quinta-feira, 5 de junho de 2008

MILÍCIAS, A FACE DO MAL E O CV-PCC DO AMANHÃ


O comando da barbárie

Polícia prende ‘02’ da milícia do Batan e caça ‘01’, o policial civil Odnei, acusado de chefiar tortura

Rio - A polícia deu o primeiro passo ontem para desbaratar o grupo de milicianos que seqüestrou e torturou equipe de O DIA e um morador da Favela do Batan, em Realengo, Zona Oeste do Rio, em 14 de maio. A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) deflagrou a Operação Ninho da Águia, para prender acusados e recolher provas sobre a quadrilha paramilitar que mantém controle armado da comunidade.

Acusado de envolvimento no crime, está preso Davi Liberato de Araújo, o 02, de 32 anos. Condenado a sete anos e seis meses por receptação, falsificação de documentos, adulteração de veículos e falsa identidade, Davi cumpria pena em regime semi-aberto na Colônia Agrícola Marco Aurélio Vergas Tavares Mattos, em Magé, na Baixada, e saía da prisão para trabalhar para a milícia.


CHEFE IDENTIFICADO

A polícia está à procura do policial civil Odnei Fernando da Silva, o 01 ou Águia, de 35 anos, lotado na 22ª DP (Penha), acusado de ser o comandante do bando e já considerado foragido da Justiça. Segundo o delegado Cláudio Ferraz, titular da Draco-IE, os torturadores estavam em busca de informações da equipe. Não tinham, contudo, a intenção de matar. “Tudo leva a crer que eles utilizaram técnicas para não deixar marcas físicas nas vítimas, para dificultar as investigações”, afirmou. Durante as torturas, os paramilitares leram os relatórios sobre a ação da milícia enviados ao jornal.

OPERAÇÃO

A mobilização para prender Odnei começou às 8h. A expectativa era de que ele fosse preso ao chegar ao trabalho, na 22ª DP. Como não apareceu, por volta das 15h, agentes da Draco-IE deixaram a unidade, no Centro, com mandado de prisão temporária por 30 dias e quatro mandados de busca e apreensão, expedidos segunda-feira pela Justiça. Dois endereços, um em Senador Camará e outro em Realengo, pertencem a Odnei. Os outros, em Duque de Caxias e na Favela do Batan, são de Davi. Interno da Colônia Agrícola, Davi foi transferido no fim de semana para o Presídio Plácido Sá Carvalho, no Complexo Penitenciário de Gericinó.

Davi chegou à Draco-IE, onde foi apresentado à imprensa, vestindo uma camisa verde da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, calça jeans e chinelos, dizendo ser inocente. “Eu estava detido no dia do crime. É só pegar as planilhas e ver que eu estava na prisão no dia. Fui preso porque comprei um carro roubado”, alegou. Para Ferraz, porém, “o tipo físico e vozes dos acusados batem com os revelados pelas vítimas”. O delegado trabalha em conjunto com o Comando Militar do Leste para identificar um cemitério clandestino no Campo de Gericinó, que faz limite com a Favela do Batan.


AGENTES ESTOURAM UM DOS QUARTÉIS-GENERAIS DE PARAMILITARES

A Draco estourou ontem de manhã mais uma casa apontada como quartel-general da milícia do Batan. A polícia não tem informações se o local também foi usado como cativeiro da equipe de O DIA, mas sabe que a residência é local de encontro dos milicianos da favela. A Draco acredita que os criminosos fugiram assim que os agentes chegaram, porque foram encontrados vestígios de comida e peças de roupa no imóvel.

Com dois andares, uma piscina grande e sótão, a casa fica em um lugar privilegiado da favela. De lá, os milicianos têm visão total da comunidade, o que facilita o controle de quem entra ou sai do Batan.

A polícia apreendeu material de ‘gatonet’ — TV a cabo clandestina — e panfletos com os serviços oferecidos na comunidade pela milícia, com a figura de uma águia, símbolo do grupo paramilitar do lugar. Nos muros da favela, pichações com as siglas da facções Amigos dos Amigos (ADA) e Terceiro Comando Puro (TCP), cujos traficantes fora expulsos pelos milicianos, foram riscadas.


Ligação com outros grupos

Durante a Operação Ninho da Águia, o delegado Cláudio Ferraz e o chefe do Inteligência da Draco-IE, Jorge Gerhard, que estavam no Centro, acompanharam a movimentação na Zona Oeste em tempo real. Cada passo era filmado e enviado à delegacia. “Essa milícia pode ter relação com outros grupos paramilitares que atuam no Rio”, explicou Ferraz.

Está sendo investigada a presença de um suposto assessor parlamentar, conhecido como Betão, no cativeiro, no momento em que a equipe e o morador da favela eram torturados. As suspeitas são sobre o deputado estadual Coronel Jairo e o vereador Dr. Jairinho, pai e filho. A polícia já identificou a viatura da PM que, como relataram as vítimas, estava no Batan na hora do crime.

Os policiais estão, agora, em busca do equipamento fotográfico e outros objetos roubados da equipe de O DIA e do morador. Denúncias sobre os autores e outros casos de milícias podem ser encaminhadas ao Disque Denúncia (2253-1177).



Fonte O Dia

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