quarta-feira, 11 de junho de 2008

MILÍCIA AMEAÇA MORADORES DE BOTAFOGO: RIO, DE VOLTA A CHICAGO DOS ANOS 30



Milícia faz ameaça velada a moradores de Botafogo.




Assaltos precederam circular para prédios oferecendo segurança



Renata Victal

A rua Martins Ferreira, em Botafogo, é das que se pode classificar como tranqüila. Ou, pelo menos, era. Praticamente ao lado do 2º Batalhão da Polícia Militar, tem um fluxo pequeno de carros, se comparado à quantidade de veículos que circulam no bairro. No entanto, a última semana de maio foi marcada por uma série de eventos violentos completamente incompatíveis com a rotina dos moradores. Carros arrombados, pedestres abordados com armas na cabeça e assaltados. Mas, o que chamou mesmo atenção foi um comunicado distribuído nos escaninhos dos prédios localizados no terço final da rua, entre os números 15 e 25, com a oferta de um serviço de segurança, ou melhor "apoio alternativo". Pior, o chefe desta equipe seria um sargento da PM, lotado no Batalhão de Choque. Na circular, sem assinatura, homens que fazem a segurança dos prédios dos outros dois terços da rua convocam os síndicos e moradores para uma reunião ­ escolhem dia, horário e local ­ para debater "a segurança no referido trecho". Na circular, o grupo diz que presta serviço há mais de 10 anos, e que já foram feitas várias propostas. Como ninguém se interessou antes, faz uma ameaça velada: "agora vamos ser mais objetivos nesta futura decisão". Indignados com o que classificam como abuso, moradores decidiram buscar ajuda. Eles enviaram uma cópia da circular para a presidente da associação de moradores do bairro, Regina Chiaradia. ­ Foi uma semana atípica, com muitos casos de carros arrombados, assaltados, pedestres roubados ­ lembra Regina. ­ E, na semana seguinte, ofereceram segurança. Esses homens ficam em dois terços da rua por 24 horas, mas parte dos morados se nega a pagar por esse tipo de serviço. Ainda de acordo com Regina, no dia marcado da reunião, um PM identificado apenas como sargento Álvaro apareceu para negociar o serviço. Ele estava acompanhado de outro homem, mas deste não se sabe o nome. Os síndicos disseram não se interessar pela proposta. ­ No meu entender, o que fizeram foi uma ameaça velada. Ou contratam nossos serviços, ou os assaltos vão continuar. É o que dá a entender a circular. Isso é um absurdo. É a milícia chegando ­ revolta-se Regina.

Comandante pede queixa Decidida a denunciar, Regina enviou uma cópia da circular para o comandante do 2º BPM, tenente-coronel Gileade Albuquerque. ­ O comandante disse que é preciso que os moradores registrem queixa. Ele se mostrou contrário à contratação do serviço e disse que, caso um destes seguranças mate alguém na rua, os moradores que os contrataram podem ser indiciados como co-autores do crime. Procurado pela reportagem do JB , o comandante não retornou as ligações.

Até mesmo apartamentos foram arrombados

Na rua, os moradores dos prédios de numeração 15 a 25 preferem manter o silêncio. Um deles, que já foi síndico, conta que as ameaças e ofertas do serviço de segurança não são uma novidade. ­ Eles criam um fato e depois oferecem a solução ­ afirma o morador. ­ Quando eu era síndico, alguns apartamentos chegaram a ser arrombados. Não levaram nada, fizeram só para intimidar mesmo, para mostrar do que eram capazes. Sempre nos negamos a pagar por esse serviço. Além de terem alguns apartamentos arrombados, os moradores dos edifícios que não pagam à segurança da rua já foram vítimas de assaltos à mão armada e tiveram rádios roubados nas garagens dos prédios. ­ Algumas vezes, eles arrombam o portão, outras roubam os carros nas garagens. E, em todas, logo depois, os prédios receberam propostas de segurança. Eles querem mostrar que somos vulneráveis, nos intimidar.

150 mil seguranças

Na última semana, em reportagem no Jornal do Brasil, o presidente do Sindicato dos Vigilantes, Fernando Bandeira, denunciou que existem 150 mil seguranças irregulares no Estado e que, destes, cerca de 7,5 mil atuam com milicianos. Considerando o efetivo da Polícia Militar, que é de 38 mil homens, o Rio teria hoje, aproximadamente, um miliciano para cada cinco PMs. Na avaliação de Bandeira, é preciso uma força-tarefa com Ministério da Justiça e as polícias Federal, Militar e Civil: ­ Não dá para fingir que o problema não existe, fechar os olhos. Não adianta ir para a favela combater a milícia. Isso deve começar nas ruas ­ afirmou. Deisi Rezende

Fonte JB 11/6/2008

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