segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

MILÍCIA: O PODER DA FARC CARIOCA





O poder das milícias no Rio de Janeiro






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Gravações telefônicas feitas pela polícia revelam os bastidores de um poder paralelo que se espalhou pelo Rio: as milícias, grupos controlados por policiais-bandidos, responsáveis por extorsões e homicídios. Você vai ver o depoimento de um homem que resolveu desafiar a lei imposta pelas milícias e pagou caro por isso.

Não se trata de roubo de carros. É muito pior. Carrões em uma favela? São de policiais. Um Omega importado blindado? O dono é um simples soldado. Um Vectra prateado? De outro soldado. São policiais que fazem parte de uma milícia no Rio de Janeiro, uma atividade muito rentável, ilegal e brutal.

Para um policial prender um colega gera constrangimento, além de uma duvida técnica: atrás ou na frente? Onde levá-lo? "Quando o negão vai entrar no camburão? Ele é 'polícia'", disse um policial.

A cortesia de ir na frente não é estendida a outros presos. Em uma operação, realizada na sexta-feira (22), quatro homens foram presos. Ela foi feita pela delegacia que combate o crime organizado - e a milícia está bem organizada.

É verdade que tudo ainda é muito rudimentar. As listas são manuais, com a contribuição obrigatória de cada casa e de cada comerciante. A cada dia, o bolo vai crescendo. É uma lista de taxas cobradas.

Quem vive nessas comunidades tem que pagar pelo gás, pelo acesso ilegal à internet, pelo acesso ilegal à TV a cabo, pelo transporte de mototáxi ou de van e para a compra e venda de qualquer imóvel. A lista dessas taxas impostas pela força continua a crescer. Sentinelas das milícias ficam em locais estratégicos e vão se alimentando como parasitas do dinheiro de todos.

O que era um problema das favelas, das comunidades pobres, está se expandindo em direção às ruas e aos bairros dos subúrbios. Para se ter uma idéia da audácia desse grupo que foi preso, eles estavam construindo uma guarita no meio da avenida, como se fosse um posto de fronteira, para monitorar o entra-e-sai dos moradores.

É assim que eles vão se apossando de pedaços da cidade. Isso ao lado da Avenida Brasil, a principal via de acesso ao Rio de Janeiro. A milícia agia na área como um governo soberano.

"Começa a ocupar bairro como se fosse uma ocupação de um estado, um domínio daquela área ali. Começa a ter uma evolução espacial. E isso cria um problema na comunidade terrível, porque a comunidade passa a se sentir desprotegida, passa a não ter esferas do poder público a quem recorrer", afirma o delegado Cláudio Ferraz.

Na investigação, conversas da milícia foram gravadas e mostram de que forma a violência vai sendo aplicada - até contra feirantes.

Fabrício Mirra, foragido: Porque vai ser feito um cadastro, irmão. Se tiver 60 barracas ali, as 60 barracas vão ter que colaborar. Se 59 "colaborar" e uma não colaborar, essa uma vai ser convidada a se retirar.

Como esse convite é feito? Com violência.

Mulher: Ele não sabe que você também faz cirurgias nas pessoas.

Luciano Carneiro, foragido: Sem anestesia, né?

Mulher: Só que sua anestesia é manual.

A milícia faz questão de ser extremamente violenta. Assassinatos com dezenas de tiros são comuns. Trata-se de um recado para os que tentam resistir.

Mas nem sempre isso dá certo. Cada vez mais gente tem denunciado esses crimes. Um homem se negou a pagar à milícia. Foi enrolando, enrolando, até que deu um basta.

"Eu fui repetindo aquelas desculpas até o momento em que achei conveniente agir daquela outra forma. ‘Não te contratei, voce vai ter que me levar a quem te contratou, porque ele é que tem que te pagar, não sou eu. Você não trabalha para mim, nem teu patrão. Não tenho nada que pagar a vocês’", disse o homem.

Pouco depois, o filho único dele foi assassinado. Essa e outras mortes aconteceram em uma região do Rio de Janeiro onde a policia aponta que o vereador Jerominho Guimarães e o deputado estadual Natalino Guimarães sejam líderes de milícia. Os dois já foram indiciados pelo Ministério Público. O vereador está preso.

A atuação deles é denunciada também por outra pessoa: o advogado André de Paula.

"Pegaram os terrenos vazios, inclusive a grande área de lazer da comunidade, e venderam para uma igreja. E os outros terrenos vazios também começaram a vender, como se fossem donos. Então, estamos denunciando. E aí as ameaças de morte vêm se avolumando, sempre através de terceiros. Caso alguma coisa aconteça comigo, estamos responsabilizando o deputado estadual Natalino e o vereador Jerominho", acusa o advogado André de Paula.

Outra gravação também cita o nome do vereador. O diálogo envolve a compra de um tipo de rifle, o 762. Os bandidos falam por código.

Fabrício Mirra, foragido: O outro é igual, é a mesma coisa?

Homem: Não, não, não. O telefone do cara é 762-4542, 762-4542, aquele grandão, bonitão... E aquele cara de ontem que eu ‘tô’ falando, esse amigo lá, o Jerominho, ele pagou R$ 20 [mil] em cada um.

A milícia precisa de mais armas porque precisa de mais gente pra trabalhar. Mão-de-obra especializada.

Luciano Carneiro, foragido: Comunica ao 01 aí que ‘chegou’ três amigos, ‘ex-militar’, pra trabalhar na ‘firma’. O amigo ‘Naval’ trouxe. O amigo é ex-militar também, ‘tá’ querendo trabalhar aí com a gente aí.

Militares , policiais, bombeiros, agentes penitenciários estão virando milícia. Todos foram formados pelo estado, mas agora usam armas em proveito próprio.

"As milícias crescem de uma maneira absurda, de uma maneira descontrolada. Hoje nós temos mais de uma centena de áreas carentes do Rio dominadas por essas milícias. A minha percepção é de que, realmente,o combate é mais difícil do que o combate ao tráfico", compara o procurador-geral da Justiça do Rio de Janeiro, Marfan Vieira.

Muita coisa está sendo feita para combater a milícia, mas a impressão é de que ainda há muito por fazer. E a integridade de um pai é um modelo para todos.

"Eu escutei de diversas pessoas: ‘Ah, era muito mais barato dar R$ 10 ou R$ 20 para ele’. 'Mais barato para você'. Para mim, não. Eu, depois de 60 anos, ser cafetizado não fica bem para mim, se nunca fui antes. Eu sempre fui contrário à propina ou corrupção", finaliza o pai.


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Fonte: FANTÁSTICO

domingo, 10 de fevereiro de 2008

MILÍCIAS: O FACE NEGRA DA FORÇA


ARMA QUE MATOU CORONEL FOI UTILIZADA EM CHACINA EM 2007




São Paulo - Brasil.


José Hermínio Rodrigues foi atingido por mesma arma usada em chacina em 29 de junho. Perícia comparou cápsula das balas das duas ocasiões; marcas eram as mesmas.

A arma utilizada para matar o coronel da Polícia Militar José Hermínio Rodrigues, assassinado no dia 16 de janeiro, foi a mesma usada por autores de uma chacina ocorrida em 2007. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) recebeu o resultado da perícia das balas encontradas no local do crime nesta sexta-feira (8). Elas partiram da mesma pistola calibre 380 que foi utilizada em uma chacina em 29 de junho do ano passado.


Veja o site do SPTV


Segundo os peritos, as cápsulas das balas encontradas próximas ao corpo do coronel foram comparadas com as cápsulas deixadas no local da chacina. Nos dois casos, foram observadas as mesmas marcas.

O coronel foi assassinado no final da manhã do dia 16 de janeiro, após ser atacado por motoqueiros na Avenida Engenheiro Caetano Álvares, região do Mandaqui, na Zona Norte de São Paulo, de acordo com a Polícia Militar.


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Segundo a PM, o comandante andava de bicicleta quando foi cercado por criminosos que estavam de moto. Rodrigues levou um tiro na cabeça e chegou a ser levado ao hospital da corporação, o Barro Branco, também na Zona Norte, onde morreu.

No ano passado o coronel afastou PM suspeitos de participar de grupos de extermínio. Esses policiais estão sendo investigados.

Na chacina de 29 de junho, seis pessoas morreram na entrada da favela do Morro do Piolho, na Vila Albertina, Zona Norte. Sete rapazes que conversavam junto a algumas motocicletas foram obrigados por um grupo a colocar as mãos para o alto. Os criminosos disparam contra todos, atingindo a maioria na cabeça. Apenas um sobreviveu.


Policiais presos

Dois sargentos e um soldado da PM estão presos desde 25 de janeiro, suspeitos de envolvimento na morte da mãe de um traficante de drogas e na tentativa de homicídio de seu filho no ano passado. Entretanto, a polícia ainda não tem provas do envolvimento deles com a morte do coronel.

No caso do assassinato da mulher, os dois autores do crime usavam uma moto Falcon preta, mesmo veículo usado pelo assassino do coronel. Outra semelhança, segundo a polícia, é que o autor dos disparos, no momento do crime, se aproximou da vítima e atirou a uma distância curta na cabeça e, após a queda do corpo no chão, continuou disparando.

A mulher foi morta porque teria ameaçado policiais que extorquiam dinheiro dela e do filho de levar o caso à Corregedoria da Polícia Militar. O delegado afirmou, baseado no depoimento desse traficante, que, como ele não cedeu à extorsão, os policiais teriam armado um flagrante contra ele no qual apresentaram uma arma e conseguiram prendê-lo.


Homicídios múltiplos

Além da morte desses seis jovens, policiais militares de batalhões da zona norte estavam sendo investigados em outras oito chacinas ocorridas na região em 2007 e na cidade vizinha de Guarulhos.

O participação de PMs na morte do coronel foi uma das principais hipóteses levantadas pela polícia no dia crime, em 16 de janeiro. O assassino, vestido de preto, ocupava uma moto Falcon, da mesma cor. Ele ultrapassou o oficial, que andava de bicicleta na Avenida Engenheiro Caetano Álvares, Mandaqui, e parou logo depois. Desceu, levantou a viseira do capacete e fez posição de tiro, para mirar o alvo. Quando Hermínio passou, atirou seis vezes contra ele - a maior parte dos tiros foi na cabeça. Em seguida, aproximou-se do oficial e chutou o rosto dele, para certificar-se de que estava morto.

Na madrugada seguinte, sete jovens foram executados na região do Jaçanã e PMs da zona norte também foram apontados como suspeitos do crime.

Durante as investigações, três PMs acabaram presos. Um deles é suspeito de matar a mãe de um traficante que se negou a pagar propina. Outros dois teriam tentado matar o próprio traficante, por ter denunciado o policial. Os três, que também são investigados na morte do coronel, negam os crimes.


Fontes: O GLOBO e G1