domingo, 6 de julho de 2008

DELEGADO DIZ QUE MILÍCIA É "UM MAL MAIOR"






Delegado diz que milícia em Campo Grande 'tem nome e sobrenome'



RIO - O delegado Marcos Neves da 35ª DP (Campo Grande), delegacia que sofreu um atentado a bomba no último dia 11 junho, acaba de prestar depoimento na CPI das Milícias. O delegado afirmou que Jerominho Guimarães e seu irmão, o deputado Natalino Guimarães (DEM) são os líderes das milícias em Campo Grande, Zona Oeste da cidade.

- Em Campo Grande, milícia tem nome e sobrenome. Jerominho e Natalino Guimarães são a personificação das milícias em Campo Grande - afirmou o titular da 35ª DP, que de acordo com as investigações da polícia apontam que nos últimos quatro anos 98 pessoas podem ter sido assassinadas na região por milicianos.

- Antes eu pensava que esses grupos seriam um mal menor, hoje eu vejo que um mal maior. Porque estes grupos de milicianos estão infiltrados em todas as esferas do poder - disse o delegado que trabalha há quatro anos na investigação de paramilitares.

O delegado afirmou também que 50% das milícias do Rio estão em Campo Grande. Neves ainda enfatizou o grande poder econômico desses grupos, que segundo ele, começou oferecendo segurança paga à população e hoje tem o controle de serviços como TV a cabo, gás e transporte alternativo. De acordo com Neves, a exploração desses serviços tem o faturamento mensal é de R$ 2 milhões em Campo Grande.

Marcos Neves fez uma apresentação de slides para explicar a atuação da Liga da Justiça, grupo paramilitar liderado por Jerominho, segundo delegado. O vereador Jerominho está preso desde dezembro do ano passado, mas o deputado estadual Natalino responde à Justiça em liberdade o processo de formação de quadrilha e coação de pessoas à prática de crimes. O delegado apresentou uma lista com 27 nomes de supostos membros do grupo denominado Liga da Justiça.

O presidente da CPI das Milícias, deputado Marcelo Freixo (PSol) considerou fundamental e esclarecedor o depoimento do delegado da 35ª DP. Ele disse ainda que o relatório final da CPI deve ficar pronto em novembro.

- Nosso objetivo é entender o funcionamento desses criminosos que tem braços políticos e que funcionam como grupos familiares com organização muito semelhante às máfias estabelecidas na Europa, portanto, uma ameaça a soberania do Estado- explicou Freixo. Na próxima segunda-feira, o parlamentar tem uma reunião com o Ministério Público.

Durante a reunião, Freixo divulgou os dados do Disque Milícia criado nesta segunda-feira para receber gratuitamente denúncias em caráter sigiloso. Em apenas três dias, foram registradas 90 denúncias. Primeiro dia 10, terça 43 e nesta quarta 37. O Disque Milícia funciona de segunda à sexta-feira de 10h às 17h pelo telefone 0800 2820376.

Fonte: JB

DOSSIÊ MILÍCIA


Dossiê milícia: A vida de luxo e riqueza dos políticos e agentes da lei




Rio - Apartamentos de luxo à beira-mar, mansões, fazenda e gado, carrões importados e à prova de balas, iates. É doce a vida dos homens de ouro da milícia, que têm renda de classe média, mas vivem como milionários em endereços bem distantes das comunidades que são acusados de controlar à força. 

A lista inclui policiais, bombeiros e ex-agentes, todos investigados pela Secretaria de Segurança por comandar grupos paramilitares que dominam hoje pelo menos 72 favelas no Rio de Janeiro. Alguns desfrutam do conforto de 240 metros quadrados de apartamento, em um condomínio com direito a campo de golfe, quadras de squash e tênis, piscina e até um exclusivo heliponto. Entre os vizinhos estão os milionários jogadores Ronaldo Fenômeno e Romário.

É o caso do capitão reformado da PM Epaminondas de Queiroz Medeiros Júnior, apontado nas investigações da Secretaria de Segurança como o sucessor, na Favela Rio das Pedras, em Jacarepaguá, do inspetor Félix Tostes, assassinado no ano passado. A atual companheira e ex-sócia do capitão na empresa de vigilância Protec comprou, em 2000, um apartamento no luxuoso condomínio Golden Green, na Barra da Tijuca, um dos mais valorizados da cidade. O imóvel, negociado à época por R$ 792 mil, vale hoje entre R$ 1, 5 milhão e R$ 1,8 milhão. 

O levantamento feito por O DIA nos cartórios de registro de imóveis do Rio mostra que há outros investigados por ligação com as milícias no clube do milhão. O major Dilo Soares Pereira Júnior e a mulher fecharam há dois anos a compra de um imóvel, também na Barra, por R$ 2 milhões. O casal hoje mora num sofisticado prédio no Recreio dos Bandeirantes, avaliado pela prefeitura em mais de R$ 1 milhão. Outro que está nesse seleto time é o inspetor Fábio de Menezes Leão. Com influência na Favela Gardênia Azul, Fabinho, atualmente detido no presídio Bangu 8, morava numa mansão de 451 metros quadrados em Jacarepaguá. 

A Barra é o endereço preferido dos investigados por envolvimento com as milícias. O sargento bombeiro Cristiano Girão Matias há seis anos reside na Avenida Lúcio Costa, a menos de um quilômetro de outro suspeito: o sargento reformado da PM Dalmir Pereira Barbosa, proprietário de um apart-hotel com ampla vista para o mar no Barra Palace. 

O bairro do Recreio também é cobiçado. É lá, numa cobertura, que mora o inspetor e vereador Jerônimo Guimarães Filho (PMDB), o Jerominho, preso desde dezembro. Ele e o irmão, o deputado estadual Natalino José Guimarães (DEM), também investem em imóveis em Búzios, na Região dos Lagos. Um espetáculo de prosperidade que em nada lembra a vida humilde das comunidades que são suspeitos de explorar. Nesses locais, as casas raramente têm mais de 40 metros quadrados, o lazer é quase sempre restrito a precárias quadras esportivas e o transporte é feito em Kombis caindo aos pedaços ou superlotadas. 

A equipe de reportagem passou três meses levantando informações de 43 pessoas investigadas por ligação com a cúpula das milícias. Analisou 131 certidões de 22 cartórios de registro de imóveis e cruzou informações com dados disponíveis no Detran, na Prefeitura do Rio, no Serasa, corregedorias da PM, Polícia Civil e Bombeiros, Tribunal de Justiça e Junta Comercial, além de visitar imóveis na capital e no Interior. O resultado do trabalho começa a ser publicado na edição de hoje.



O Midas da Barra da Tijuca

Major da PM consegue, com soldo e participação em empresas, comprar imóvel de R$ 2 milhões

Rio - A Barra da Tijuca terá erguido, até o fim do ano, um dos maiores empreendimentos imobiliários da cidade: o Milano Residenze, do Riserva Uno, condomínio de alto luxo que promete aos moradores a vista da praia, da Lagoa de Marapendi e da Pedra da Gávea, entre os mais de 10 atrativos paisagísticos e as exclusivas quadras de squash, vôlei de praia, basquete, tênis e piscina coberta. Um dos futuros moradores é o major da PM Dilo Pereira Soares Júnior, investigado por ligações com a milícia de Rio das Pedras e que responde a inquérito por agiotagem na 32ª DP (Tanque).

Ele e a mulher, Andréa, fecharam a compra de um apartamento no Riserva Uno no fim do ano passado por R$ 2.012.279,00, com entrada de R$ 300 mil. O restante será pago em prestações e parcelas intermediárias ao longo dos próximos 10 anos.

O negócio é mais uma transação do major que se transformou em uma espécie de midas da Barra. Dilo e Andréa já são proprietários de um belo e amplo apartamento no Recreio dos Bandeirantes, com 199 metros quadrados, quatro suítes, vagas na garagem para três carros e localizado à beira-mar, na Avenida Lúcio Costa. O imóvel está avaliado pela Prefeitura do Rio, para base de cálculo do ITBI (Imposto sobre Transações Imobiliárias), em mais de R$ 1 milhão. A compra foi concretizada por R$ 714 mil em fevereiro de 2004 e, no ato do negócio, o casal desembolsou um cheque de R$ 150 mil e o mesmo valor em dinheiro vivo. Também assumiu 17 prestações de R$ 11,6 mil e uma parcela de R$ 219 mil.

Nada mal para quem tem rendimento médio anual de R$ 185 mil (o salário da PM mais a participação em empresas privadas e serviços prestados). Já os rendimentos de Andréa beiram os R$ 200 mil.

A aquisição do imóvel no Milano Residenze ocorre apenas um ano depois de o casal quitar o apartamento em que vive atualmente. De acordo com os registros no 5º e 6º Distribuidores de Imóveis, o major e sua esposa negociaram nos últimos cinco anos também a venda de dois apartamentos no Recreio e um terreno em Vargem Grande, comprados entre 1999 e 2004.

O desempenho do militar como administrador de empresas também é um sucesso. Até o ano passado, o PM era sócio de Dalmir Pereira Barbosa na firma Areal Cred Fomento, em Jacarepaguá. Andréa é sócia de uma empresa de consultoria e já foi proprietária de outras duas agências — uma de assessoria e planejamento e outra de serviços automotivos.

Novatos no Golden Green

Os negócios do capitão Epaminondas de Queiroz Medeiros Júnior também estão associados ao sucesso empresarial da atual companheira. Nos cartórios de imóveis do Rio, o oficial aparece apenas como proprietário de uma casa no Recreio dos Bandeirantes (avaliada em R$ 400 mil) junto com Maria Tereza, comprada em 1994. Mas foi ao lado de Glaucia que os negócios prosperaram.

Os dois foram sócios até o fim do ano passado da empresa Protec Prestação de Serviço. Glaucia entrou na sociedade substituindo o pai do militar, Epaminondas de Medeiros, em 1998. O casal, então, decolou na vida. Morou num apartamento na Barra, que está em nome de Epaminondas (pai), e dois anos depois passou a integrar a lista do seleto grupo de milionários do Golden Green. O imóvel, comprado por Glaucia em setembro de 2000, por R$ 792 mil, já foi totalmente quitado, de acordo com o cronograma de pagamentos registrado no cartório do 23º Ofício de Notas. O condomínio do imóvel custa hoje R$ 1.920,00 e o IPTU anual é de R$ 6.228,00.

LUXO GARANTIDO

No Riserva Uno, o major Dilo tem à disposição um apartamento com 333 metros quadrados — o que equivale a 10 quitinetes nas comunidades exploradas pelas milícias. Para a decoração das dependências do prédio, o policial e sua mulher se comprometeram a pagar 10 prestações de R$ 8.511,00, que serão destinadas ao fundo de mobiliário, de acordo com a escritura assinada no Ofício de Notas. O dinheiro será usado para dar um acabamento de alto luxo ao edifício, que inclui, por exemplo, home office e home theater.

As várias opções de lazer são o ponto alto do condomínio. Serão 5 mil metros de área para os moradores relaxarem — o que nem de longe lembra as modestas quadras poliesportivas com no máximo 300 metros nas favelas. Nesse espaço, haverá quadras de tênis, basquete e vôlei de praia. Sem contar salas de artes marciais e de dança, academia de ginástica e a promessa de serviço de acompanhantes para crianças e idosos.

No condomínio, serão vendidos, até o fim do ano, apartamentos ainda mais luxuosos nos cinco edifícios que vão ser construídos. Alguns chegarão a ter 552 metros quadrados.





INVESTIGADOS

Foto Ag. O Dia
DILO PEREIRA

ÁREA DE ATUAÇÃO: Rio das Pedras
PATENTE: Major da PM
HISTÓRICO: Foi preso em caso de seqüestro e morte de taxista em 2001. Chegou a ser expulso da PM, mas recorreu e está na ativa. Citado pela deputada Cidinha Campos (PDT) como envolvido com o inspetor Félix Tostes, morto no ano passado.
Foto Ag. O Dia
QUEIROZ JÚNIOR

ÁREA DE ATUAÇÃO: Rio das Pedras
PATENTE: Capitão reformado da PM
HISTÓRICO: Investigado pela Secretaria de Segurança por ser o chefe da milícia da comunidade de






Bombeiro incendeia a noite

Empresário de funkeiros e freqüentador de festas, Girão se divide entre a vida na Barra e o sítio em Silva Jardim



Do alto do 35º andar, Girão desfruta de uma das melhores vistas da Barra e esbanja em festas. Foto Paulo Araújo
Rio - As festas nas boates da moda na Barra da Tijuca e na Zona Sul têm uma figura carimbada: o sargento do Corpo de Bombeiros Cristiano Girão Matias, 36 anos, que sempre chega a bordo de veículos de luxo — são cinco carros e uma moto —, exibindo roupas das grifes mais famosas e caras do mundo, como Diesel e Polo. É tão afeito à agitação que, em fevereiro, deu uma festa à fantasia para comemorar o aniversário da mulher Samantha, ligada ao funk. Foi vestido de mafioso e deu de presente à amada um CrossFox (avaliado em R$ 50 mil).

Investigado pela Secretaria de Segurança como o responsável pela milícia da Gardênia Azul, em Jacarepaguá, Cristiano Girão mora em um apartamento na Avenida Sernambetiba. Ele também tem um sítio com seis hectares (290 mil metros quadrados) e perto de 100 cabeças de gado em Silva Jardim.

O apartamento na Sernambetiba, avaliado em R$ 500 mil — conforme o cálculo da Prefeitura do Rio para o pagamento do ITBi —, está em nome de Solange Ferreira Vieira, sócia minoritária em duas lojas comerciais na Gardênia Azul (C. Lages e Girão Madeiras). Ela ganhou o imóvel, em dezembro de 2004, do próprio bombeiro, que comprou o apartamento em janeiro de 2002 e o transferiu pelo simbólico valor de R$ 15 mil.

No prédio em que o bombeiro tem apartamento no 35º andar, com vista para toda a Barra da Tijuca, os porteiros e vizinhos não conhecem Solange, mas sabem que Cristiano Girão é um dos moradores. Um dos vizinhos lembra, inclusive, que o militar é bastante extrovertido. Quem geralmente atende ao telefone instalado na residência — também em nome de Solange Vieira — é uma mulher que se identifica como a babá do casal e se diz responsável por cuidar especialmente da mulher de Girão, analisando desde a comida até a roupa que ela usa.

Cristiano Girão já sofreu dois atentados desde que a polícia passou a acompanhar de perto seus passos na Gardênia Azul. Em um deles, foi assassinado o irmão do bombeiro, Alexandre Castro Girão, em 2004. No outro, um ano e meio depois, as vítimas foram seu pai, Severino do Ramos Matias, e um empregado, Paulo Henrique Rocha Veira, que sobreviveram.

Girão também é empresário de funkeiros que já tiveram problemas com a polícia, entre eles o MC Colibri. O homem que adora a noite criou ainda um clube na Gardênia Azul. O Garden Fest vive da efervescência do funk e do pagode e costuma reunir a nata dos dois ritmos musicais e lotar nos fins de semana. É mantido pela associação de moradores da Gardênia, presidida por Cristiano Girão, e destaca-se dentro da comunidade pelo tamanho da área e a beleza do acabamento.

OURO, UÍSQUE E CHARUTOS

O CrossFox que Cristiano Girão deu à mulher está registrado no Detran em nome dela. O veículo foi entregue de surpresa na festa de aniversário e com direito até a lacinho vermelho para simbolizar o presente. No Orkut — site de relacionamentos na Internet —, as fotos dão o tom de quanto o bombeiro impressionou os convidados e a esposa.

A festa foi à fantasia e a roupa de Cristiano chamou a atenção. Ele foi de mafioso, com direito a pulseira, relógio e cordão de ouro e o inseparável charuto cubano Hoyo de Monterrey, para caracterizar à risca o personagem.

Além das roupas de marcas sofisticadas e do ouro, Girão também gosta de servir aos amigos bebidas importadas e o uísque nunca inferior a 12 anos. Pelas fotos do Orkut, percebe-se que o bombeiro e sua mulher convivem com artistas, cantores de funk e jogadores de futebol.

Na paz do campo


Nem tudo é agito na vida de Cristiano Girão. Ele também gosta, em alguns momentos, do sossego do campo. Uma prova está em Silva Jardim. É no pequeno município que o bombeiro mantém o sítio Vanguarda, com cabeças de gado e cavalos de raça em mais de seis hectares às margens da Lagoa Juturnaíba — santuário ecológico que banha o vizinho Parque de Poços das Antas. É ali que Girão e a família costumam passear de barco nos fins de semana, conforme relato de empregados e caseiros de propriedades vizinhas.

O militar é sempre visto no local em carros de luxo e acompanhado de seguranças. O sítio, que funciona como uma espécie de haras, foi comprado em junho de 2001 por R$ 50 mil. Hoje, segundo dois corretores de imóveis do município, está avaliado entre R$ 300 mil e R$ 350 mil.


INVESTIGADO


Foto Ag. O Dia
CRISTIANO GIRÃO


ÁREA DE ATUAÇÃO: Gardênia Azul
PATENTE: Sargento bombeiro
HISTÓRICO: Investigado por extorsão na 32ª DP (Taquara) e responde por furto na 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá. Escapou de dois atentados.
Em um deles, o irmão foi morto. No outro, o pai acabou baleado




Negociação até na cadeia

Em Bangu 8, Jerominho recebeu escrevente para oficializar a venda de terreno


Rio - Nem as grades do presídio Bangu 8 foram capazes de impedir o vereador Jerônimo Guimarães Filho (DEM), o Jerominho, de engordar o seu patrimônio. No dia 5 de março — três meses após ser preso, acusado de chefiar milícia na Zona Oeste —, ele recebeu uma visita especial: o escrevente Carlos Alberto Pinto Siqueira, do cartório do 5º Ofício. Assim, Jerominho fechou a venda de um terreno de R$ 230 mil e o direito a 10 apartamentos do prédio que será erguido até o fim do ano na área, no Recreio. 
O negócio não é o único que o vereador pretende tocar da cadeia. Um dos bens mais valiosos de Jerominho fica na Região dos Lagos e está à venda, por R$ 500 mil: um casarão de 800 metros quadrados, com 12 suítes, próximo à Marina de Búzios. O terreno era dele desde a década de 80, mas só nos últimos anos o vereador decidiu construir ali. 
O projeto de uma pousada ia de vento em popa, até que a prisão acabou freando o empreendimento. “Estamos aguardando propostas. Até agora ninguém procurou”, conta um caseiro, sem saber que dava informações à equipe de reportagem. 
Aos 59 anos, o inspetor de polícia que virou político revela um talento pouco conhecido pelos eleitores: o de multiplicar patrimônio. Até 2004, ganhava um salário de pouco mais de R$ 3 mil por mês na Polícia Civil, morava em Campo Grande e tinha dois terrenos no bairro. Quatro anos depois, a lista de bens beira R$ 2 milhões. O enriquecimento coincide com a escalada dos negócios da Liga da Justiça — grupo paramilitar, segundo o MP, chefiado por Jerominho — e a ascensão à Câmara. 
Da casa em Campo Grande, o policial passou a morar com a mulher, em 2005, em uma cobertura na Rua Senador Rui Carneiro, no Recreio. Na escritura consta que o negócio foi fechado por R$ 120 mil, mas o imóvel hoje vale mais de R$ 250 mil. 
Ele não se desfez do primeiro imóvel na Zona Oeste, hoje também avaliado em R$ 250 mil. O patrimônio do vereador pode aumentar em R$ 600 mil quando ele receber os 10 apartamentos na Rua DW — referentes ao negócio feito dentro da prisão. A escritura da venda deste terreno para dois novos donos chega a ter ironia: o vereador, que presidiu ano passado a Comissão de Grilagem de Terras da Câmara, garante que a tomada da área foi feita por ele desde 1988, de forma “mansa e pacífica”.

INVESTIGADOS

Foto Ag. O Dia
JEROMINHO


ÁREA DE ATUAÇÃO: Campo Grande
POSTO: Inspetor de polícia e vereador
HISTÓRICO: Está preso desde dezembro do ano passado, acusado de chefiar a Liga da Justiça, grupo miliciano que domina comunidades na Zona Oeste.


Foto Ag. O Dia
NATALINO

ÁREA DE ATUAÇÃO: Campo Grande
POSTO: Inspetor de polícia e deputado
HISTÓRICO: Denunciado pelo Ministério Público por ser um dos chefes da Liga da Justiça. Responde ao processo







Luxo e crimes em família

Dalmir e Dalcemir são acusados de mandar matar funcionário da SMTU. Ênio e Flavio respondem por assassinato de topiqueiro

Foto Ag. O Dia
Rio - Unidos pelo sangue, eles também estão juntos no crime e na riqueza. Apesar da influência que têm sobre o transporte alternativo em Rio das Pedras, é em áreas bem mais nobres que os irmãos Dalmir e Dalcemir Pereira Barbosa desfrutam do seu patrimônio: um, sargento reformado da PM, mora de frente para a praia, na Barra da Tijuca; o outro, jornalista, termina este ano a construção de uma mansão ao lado do batalhão de Jacarepaguá.


A prosperidade também caminha junto com a dor-de-cabeça em processos complicados na Justiça. Dalmir e Dalcemir são acusados pelo homicídio, em 2003, do ex-chefe de gabinete da SMTU Paulo Roberto da Costa Paiva. A morte teria ocorrido porque, na época, Paulo Roberto tentava acabar com os negócios da dupla na máfia de vans e Kombis ilegais em Rio das Pedras.

Longe dali, na Favela do Catiri, em Bangu, é outra família, a dos Fiocchi, que demonstra poder. Enquanto Flavio, cabo do Corpo de Bombeiros, tem carrões e casas no Rio e em Cabo Frio, Região dos Lagos, seu irmão Ênio aproveita a vida de ex-PM em um luxuoso apartamento no Recreio dos Bandeirantes.

Em 2003, os irmãos Ênio e Flavio foram presos pelo assassinato do topiqueiro e ex-policial militar Antonio Silva Bastos. O motorista foi atingido por oito tiros na porta de casa por ter se recusado a pagar propina para circular na Zona Oeste.

COBERTURA PAGA À VISTA
Ao desembolsar R$ 300 mil em dinheiro vivo há dois anos, o sargento Dalmir comprou uma cobertura no Apart-Hotel Barra Palace, na Avenida Sernambetiba. Hoje, o imóvel, de 149 metros quadrados, está avaliado em R$ 516 mil, segundo a prefeitura, com IPTU de R$ 5 mil. Oficialmente, tudo foi adquirido com o salário de ex-policial de pouco mais de R$ 2 mil, além dos ganhos com três empresas. O sargento ainda tem um apartamento no condomínio Moradas do Itanhangá, em Jacarepaguá. 
Dalcemir não fica atrás e já começa a construir mansão na Rua Jornalista José de Moraes, em Jacarepaguá, onde comprou terreno em 2006. No mesmo ano, adquiriu casa ao lado por R$ 180 mil — que hoje vale R$ 300 mil. As obras estão adiantadas: dois andares foram erguidos e o próximo passo é fazer a piscina.

GASTOS ATÉ SEM SALÁRIO
A sorte bateu à porta do sargento Ênio após a expulsão da PM, em 2006. Sem o salário da corporação ou de qualquer empresa que complementasse seus rendimentos, o ex-policial conseguiu comprar, por R$ 255.250, um apartamento em condomínio luxuoso na Estrada do Pontal, no Recreio. 
Hoje, caso queira vender o imóvel, Ênio pode faturar mais de R$ 330 mil, segundo corretores. 


No 6º Ofício de Distribuição consta que Ênio mantém uma casa na Rua Lucio Alves, na Favela do Catiri, comprada em 2004. O ex-sargento também chegou a ter um imóvel na Avenida DW, no Recreio, mas o vendeu um mês antes da compra do apartamento na Estrada do Pontal. 
O irmão Flavio, apesar de morar no Catiri, gosta de andar em carrões. Suas multas denunciam os veículos de alto nível usados por ele: um Nissan Frontier e uma moto Yamaha, todos arrendados de empresas. No seu nome, há ainda um EcoSport avaliado em R$ 40 mil.


INVESTIGADOS

Foto Ag. O Dia
ÊNIO FIOCCHI


ÁREA DE ATUAÇÃO: Favela do Catiri, em Bangu
PATENTE: Ex-sargento da PM
HISTÓRICO: Foi preso em 2003, acusado de mandar matar o topiqueiro e ex-policial militar Antonio Silva Bastos. Três anos depois, foi expulso da PM



DALMIR BARBOSA

ÁREA DE ATUAÇÃO: Rio das Pedras
PATENTE: Sargento reformado da PM
HISTÓRICO: Responde pela morte do ex-chefe de gabinete da SMTU Paulo Roberto da Costa Paiva, em 2003. Ainda foi alvo de investigação da auditoria militar por ofensa de integridade física.

Foto Ag. O Dia
DALCEMIR BARBOSA

ÁREA DE ATUAÇÃO: Rio das Pedras
PROFISSÃO: Jornalista
HISTÓRICO: Também envolvido no assassinato do ex-chefe de gabinete da SMTU, Paulo Roberto Paiva, há cinco anos.




Foto Ag. O Dia
FLÁVIO FIOCCHI

ÁREA DE ATUAÇÃO: Favela do Catiri, em Bangu
PATENTE: Cabo bombeiro
HISTÓRICO: Também foi preso há cinco anos pelo mesmo homicídio que o irmão. A morte teria ocorrido porque o motorista de lotada não queria mais pagar propina para circular na região




Amigos aproveitam a mordomia

Policial militar tem rotina de passeios de lancha e carrões. Inspetor desfruta de mansão milionária

Foto Ag. O Dia
Rio - Se os homens investigados por ligação com as milícias no Rio de Janeiro prosperam na vida, os amigos que vivem ao redor do poder não têm do que reclamar. Dois bons exemplos do quanto é proveitosa essa proximidade são os policiais Geiso Pereira Turques (PM licenciado e vereador em São Gonçalo) e Fábio de Menezes Leão, o Fabinho, um dos homens fortes do ex-chefe da Polícia Civil Álvaro Lins.

Figura da noite na Favela Rio das Pedras, em Jacarepaguá, Geiso tem à disposição três carros possantes (dois adquiridos em leasing e um em seu nome), costuma sempre andar de lancha na baía de Angra dos Reis e comprou no início do ano passado uma mansão no condomínio Bosque dos Esquilos, em Jacarepaguá, avaliada hoje em R$ 500 mil.

A compra da mansão foi fechada em janeiro de 2007, com uma entrada de R$ 200 mil e 48 parcelas mensais de R$ 6.140,00, conforme consta na escritura do cartório 9ª Registro Geral de Imóveis. A casa, de dois andares e 199 metros quadrados construídos, tem piscina e está localizada em um condomínio cercado pelo verde que faz jus ao nome: um autêntico bosque, com micos e pássaros. Na porta da residência ficam estacionados dois de seus veículos.

O nome do sargento Geiso Turques está entre os investigados pela Secretaria de Segurança por envolvimento com as milícias. Ele seria ligado aos milicianos da Favela de Rio das Pedras, onde está localizada uma de suas empresas, a casa de shows Castelo das Pedras. O policial, que já sofreu um atentado e foi baleado no rosto, tem rendimento anual de R$ 15 mil e respondeu a seis processos (dois deles ainda em andamento) nas justiças Comum e Militar.

Já o inspetor Fábio Leão faz parte do seleto grupo dos que vivem em imóveis avaliados em mais de R$ 1 milhão. Sua casa, em Jacarepaguá, onde foi preso pela Polícia Federal, é cinematográfica: tem 450 metros quadrados de área construída e outro tanto de área verde, onde há um campo de futebol iluminado com refletores e uma horta. A mansão dispõe ainda de piscina e hidromassagem e está localizada num condomínio com guaritas e seguranças.

O imóvel aparece no 9º RGI como propriedade de Paulo César Ribeiro Teixeira e consta uma promessa de compra e venda em nome de Fátima Cristina de Barros Dantas, feita em março de 2005, no 23º Ofício de Notas. Mas, de acordo com as investigações da Polícia Federal, a casa é a residência oficial de Fabinho.

O policial civil ganha em torno de R$ 5 mil por mês (juntando o salário de policial e outros rendimentos) e é citado como um dos homens ligados à quadrilha que domina a Favela Gardênia Azul, em Jacarepaguá. Na região, Fabinho é dono de imóveis, conforme a pesquisa no 5º Ofício do Registro de Distribuição.

FORÇA AO CHEFE

Uma prova da ligação de Fábio de Menezes Leão com as milícias da Zona Oeste aparece na gravação telefônica feita pela Polícia Federal durante as investigações sobre o envolvimento de agentes do Rio com o crime organizado. Fabinho aparece conversando com outro policial e avisa que abriu as portas das comunidades para o então candidato a deputado estadual Álvaro Lins fazer campanha política.

O inspetor Fabinho fala com um dos organizadores da campanha de Lins para procurar o cabo da PM Jorsan Machado de Oliveira. “Os caras lá são o Jorsan e o Serginho. Eles estão com a gente na campanha, são eles que puxam o bonde”, avisa Fabinho, que cumpre pena na Penitenciária Bangu 8.

Em outra gravação, o policial é cobrado por um amigo, comerciante na Gardênia Azul, a intervir junto à cúpula da milícia na favela e reduzir o valor da “proteção” (segurança). Ele, então, ensina o amigo a enrolar, empurrar o problema sem pagar o adicional.

INVESTIGADOS

Foto Ag. O Dia
FABINHO


ÁREA DE ATUAÇÃO: Gardênia Azul
POSTO: Inspetor de polícia
HISTÓRICO: Um dos integrantes do grupo dos ‘inhos’, é acusado de ligação com a máfia dos caça-níqueis. Está preso aguardando julgamento.



Foto Ag. O Dia
GEISO TURQUES

ÁREA DE ATUAÇÃO: Rio das Pedras
PATENTE: Sargento da PM
HISTÓRICO: Foi réu em seis processos na Justiça, um deles referente a tortura e outro por homicídio. Dois ainda estão em andamento no Tribunal de Justiça e na Auditoria Militar.


Fonte: O Dia

sábado, 5 de julho de 2008

MILÍCIAS TERÃO PRISÃO PREVENTIVA DE 40 MEMBROS




Milícia: 40 paramilitares na mira


Delegado de Campo Grande diz que vai pedir prisão de grupo que atua na região até o fim do mês


O delegado da 35ª DP (Campo Grande), Marcus Neves, disse ontem que até o fim do mês vai pedir à Justiça a prisão de pelo menos 40 milicianos que agem na região. Os paramilitares já estão identificados e seriam integrantes da chamada Liga da Justiça, comandada, segundo investigações, pelo vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho (PMDB), e seu irmão, o deputado estadual Natalino José Guimarães (DEM). Jerominho, que está preso, e Natalino negam as acusações, alegando ser vítimas de perseguição.


“Outros 20 policiais civis e militares também deverão responder por corrupção. Eles recebem dinheiro para acobertar as ações dos milicianos”, afirmou Neves. De acordo com o delegado, a Polícia Federal e a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) ajudam a identificar as formas de atuação dos suspeitos.


Para Neves, a certeza da impunidade é tanta entre os membros da Liga da Justiça que vários integrantes moram numa mesma vila, apelidada de Vila da Milícia, no Centro de Campo Grande. “A fama de exterminar cruelmente quem se opõe ou denuncia os paramilitares impõe o terror e o medo entre os moradores”, comentou o delegado.


Na quinta-feira, em depoimento à CPI das Milícias da Alerj, Neves revelou que a Liga da Justiça arrecada cerca de R$ 2 milhões por mês com ‘segurança’, venda de gás, extorsão a topiqueiros e controle de transporte alternativo. O bando seria responsável pela execução de 98 pessoas, conforme levantamento do Serviço Reservado do Regimento de Polícia Montada (RPMont). Boa parte das vítimas seria ligada a grupos rivais, principalmente os que eram liderados pelo ex-policial civil Josimar José da Silva, o Mazinho, que já sobreviveu a quatro atentados, e pelo sargento da PM Francisco César Silva Oliveira, o Chico Bala, assassinado ano passado.


Fonte O Dia

segunda-feira, 30 de junho de 2008

POLÍTICA DE SEGURANÇA ASSASSINA MATA MAIS UMA CRIANÇA NO RIO


Morre criança atingida por bala na cabeça durante tiroteio na Favela do Muquiço


Morreu na manhã desta segunda-feira o menino Ramón Fernandes Dominguez, de 6 anos, atingido por uma bala na cabeça durante um tiroteio entre policiais do Grupamento de Ações Táticas Especiais do batalhão de Rocha Miranda e traficantes na Favela do Muquiço, em Guadalupe, no último sábado. Ramon morreu no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital Central da Polícia Militar (HCPM), no Estácio.

O corpo do menino já está no Instituto Médico-Legal (IML), no Centro do Rio e será enterrado às 13h desta terça-feira no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na Zona Oeste do Rio. O caso está sendo investigado pela 30ª DP (Marechal Hermes).

No domingo, o garoto foi tranferido do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, para o Hospital Central da Polícia Militar, no Estácio, por ser parente de um policial militar. Ele chegou a passar por uma cirurgia no Getúlio Vargas

Ramon brincava na porta de casa quando foi baleado. Revoltados, os moradores da comunidade fizeram manifestação na Avenida Brasil por cerca de uma hora e meia. Eles interromperam o trânsito por duas vezes na pista lateral, em frente à favela, mas foram contidos por policiais do batalhão de Vias EspeciaiS.


Fonte O Globo online.

O USO DA ARMA PELO POLICIAL E A MORTE NA PORTA DA BOATE


O uso da arma pelo policial e a morte na porta da boate






Por Milton Corrêa da Costa*

Ainda que a experiência recomende aguardarmos a devida apuração legal dos fatos, na busca e obtenção das provas e sobre a dinâmica e circunstâncias que envolveram determinado crime, cabendo ao Ministério Público e a Justiça se pronunciarem posteriormente, o lamentável episódio, que redundou na trágica morte do jovem Daniel Duque, de apenas 18 anos, na madrugada de 28/06, na porta de uma boate, em Ipanema, na Zona Sul do Rio, requer reflexões e precisa produzir ensinamentos.

" Um policial, estando ou não em missão direta de preservação da ordem pública, só pode fazer uso de sua arma na legítima defesa de sua vida e da dos concidadãos "

Em primeiro lugar, um policial, estando ou não em missão direta de preservação da ordem pública, só pode fazer uso de sua arma na legítima defesa de sua vida e da dos concidadãos, devidamente caracterizada a situação de perigo real e risco iminente. Em situação de agressão física (luta corporal) entre partes, deve procurar intervir de forma seletiva, com técnica e equilíbrio, no emprego progressivo da força, única e exclusivamente para por fim ou neutralizar a ação dos oponentes e conduzi-los ou providenciar que sejam conduzidas as partes à Delegacia Policial.

A missão secundária de proteção pessoal ou de segurança privada, seja a quem for que se preste os serviços, não afasta nunca o agente da autoridade de sua missão principal que lhe reserva, primeiramente, a defesa da sociedade e a de todos os concidadãos, independentemente de cor, raça, credo, sexo, sexualidade, religião e condição social. Todos são iguais perante a lei ou pelo menos, no país do "sabe com quem está falando", deveriam ser. A igualdade perante a lei, cujo policial deve sempre observar, está prevista na Constituição (cidadã) de 1988. O policial é o primeiro defensor da sociedade e como tal deve agir. Alguns deveriam pelo menos aprender tal postulado.

Excesso no uso da força invariavelmente redunda em tragédia. Há meios de atuação técnica e equilibrada em casos semelhantes, onde o uso da arma, de modo seletivo e progressivo, só pode ser justificado de forma dissuasiva, tantas vezes quantas necessárias, visando desencorajar oponentes, sem que se precise alvejar órgãos vitais de um ser humano, como no caso da morte do jovem Daniel Duque, atingido a curta distância na região do tórax. Há informações, a serem confirmadas no laudo cadavérico, de que Daniel tenha sido atingido pelas costas, o que pode determinar que o tiro foi disparado de forma inconseqüente para um profissional de polícia.. Ainda que a vítima fatal pudesse estar se comportando de forma agressiva - a investigação saberá dizer- o uso da força para contê-la deveria ser o necessário e na medida necessária para repelir a agressão. Nada mais do que isso.

Vale lembrar que o policial havia sido designado em missão de dar proteção, de forma extensiva a familiares, a uma promotora de justiça, em razão da possibilidade de represálias de narcotraficantes pela atuação da referida autoridade como fiscal da lei, tendo inclusive sofrido esta ameaças de morte. A missão do agente não era, portanto, tomar partido daquele que protegia em desavenças pessoais que acabaram, naquela madrugada, redundando em confronto corporal na via pública. Deveria ter o discernimento de separar as duas coisas, cabendo-lhe no episódio, como defensor da sociedade, ter atuado pura e simplesmente para restaurar a ordem no momento. A conduta irregular do policial em questão, no uso indevido e excessivo da força, na agressão letal ao jovem, fica caracterizada inclusive pela fuga apressada do local, quando ali deveria permanecer e acionar imediatamente o socorro policial. Quando um policial age conscientemente, através dos meios moderados, para restaurar a ordem pública, nada tem a temer.

Há que se ressaltar, e é bem verdade, que na guerra do Rio, de ambiência de extrema violência, muitas vezes não resta ao policial outra alternativa senão matar para não morrer. O caso presente não se caracterizava de confronto bélico. É preciso entender que a profissão policial é diferenciada, um verdadeiro sacerdócio, que lida com os maiores bens tutelados, vida e liberdade, numa linha de atuação às vezes muito tênue, mas que o profissional de polícia tem que saber discernir. Não cabia o uso da força máxima naquele momento, na porta daquela casa noturna. Quem atira a queima roupa no tórax sabe que pode produzir resultado extremamente danoso. A arma que a sociedade confere ao policial, lhe dando direito ao porte, não pode voltar-se contra a própria sociedade.

Aos pais e responsáveis, entre os quais me incluo, fica também o ensinamento de que no mundo atual, mais do que nunca, precisamos estar atentos sobre o comportamento de nossos filhos também da porta pra fora, ainda que os jovens, em período de formação social e de auto-afirmação, tenham por característica a impulsividade e o desafio ao perigo. Se associada a imaturidade com um pouco de bebida alcoólica e energético, mistura explosiva hoje muito em moda entre a juventude, as conseqüências as vezes não são das melhores, vide por exemplo as tragédias no trânsito brasileiro nas madrugadas dos finais de semana. Que o lamentável episódio, que envolveu a perda de mais uma vida preciosa, traga pelo menos reflexões e ensinamentos para todos nós.


*Milton Corrêa da Costa é tenente-coronel da PM do Rio e estudioso em violência urbana


Fonte O Globo online

domingo, 29 de junho de 2008

MILÍCIAS CHEGAM À ZONA SUL


Disputa entre grupos clandestinos de segurança preocupa moradores da Zona Sul



Grupos concorrentes de vigilância ilegal já começaram a disputar territórios na Zona Sul, a área mais nobre e bem policiada da cidade. Em alguns casos, chegam a promover roubos e furtos nas áreas rivais que pretendem controlar, diz Frederico Câmara, presidente do sindicato de empresas regularizadas de segurança privada, o Sindesp.
" A milícia é um agravamento desse tipo de segurança, desse bico do agente do Estado onde existe vácuo de poder "

A acelerada expansão da atividade clandestina, com a cobrança de colaboração em dinheiro por cartas, vem deixando moradores amedrontados. Na 13ª DP (Copacabana) e na 10ª DP (Botafogo) há registros de denúncias de práticas que lembram a atuação de milícias. Autoridades e especialistas alertam que, se o problema não for enfrentado, a segurança ilegal poderá reproduzir, na Zona Sul, os mesmos métodos que originaram as milícias na Zona Oeste.
- A milícia é um agravamento desse tipo de segurança, desse bico do agente do Estado onde existe vácuo de poder. Parte das milícias surgiu dessa forma: eu faço o bico, convivo onde moro com criminosos, com a violência, assumo a segurança. Agora começou também a se desvirtuar, a se expandir - diz o titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE), delegado Cláudio Ferraz.
O Sindesp estima o crescimento da atividade ilegal de vigilância em 22% ao ano - superior aos 18% das firmas legalizadas. Só na Zona Sul, segundo o presidente da entidade, a segurança clandestina já fatura igual às firmas legalizadas: cerca de R$ 6 milhões por mês. Os ilegais, de acordo com Câmara, tanto podem usar coletes com a palavra "apoio" como circular sem qualquer identificação.
" Primeiro seguranças clandestinos disputaram espaço com firmas legalizadas. Agora já há grupos ilegais diferentes buscando as mesmas áreas "

- Primeiro seguranças clandestinos disputaram espaço com firmas legalizadas. Agora já há grupos ilegais diferentes buscando as mesmas áreas. Recebemos informações de sinistros relacionados a seguranças não legalizados querendo boicotar o serviço de outros - afirma Câmara.
Moradores de Copacabana já constataram a disputa por territórios. A Associação de Moradores e Amigos dos Postos 2, 3, 4 e 5 registrou queixa na 13ª DP reclamando da atividade de seguranças clandestinos no entorno da Rua Cinco de Julho. Segundo diretores da associação, a vigilância ilegal estaria aumentando sua área de influência para lucrar com o serviço prestado.
- Calcule o valor arrecadado por rua. Isso explica por que os seguranças estão se expandindo e disputando espaço - disse uma moradora de Copacabana, que pediu para não ser identificada.

SE FAZEM ISSO COM MINISTRO DO STF, IMAGINE COM O POVO...


Carlos Velloso envia mensagem ao presidente Gilmar Mendes sobre depoimento dado à PF



O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, recebeu na noite de ontem (27) uma mensagem do ministro aposentado desta Corte, Carlos Velloso, na qual detalha as circunstâncias em que se deu sua intimação para prestar depoimento como testemunha à Polícia Federal, na tarde de ontem, em Belo Horizonte (MG).

Carlos Velloso foi ouvido pelo delegado Mário Alexandre Veloso Aguiar, que coordena o inquérito da Operação Pasárgada, que investiga supostos desvios de recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).



Leia a íntegra da mensagem:

“Não pude aceitar os termos da intimação que me enviou a Polícia Federal, deixada em meu apartamento e recebida ontem à noite, quando cheguei a Belo Horizonte para participar do casamento de um sobrinho. O mandado de intimação, datado de 25 do corrente, marcava meu depoimento para o dia 27, sexta-feira, às 9 horas da manhã, na sede da Superintendência em Minas Gerais, com a advertência de que o meu não comparecimento, sem motivo justificado, poderia ser passível de condução coercitiva, caracterizando ocorrência de delitos de resistência (art. 329), desobediência (art. 330) e desacato (art. 331), todos do Código Penal. Não é desse modo, evidentemente, que a Polícia deve se dirigir a um ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal e ex-Presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Comuniquei-me com o Presidente do STF, Ministro Gilmar Mendes, para dar-lhe ciência de que não me disporia, em defesa das Instituições que presidi, mesmo porque a lei me concede a prerrogativa de marcar dia, hora e local para o depoimento, a atender a tal e ameaçadora convocação. As medidas encetadas pelo Presidente da Corte Suprema foram eficientes, pois recebi, às 8 horas de hoje, comunicação do delegado, que polidamente se justificava e me indagava se pretendia receber um ofício marcando dia, hora e local por mim designados.

Decidi que o meu depoimento seria dado ainda hoje, no horário de 16 horas, mas no escritório do Centro Jurídico Brasileiro, em Belo Horizonte, que freqüento para receber pessoas e, muitas vezes, emitir pareceres.

Órgão expressivo de comunicação radiofônica divulgou, na parte da manhã, a notícia falsa de que eu havia concedido medida liminar a ex-prefeito envolvido e preso na chamada operação ‘Pasárgada’. Quando essa liminar foi concedida, em fins de 2007, eu me encontrava aposentado desde 19 de janeiro de 2006. Vejam como tais informações são maliciosas e podem tisnar a imagem das pessoas. Estou demonstrando que essa notícia não é verdadeira, pois não poderia conceder liminar um magistrado que se encontrava aposentado. Por que mandaram essa notícia à imprensa? Eu havia combinado com o delegado prestar meu depoimento, com os esclarecimentos necessários, na tarde de hoje. Por que alguém se adiantou? É incompreensível a razão dessa divulgação incorreta.

Respondo à indagação de um repórter, se estaria existindo uma retaliação contra meus últimos pronunciamentos sobre prisões espetaculares de advogados – presos e algemados – e de outros cidadãos suspeitos, aprisionados por cinco dias para deporem, prorrogáveis por outros cinco dias, nas operações policiais que recebem nomes, aparatos e convocações de centenas de agentes. Tenho verberado contra as invasões de escritórios de advocacia, sugerindo inclusive à Ordem dos Advogados do Brasil que processe as autoridades que se conduzirem com abuso de poder. Não posso admitir que, por estar defendendo prerrogativas dos advogados, eu seja alvo de retaliações. Não as temo. Não as aceito.

Tenho quarenta anos de exercício, límpido e digno, na magistratura brasileira, e cinqüenta e um anos de serviço público. Voltei ao exercício da advocacia para continuar a servir ao Direito e à Justiça.

Respondo a outra indagação sobre qual atitude adotarei a partir de agora. Vou pensar como agir. Claro que não vou deixar esse episódio passar em branco, pois se trata de uma tentativa de arranhar a minha imagem, construída, como disse, durante longos anos. A dignidade é o exemplo que deixarei para a minha família e os meus amigos.

O tema principal foi mesmo a questão do prefeito de Timóteo. Esclareci que fui procurado por um grupo de pessoas – dentre as quais se incluía o prefeito – levado ao meu escritório pelo Deputado Virgílio Guimarães, com quem mantenho relações de amizade e de respeito. Após ouvir a exposição feita pelos advogados, disse a eles que não poderia aceitar o patrocínio da causa, porque mantenho quarentena de três anos a partir da aposentadoria no TSE. Disse-lhes que em Brasília há uma constelação de advogados especializados na área eleitoral, como os advogados Fernando Neves, Henrique Neves, Torquato Jardim e Sérgio Banhos, dentre outros, que poderiam cuidar do caso. Eles se despediram e não tive notícia do caso.

Fiz questão de responder às perguntas que me foram formuladas, prestando meus esclarecimentos à Polícia Federal que poderá divulgá-los amplamente".


Fonte: STF

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A PROVIDÊNCIA NÃO DIVINA E O IMPONDERÁVEL PODERIO DA INSANIDADE MILITARIZADA


O IMPENSÁVEL



Maria Rita Kehl*



O INIMAGINÁVEL acontece. Supera nossa capacidade de prever o pior. Conduz-nos até a borda do real e nos abandona ali, pasmos, incapazes de representar mentalmente o atroz. O pior pesadelo do escritor Primo Levi, em Auschwitz, era voltar para casa e não encontrar quem acreditasse no horror do que ele tinha a contar.

Acreditar no horror exige imaginá-lo de perto e arriscar alguma identificação com as vítimas, mesmo quando distantes de nós. Penso no assassinato dos cidadãos cariocas David Florêncio da Silva, Wellington Gonzaga Costa e Marcos Paulo da Silva por 11 membros do Exército encarregados de proteger os moradores do morro da Providência. Assassinados por militares, sim, pois não há diferença entre executar os rapazes e entregá-los à sanha dos traficantes do morro rival. A notícia é tão atroz que o leitor talvez tenha se inclinado a deixar o jornal e pensar em outra coisa.

Não por insensibilidade ou indiferença, quero crer, mas pela distância social que nos separa deles, abandonamos mentalmente os meninos mortos à dor de seus parentes. Abandonamos os familiares que denunciaram o crime às possíveis represálias de outros “defensores da honra da instituição”. Desistimos de nossa indignação sob o efeito moral das bombas que acolheram o protesto dos moradores do Providência.

Nós, público-alvo do noticiário de jornais e TV, que tanto nos envolvemos com os assassinatos dos “nossos”, viramos a página diante da morte sob tortura de mais três rapazes negros, moradores dos morros do Rio de Janeiro. É claro que esperamos que a justiça seja feita. Mas guardamos distância de um caso que jamais aconteceria com um de nós, com nossos filhos, com os filhos dos nossos amigos.

O absurdo é uma das máscaras do mal: tentemos enfrentá-lo. Façamos o exercício de imaginar o absurdo de um crime que parece ter acontecido em outro universo. Como assim, demorar mais do que cinco minutos para esclarecer a confusão entre um celular e uma arma? E por que a prisão por desacato à autoridade? Os rapazes reclamaram, protestaram, exigiram respeito -ou o quê? Não pode ter sido grave, já que o superior do tenente Ghidetti liberou os acusados.

Mas o caso ainda não estava encerrado? O tenente, que não se vexa quando o Exército tem que negociar a “paz” no morro com os traficantes, se sentiu humilhado por ter sido desautorizado diante de três negros, mais pés-de-chinelo que ele? Como assim, obrigá-los a voltar para o camburão -até o morro da Mineira? Entregues nas mãos dos bandidos da ADA em plena luz do dia, como um “presentinho” para eles se divertirem? Era para ser “só uma surra”? Como assim?

Imaginaram o desamparo, o desespero, o terror? Não consigo ir adiante e imaginar a longa cena de tortura que conduziu à morte dos rapazes. Mas imagino a mãe que viu seu filho ensangüentado na delegacia e não teve mais notícias entre sábado e segunda-feira. E que depois reconheceu o corpo desfigurado, encontrado no lixão de Gramacho. Imagino a cena que ela nunca mais conseguirá deixar de imaginar: as últimas horas de vida de seu menino, o desamparo, o pânico, a dor. “Onde o filho chora e a mãe não escuta” era como chamávamos as dependências do Doi-Codi onde tantos morreram nas mãos de torturadores.

Ainda falta imaginar a promiscuidade entre o tenente, seus subordinados e os assassinos do morro da Mineira: o desacato à autoridade é crime sujeito a pena de morte e a tortura de inocentes é objeto de cumplicidade entre traficantes e militares? Claro, os traficantes serão mortos logo pelo trabalho sujo do Bope. Se outros cidadãos morrerem por acidente, azar; são as vicissitudes da vida na favela

Quando membros corruptos da PM carioca mataram a esmo 30 cidadãos em Queimados, houve um pequeno protesto em Nova Iguaçu. Cem pessoas nas ruas, familiares dos mortos, nada mais. Nenhum grupo pela paz foi até lá. Nenhuma Viva Rio reuniu gente de branco a marchar em Ipanema. Ninguém gritou “basta!” na zona sul. Não é a mesma cidade, o mesmo país. Não nos identificamos com os absurdos que acontecem com eles.

Não haverá um freio espontâneo para a escalada da truculência da Polícia e do tráfico, nem para o franco conluio entre ambos (e, agora, membros do Exército) que vitima, sobretudo, cidadãos inocentes. Não haverá solução enquanto a outra parte da sociedade, a chamada zona sul -do Rio, de São Paulo, de Brasília e do resto do país-, não se posicionar radicalmente contra essa espécie de política de extermínio não oficial, mas consentida, a que assistimos incrédulos, dos negros pobres do Rio.

*MARIA RITA KEHL é psicanalista e ensaísta, autora do livro “Sobre Ética e Psicanálise” (Cia. das Letras, 2002).

quinta-feira, 26 de junho de 2008

NO COVIL, COM O LOBO

Testemunhas demonstram medo na CPI das Milícias
Em depoimento na Alerj, pai e filho negaram ter conhecimento de milícias na Zona Oeste.

Deputado sob suspeita participa da audiência e não segue o regimento interno.

Mesmo diante das negativas das testemunhas, que disseram não saber lidar com explosivo, e do medo que os dois demonstraram, o presidente da CPI das Milícias da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), deputado Marcelo Freixo, considerou que os depoimentos prestados pelo pescador Antônio Santos Salustiano e seu filho, o estudante Ocian Gomes Ranquine Salustiano, foram importantes porque ajudam a entender o funcionamento das milícias.

Durante a audiência, o deputado Natalino - suspeito, junto com o irmão, o vereador Jerominho, de chefiar um grupo de milicianos conhecido como Liga da Justiça, na Zona Oeste - chegou à sessão e se sentou de frente para o estudante. Contrariando o regimento, Natalino, mesmo sem se ter membro efetivo da CPI, dirigiu uma pergunta à testemunha Ocian, o primeiro a depor.

Natalino perguntou diretamente ao rapaz se o delegado Marcus Neves teria citado o nome dele e de Jerominho, proferido palavras de baixo calão ou citado algo que os prejudicasse. Vacilante até então, o rapaz respondeu com segurança que o delegado tinha dito que "Jerominho e Natalino eram inimigos".

O deputado ainda esboçou uma nova pergunta, mas foi interrompido por Freixo, sob o argumento de que, pelo regimento interno, não poderia se reportar diretamente ao depoente e que se quisesse fazer perguntas deveria encaminhá-las por escrito ao presidente da CPI.

"Isso demonstra que existe perseguição contra mim, desde que denunciou a corrupção na Polinter, em outubro de 2007", comentou Natalino, que se retirou da sala logo após o final do depoimento do estudante.

Só fogos de artifício

Pai e filho afirmaram que só trabalham com fogos de artíficio, não têm conhecimento técnico para fabricar bombas, que são compradas prontas e negaram ter fabricado o explosivo jogado contra a 35ª DP (Campo Grande), no dia 11. Disseram ainda desconhecer qualquer atuação de milícias na Zona Oeste.

A sessão da CPI, que começou às 10h20, foi encerrada ao meio-dia desta quinta-feira (26). Antônio e Ocian estão respondendo em liberdade ao processo pelo atentado à delegacia, depois de passar 15 dias presos na Polinter.

"Foram depoimentos marcados pelo temor, de pessoas que estão respondendo a processo e que estão tentando não se comprometer e buscando a defesa. É importante frisar que não somos defensoria pública nem delegacia", disse Freixo ao final da sessão.

Durante os depoimentos, o deputado frisou que a CPI não quer substituir a polícia, mas que está trabalhando em defesa do estado, procurando investigar, diagnosticar e fazer propostas para resolver o problema. Ele disse que poderá determinar o fechamento das próximas sessões, caso a comissão perceba que os depoentes estejam se sentido constrangidos. A CPI tem 150 dias de prazo para chegar a uma conclusão.

Na próxima quinta-feira (3), a CPI vai ouvir o delegado da 35ª DP (Campo Grande), Marcus Neves e os inspetores Lício Modesto Ferreira e Marco Antônio Barbosa, que prenderam o pescador e seu filho. Os policiais teriam ouvido informalmente os suspeitos afirmando que eles haviam fabricado a bomba a pedido do deputado Natalino, suspeito de chefiar um grupo de milícia na Zona Oeste, conhecido como Liga da Justiça.


Material encontrado é sobra da festa de Corpus Christi

Em depoimento aos deputados, o pescador contou que costuma fazer espetáculos pirotécnicos, com fogos de artifícios, para igrejas de Cosmos, na Zona Oeste, há mais de dez anos. Ele contou oque o material recolhido pela polícia em sua casa - 85 unidades de fogos treme-treme, 47 unidades de fogos buscapé, 15 caixas de morteiros de 12 tiros, 30 unidades de fogos de efeito pirotécnico, material para colorir os fogos e nove estopins - era sobra da festa de Corpus Christi. Os fogos, segundo ele, estavam reservados para a festa da igreja de Santa Sofia, em setembro.

O pescador negou ter conhecimento técnico para a fabricação de bombas e disse que costumava comprar os fogos prontos e se encarregava apenas de armar o espetáculo pirotécnico. Ele contou que ele e o filho foram detidos em casa e que foram reconhecidos por dois homens encapuzados. Quando estava sendo levado para a delegacia ouviu os policiais comentando: "Os caras, pelo jeito, não têm nada a ver com o negócio".

Mas, ao chegar à delegacia, o pescador contou que o delegado Marcus Neves foi logo dizendo: "Natalino e Jerominho são inimigos. Confessem logo que fizeram a bomba", disse o pescador, acrescentando que respondeu dizendo que só falaria em juízo.

Disque-Milícia

Na próxima segunda-feira (30), começa a funcionar o serviço de Disque-Milícia da Alerj. As denúncias poderão ser feitas pelo telefone 0800-2820376, de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h.


Saiba mais:


Fonte G1

O INFERNO É OBRA NOSSA. O DIABO AGRADECE.




CPI Carcerária pede o indiciamento de 31 pessoas




Domingos Dutra fez a leitura do seu parecer, que será votado nesta quarta-feira.





O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário, apresentado nesta terça-feira (24) pelo deputado Domingos Dutra (PT-MA), propõe o indiciamento de 31 pessoas - o maior número delas está relacionado à prisão de uma menor em cela masculina em Abaetetuba (PA). Dutra pede indiciamentos de nove pessoas ligadas ao caso, incluindo a juíza, a promotora, a defensora pública e os delegados responsáveis pela carceragem. O relator ainda poderá fazer mudanças em seu texto na noite desta terça, e a votação só ocorrerá nesta quarta-feira (25).

Inicialmente, estavam previstos 32 nomes na lista de possíveis indiciados, mas o relator retirou um nome do grupo do caso de Abaetetuba.

Sete pedidos de indiciamento são de casos no Mato Grosso do Sul; 5 no Rio Grande do Sul; 2 na Bahia; 2 no Piauí e 2 em São Paulo. O relatório recomenda a denúncia dos 27 estados do País e o indiciamento de agentes penitenciários, delegados, promotores, juízes e diretores de presídios por irregularidades e maus-tratos. "É mais produtivo dirigir as ações para os estados - porque competem a eles, institucionalmente, o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública e o Poder Executivo - do que centralizá-las apenas em casos específicos, pois a CPI verificou a situação dos presídios por amostragem", explicou.

De qualquer maneira, situações específicas de negligência e maus-tratos são citadas, como episódios do Mato Grosso do Sul, onde presos ficavam ao lado de porcos, e casos de tortura no Piauí.

Dutra fez uma leitura sucinta de seu parecer, que tem mais de 500 páginas, três DVDs e um arquivo fotográfico. O relatório será votado nesta quarta, às 14 horas, no plenário 13. Até esse horário, os deputados poderão apresentar destaques ao texto.


Mais rigor

Segundo o relatório, a CPI pode encaminhar representações ao Conselho Nacional do Ministério Público para avaliar a conduta dos promotores; e ao Conselho Nacional de Justiça para apurar as responsabilidades dos juízes de execução penal.

"A Lei de Execução Penal (Lei 77210/84) prevê que o juiz, mensalmente, tem de fazer uma inspeção e um relatório, adotar providências e pedir punição para aqueles que estão descumprindo a lei", lembrou o parlamentar. Por isso, ele informou que prepara um projeto de lei para punir o juiz ou promotor que descumprir as determinações.

O texto vai sugerir metas a serem cumpridas pelos governos estaduais (responsáveis pelo presídios), pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública e pelo Judiciário, em especial os juizados de execuções penais.

A CPI também sugere a indenização das famílias de presos mortos nas carceragens. No último ano, ocorreram mil mortes no sistema prisional.

O relatório pede aos Ministérios Públicos dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo que apurem a participação do crime organizado na gestão das penitenciárias. Segundo o relator, a conivência de autoridades com os criminosos ficou clara nas investigações da CPI: "Em diversos casos, as pessoas são encarceradas de acordo com a facção do crime organizado a que pertençam."


Vídeo mostra cenas chocantes de presídios

Antes de apresentar um resumo de seu relatório, Dutra exibiu um vídeo de 25 minutos feito durante as diligências da CPI em 62 estabelecimentos prisionais. São cenas chocantes, que mostram as condições degradantes de presos em diferentes cadeias do país, superlotação, maus tratos e imagens de presos feridos por tortura.

Foram apresentadas imagens de uma prisão, em Mato Grosso do Sul, onde presos convivem ao lado de porcos. Em outra imagem, a locutora relata que as privadas só podem ser esvaziadas com água uma vez ao dia.

O vídeo conta que a CPI enfrentou resistência por parte de alguns diretores de presídios e delegados e flagrou detentos presos em uma cela sem qualquer iluminação no Piauí. Durante o dia, o responsável disse que a cela estava passando por reformas ( não havia presos), à noite, em visita surpresa, os deputados encontraram vários presos na cela escura e obrigaram a retirada. Os dois responsáveis foram indiciados.

Na Bahia, diz o vídeo, a superlotação é a maior do país, com 15 mil presos ocupando 5 mil vagas. Em Minas Gerais, presos com coceiras foram medicados com creolina. No Ceará, os detentos recebem seu almoço em sacos plásticos, sem talheres. Além disso, em várias penitenciárias os presos não dormem em colchões, mas em redes que são amontoadas.

" Nós estamos pagando um valor absurdo e a culpa não é nem do preso, nem do carcereiro e nem de Jesus Cristo. A culpa é das autoridades brasileiras que sempre trataram o preso com descaso, como lixos humanos "

Dutra defendeu ainda a utilização de penas alternativas que, segundo ele, são eficientes e mais baratas, e a melhoria nos serviços de defensoria pública, para garantir assistência jurídica aos presos. De acordo com o relator, estima-se que o custo médio de um preso hoje no Brasil seja de R$ 1.300 a R$1.600 por mês. A criação de uma vaga no sistema carcerário tem o custo de R$ 22 mil.

- Nós estamos pagando um valor absurdo e a culpa não é nem do preso, nem do carcereiro e nem de Jesus Cristo. A culpa é das autoridades brasileiras que sempre trataram o preso com descaso, como lixos humanos - afirmou o relator.

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Fonte: Câmara dos Deputados.

terça-feira, 24 de junho de 2008

NÃO ESQUEÇA QUE UM DIA O DIABO SAI...




Sistema carcerário é um inferno, diz relator de CPI





Domingos Dutra (PT-MA) apresenta relatório na tarde desta terça-feira (24).

Ele discute duas opções de texto com os membros da comissão.

O relator da CPI do Sistema Carcerário, Domingos Dutra (PT-MA), classificou como um “inferno” o sistema carcerário no Brasil. Dutra apresenta na tarde desta terça-feira (24) seu relatório, mas, durante a manhã, discute com os membros da CPI duas opções para o encerramento da comissão. Em uma delas ele pede o indiciamento de mais de 40 pessoas, enquanto na outra apenas existe a responsabilização dos estados.

Para Dutra, as investigações da CPI constataram que o sistema está “apodrecido” e “falido”. “Nossa conclusão é de que não existe um sistema carcerário, mas sim um inferno carcerário, com os presídios em frangalhos”.

O relator apontou a falta de trabalho e estudo para os presos como a grande causa dos altos índices de reincidência. “Não é por acaso que ocorre a reincidência, 80% dos presos não trabalham e 81% não estudam e a reincidência é de 80%”.

Na visão de Dutra, além da falta de recursos, há sérios problemas de gestão. Ele destacou a falta de um processo nacional de gestão dos presídios. “Cada diretor comanda a prisão como bem entende”.

Para solucionar o problema, o relator defende a maior aplicação de penas alternativas, a garantia de trabalho e educação para os presos e colocar para fora dos presídios os condenados que já cumpriram suas penas. Dutra propõe ainda o fim do contingenciamento dos recursos destinados à segurança pela União, mas ressalta que “só dinheiro não vai resolver”.

Relatório

O texto final que será lido nesta tarde na CPI ainda é uma incógnita. Recebendo muitas pressões, Dutra preparou dois relatórios. O impasse diz respeito ao indiciamento de autoridades por falhas no sistema.

Na primeira proposta do relator, é pedido o indiciamento de mais de 40 pessoas, entre secretários de estado, diretores de presídios, juízes, entre outros. Só no caso da menina presa com homens no estado do Pará, o relator quer indiciar dez pessoas.

A segunda alternativa é apenas responsabilizar os estados, mas apresentando a eles medidas a serem tomadas dentro de prazos que seriam fiscalizados pela CPI.

Os deputados que compõem a CPI estão reunidos em sessão fechada para debater o relatório, mas não há garantia de acordo. “Pode ser que eles não concordem com nenhuma proposta, aí vamos ter que resolver no voto”, afirmou o relator.

domingo, 22 de junho de 2008

MAIS UMA CHACINA EM DUQUE DE CAXIAS, ESTADO DO RIO


Sobe para sete número de vítimas de chacina na Baixada Fluminense

Polícia fornece os nomes das pessoas mortas em bar de Duque de Caxias.

Ocorrido nesta madrugada, crime também deixou sete feridos.

Aumentou para sete o número de mortos da chacina em Duque de Caxias. Marcelo Santos Barreto, de 37 anos, que havia sido levado para o Hospital de Saracuruna não resistiu aos ferimentos e morreu na manhã deste domingo.

Outras seis foram assassinados a tiros por homens encapuzados num bar em Caxias. Segundo testemunhas, os assassinos chegaram ao local de carro e atiraram num grupo que estava bebendo cerveja num bar da Rua Réia, no Parque Fluminense. Entre os mortos está o sargento do 5º BPM (Saúde) Adelson Soares dos Santos, 41, que seria o alvo principal dos encapuzados. Os outros homens tentaram fugir mas foram perseguidos e mortos na rua pelos bandidos. Um deles chegou a se afastar cerca de 100 metros do bar antes de ser atingido. O crime teria ocorrido por volta das 23h deste sábado.

Entre os mortos, parentes reconheceram no local o garçom Leonardo Batista Pinto, 26 anos, que trabalhava num motel da Avenida Washington Luiz e teria parado no bar para uma cerveja antes de encontrar a namorada, com quem havia combinado de ir a uma festa. Alberto Santos Barreto, 22; Anderson da Costa Melo, 26; e Tiago Batista, 21, completam a lista.

Entre os feridos estão: Wanderson Charles Gomes da Silva, 34; Marcus Aurélio Pinto, 32 e Onise Maria Teixeira Ribeiro. Três deles foram levados para o Hospital de Saracuruna. Já Onise Maria foi encaminhada para o Hospital Geral de Duque de Caxias.

O crime reuniu uma grande quantidade de curiosos em torno do bar. O PM morto permaneceu dentro do estabelecimento até a chegada da perícia, que só aconteceu às 2h30. O caso foi registrado na 60ª DP.



Fonte G1 e O Dia

sábado, 21 de junho de 2008

FAVELA ETERNIT PROTESTA CONTRA MILÍCIAS


Moradores queimam três ônibus e um carro contra atuação de milícias na Favela Eternit.



RIO - Moradores da Favela Eternit, em Barros Filho, na Zona Norte, fizeram uma manifestação contra a atuação de milicianos na comunidade na tarde deste sábado. Três ônibus e um carro foram queimados, e o trânsito chegou a ficar interditado na Estrada João Paulo. Apesar disso, ninguém ficou ferido.

De acordo com a polícia, o protesto começou depois da morte de um traficante da comunidade. O milicianos são acusados de serem os autores do crime.

Moradores da região ficaram muito assustados. Um carro teria sido queimado na frente da casa de uma família que estava com uma criança de colo. Eles tiveram que sair pelo telhado para não serem atingidos pelas chamas.

Equipes do Corpo de Bombeiros de Ricardo de Albuquerque, Irajá e Guadalupe estiveram no local para controlar a situação. Foram queimados dois coletivos da empresa Vila Real e outro da Urbanil, além de um Pálio vermelho.


Fonte Globo Online