ao lado do batalhão de Jacarepaguá.


A prosperidade também caminha junto com a dor-de-cabeça em processos complicados na Justiça. Dalmir e Dalcemir são acusados pelo homicídio, em 2003, do ex-chefe de gabinete da SMTU Paulo Roberto da Costa Paiva. A morte teria ocorrido porque, na época, Paulo Roberto tentava acabar com os negócios da dupla na máfia de vans e Kombis ilegais em Rio das Pedras.

Longe dali, na Favela do Catiri, em Bangu, é outra família, a dos Fiocchi, que demonstra poder. Enquanto Flavio, cabo do Corpo de Bombeiros, tem carrões e casas no Rio e em Cabo Frio, Região dos Lagos, seu irmão Ênio aproveita a vida de ex-PM em um luxuoso apartamento no Recreio dos Bandeirantes.

Em 2003, os irmãos Ênio e Flavio foram presos pelo assassinato do topiqueiro e ex-policial militar Antonio Silva Bastos. O motorista foi atingido por oito tiros na porta de casa por ter se recusado a pagar propina para circular na Zona Oeste.

COBERTURA PAGA À VISTA
Ao desembolsar R$ 300 mil em dinheiro vivo há dois anos, o sargento Dalmir comprou uma cobertura no Apart-Hotel Barra Palace, na Avenida Sernambetiba. Hoje, o imóvel, de 149 metros quadrados, está avaliado em R$ 516 mil, segundo a prefeitura, com IPTU de R$ 5 mil. Oficialmente, tudo foi adquirido com o salário de ex-policial de pouco mais de R$ 2 mil, além dos ganhos com três empresas. O sargento ainda tem um apartamento no condomínio Moradas do Itanhangá, em Jacarepaguá. 
Dalcemir não fica atrás e já começa a construir mansão na Rua Jornalista José de Moraes, em Jacarepaguá, onde comprou terreno em 2006. No mesmo ano, adquiriu casa ao lado por R$ 180 mil — que hoje vale R$ 300 mil. As obras estão adiantadas: dois andares foram erguidos e o próximo passo é fazer a piscina.

GASTOS ATÉ SEM SALÁRIO
A sorte bateu à porta do sargento Ênio após a expulsão da PM, em 2006. Sem o salário da corporação ou de qualquer empresa que complementasse seus rendimentos, o ex-policial conseguiu comprar, por R$ 255.250, um apartamento em condomínio luxuoso na Estrada do Pontal, no Recreio. 
Hoje, caso queira vender o imóvel, Ênio pode faturar mais de R$ 330 mil, segundo corretores. 


No 6º Ofício de Distribuição consta que Ênio mantém uma casa na Rua Lucio Alves, na Favela do Catiri, comprada em 2004. O ex-sargento também chegou a ter um imóvel na Avenida DW, no Recreio, mas o vendeu um mês antes da compra do apartamento na Estrada do Pontal. 
O irmão Flavio, apesar de morar no Catiri, gosta de andar em carrões. Suas multas denunciam os veículos de alto nível usados por ele: um Nissan Frontier e uma moto Yamaha, todos arrendados de empresas. No seu nome, há ainda um EcoSport avaliado em R$ 40 mil.


INVESTIGADOS

Foto Ag. O Dia
ÊNIO FIOCCHI


ÁREA DE ATUAÇÃO: Favela do Catiri, em Bangu
PATENTE: Ex-sargento da PM
HISTÓRICO: Foi preso em 2003, acusado de mandar matar o topiqueiro e ex-policial militar Antonio Silva Bastos. Três anos depois, foi expulso da PM



DALMIR BARBOSA

ÁREA DE ATUAÇÃO: Rio das Pedras
PATENTE: Sargento reformado da PM
HISTÓRICO: Responde pela morte do ex-chefe de gabinete da SMTU Paulo Roberto da Costa Paiva, em 2003. Ainda foi alvo de investigação da auditoria militar por ofensa de integridade física.

Foto Ag. O Dia
DALCEMIR BARBOSA

ÁREA DE ATUAÇÃO: Rio das Pedras
PROFISSÃO: Jornalista
HISTÓRICO: Também envolvido no assassinato do ex-chefe de gabinete da SMTU, Paulo Roberto Paiva, há cinco anos.




Foto Ag. O Dia
FLÁVIO FIOCCHI

ÁREA DE ATUAÇÃO: Favela do Catiri, em Bangu
PATENTE: Cabo bombeiro
HISTÓRICO: Também foi preso há cinco anos pelo mesmo homicídio que o irmão. A morte teria ocorrido porque o motorista de lotada não queria mais pagar propina para circular na região




Amigos aproveitam a mordomia

Policial militar tem rotina de passeios de lancha e carrões. Inspetor desfruta de mansão milionária

Foto Ag. O Dia
Rio - Se os homens investigados por ligação com as milícias no Rio de Janeiro prosperam na vida, os amigos que vivem ao redor do poder não têm do que reclamar. Dois bons exemplos do quanto é proveitosa essa proximidade são os policiais Geiso Pereira Turques (PM licenciado e vereador em São Gonçalo) e Fábio de Menezes Leão, o Fabinho, um dos homens fortes do ex-chefe da Polícia Civil Álvaro Lins.

Figura da noite na Favela Rio das Pedras, em Jacarepaguá, Geiso tem à disposição três carros possantes (dois adquiridos em leasing e um em seu nome), costuma sempre andar de lancha na baía de Angra dos Reis e comprou no início do ano passado uma mansão no condomínio Bosque dos Esquilos, em Jacarepaguá, avaliada hoje em R$ 500 mil.

A compra da mansão foi fechada em janeiro de 2007, com uma entrada de R$ 200 mil e 48 parcelas mensais de R$ 6.140,00, conforme consta na escritura do cartório 9ª Registro Geral de Imóveis. A casa, de dois andares e 199 metros quadrados construídos, tem piscina e está localizada em um condomínio cercado pelo verde que faz jus ao nome: um autêntico bosque, com micos e pássaros. Na porta da residência ficam estacionados dois de seus veículos.

O nome do sargento Geiso Turques está entre os investigados pela Secretaria de Segurança por envolvimento com as milícias. Ele seria ligado aos milicianos da Favela de Rio das Pedras, onde está localizada uma de suas empresas, a casa de shows Castelo das Pedras. O policial, que já sofreu um atentado e foi baleado no rosto, tem rendimento anual de R$ 15 mil e respondeu a seis processos (dois deles ainda em andamento) nas justiças Comum e Militar.

Já o inspetor Fábio Leão faz parte do seleto grupo dos que vivem em imóveis avaliados em mais de R$ 1 milhão. Sua casa, em Jacarepaguá, onde foi preso pela Polícia Federal, é cinematográfica: tem 450 metros quadrados de área construída e outro tanto de área verde, onde há um campo de futebol iluminado com refletores e uma horta. A mansão dispõe ainda de piscina e hidromassagem e está localizada num condomínio com guaritas e seguranças.

O imóvel aparece no 9º RGI como propriedade de Paulo César Ribeiro Teixeira e consta uma promessa de compra e venda em nome de Fátima Cristina de Barros Dantas, feita em março de 2005, no 23º Ofício de Notas. Mas, de acordo com as investigações da Polícia Federal, a casa é a residência oficial de Fabinho.

O policial civil ganha em torno de R$ 5 mil por mês (juntando o salário de policial e outros rendimentos) e é citado como um dos homens ligados à quadrilha que domina a Favela Gardênia Azul, em Jacarepaguá. Na região, Fabinho é dono de imóveis, conforme a pesquisa no 5º Ofício do Registro de Distribuição.

FORÇA AO CHEFE

Uma prova da ligação de Fábio de Menezes Leão com as milícias da Zona Oeste aparece na gravação telefônica feita pela Polícia Federal durante as investigações sobre o envolvimento de agentes do Rio com o crime organizado. Fabinho aparece conversando com outro policial e avisa que abriu as portas das comunidades para o então candidato a deputado estadual Álvaro Lins fazer campanha política.

O inspetor Fabinho fala com um dos organizadores da campanha de Lins para procurar o cabo da PM Jorsan Machado de Oliveira. “Os caras lá são o Jorsan e o Serginho. Eles estão com a gente na campanha, são eles que puxam o bonde”, avisa Fabinho, que cumpre pena na Penitenciária Bangu 8.

Em outra gravação, o policial é cobrado por um amigo, comerciante na Gardênia Azul, a intervir junto à cúpula da milícia na favela e reduzir o valor da “proteção” (segurança). Ele, então, ensina o amigo a enrolar, empurrar o problema sem pagar o adicional.

INVESTIGADOS

Foto Ag. O Dia
FABINHO


ÁREA DE ATUAÇÃO: Gardênia Azul
POSTO: Inspetor de polícia
HISTÓRICO: Um dos integrantes do grupo dos ‘inhos’, é acusado de ligação com a máfia dos caça-níqueis. Está preso aguardando julgamento.



Foto Ag. O Dia
GEISO TURQUES

ÁREA DE ATUAÇÃO: Rio das Pedras
PATENTE: Sargento da PM
HISTÓRICO: Foi réu em seis processos na Justiça, um deles referente a tortura e outro por homicídio. Dois ainda estão em andamento no Tribunal de Justiça e na Auditoria Militar.


Fonte: O Dia

sábado, 5 de julho de 2008

MILÍCIAS TERÃO PRISÃO PREVENTIVA DE 40 MEMBROS




Milícia: 40 paramilitares na mira


Delegado de Campo Grande diz que vai pedir prisão de grupo que atua na região até o fim do mês


O delegado da 35ª DP (Campo Grande), Marcus Neves, disse ontem que até o fim do mês vai pedir à Justiça a prisão de pelo menos 40 milicianos que agem na região. Os paramilitares já estão identificados e seriam integrantes da chamada Liga da Justiça, comandada, segundo investigações, pelo vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho (PMDB), e seu irmão, o deputado estadual Natalino José Guimarães (DEM). Jerominho, que está preso, e Natalino negam as acusações, alegando ser vítimas de perseguição.


“Outros 20 policiais civis e militares também deverão responder por corrupção. Eles recebem dinheiro para acobertar as ações dos milicianos”, afirmou Neves. De acordo com o delegado, a Polícia Federal e a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) ajudam a identificar as formas de atuação dos suspeitos.


Para Neves, a certeza da impunidade é tanta entre os membros da Liga da Justiça que vários integrantes moram numa mesma vila, apelidada de Vila da Milícia, no Centro de Campo Grande. “A fama de exterminar cruelmente quem se opõe ou denuncia os paramilitares impõe o terror e o medo entre os moradores”, comentou o delegado.


Na quinta-feira, em depoimento à CPI das Milícias da Alerj, Neves revelou que a Liga da Justiça arrecada cerca de R$ 2 milhões por mês com ‘segurança’, venda de gás, extorsão a topiqueiros e controle de transporte alternativo. O bando seria responsável pela execução de 98 pessoas, conforme levantamento do Serviço Reservado do Regimento de Polícia Montada (RPMont). Boa parte das vítimas seria ligada a grupos rivais, principalmente os que eram liderados pelo ex-policial civil Josimar José da Silva, o Mazinho, que já sobreviveu a quatro atentados, e pelo sargento da PM Francisco César Silva Oliveira, o Chico Bala, assassinado ano passado.


Fonte O Dia