quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Crime na Vila Valqueire: Milícia é suspeita de outra morte


Crime na Vila Valqueire: Milícia é suspeita de outra morte



Polícia investiga a hipótese de amiga da vendedora fuzilada ter sido morta por milicianos


Por Paula Sarapu


Rio, 29/12/2010 - A Divisão de Homicídios (DH) investiga se o assassinato da vendedora Carine Pereira Vitalino da Silva, 29 anos, fuzilada quando chegava em casa com o filho de 5 anos, em Vila Valqueire, domingo, pode ter relação com o desaparecimento de uma amiga da jovem, há menos de um mês. Os dois casos teriam envolvimento de milicianos.

Segundo conhecidos das vítimas, uma jovem identificada como Geórgia também teria sido executada a tiros. Os criminosos ainda teriam avisado à família dela que o corpo não seria devolvido. A polícia já sabe que as duas trabalharam juntas numa boate e que Carine teve relações amorosas com milicianos.

SIGILO TELEFÔNICO

Os investigadores vão pedir a quebra do sigilo telefônico de Carine e as imagens de um radar próximo ao local da execução. O corpo da vendedora de roupas foi sepultado ontem no Cemitério do Murundu, em Realengo. Cerca de 40 pessoas acompanharam o funeral. A mãe dela, identificada apenas como Vera, evitou se aproximar do caixão, que permaneceu fechado todo o tempo, apenas com uma foto da vítima por cima. Ela não quis dar declarações e deve ser chamada novamente para depor.

Na delegacia, segunda-feira, Vera disse que desconhecia a rotina da filha e que as duas não eram próximas. As investigações mostram, no entanto, que Carine passou a tarde de domingo no Morro da Mangueira, de onde seguiu para Realengo, para buscar o filho na casa da avó.

“Ela era vaidosa e acabaram com o que ela mais valorizava: sua beleza. O rosto ficou desfigurado e não pudemos nos despedir com o caixão aberto”, disse uma amiga.

A jovem deixa dois filhos, de 8 e 5 anos. O caçula estava com ela no carro na hora do crime, mas não se feriu. Ao perceber a aproximação dos criminosos, ela pediu que o menino deitasse no banco do carona. O Renault Clio teve pelo menos 11 perfurações de tiros.

Pai de um dos filhos de Carine, o empresário Paulo Rogério Pereira, de acordo com a Divisão de Homicídios, foi assessor parlamentar do vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, apontado como um dos líderes da milícia Liga da Justiça. O pai do filho caçula de Carine, segundo a polícia informou ontem, era conhecido como Lequinho — miliciano do Morro do Fubá, em Campinho, morto há 4 meses.


Fonte O Dia.
Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

"A polícia é parceira do crime" e "as milícias são o principal problema"


"A polícia é parceira do crime" e "as milícias são o principal problema"



Por Alexandra Lucas Coelho, no Rio de Janeiro.


Uma cereja no bolo de Lula, dizem analistas sobre a conquista do Complexo do Alemão. Mas a polícia continua a lucrar com o negócio do narcotráfico

A conquista do Complexo do Alemão é o triunfo da lei no Rio de Janeiro? Vale a pena ouvir o antropólogo Luiz Eduardo Soares: "O tráfico se firmou e tornou a realidade perigosa graças à parceria com segmentos corruptos muito numerosos da polícia, que têm agido com bastante liberdade."

Há anos que Luiz Eduardo diz isto, o que ajudou a mudar as políticas brasileiras, mas no meio da euforia que rodeou a tomada do Alemão - considerado o reduto mais inexpugnável do Comando Vermelho, um dos grupos de traficantes do Rio - continua a haver necessidade de o dizer: "Vivemos sob uma hipocrisia que não reconhece a dimensão da degradação policial."

Pouca gente conhecerá o problema como este académico de 56 anos que levantou a cabeça dos livros para pôr as mãos na massa de várias formas, além de ter sido coordenador de Segurança Pública no Rio e depois, em 2003, secretário nacional de Segurança: mergulhou no mundo dos morros, ouviu moradores, activistas, traficantes, políticos, polícias, batalhões especiais, escreveu sobre eles e com eles, incluindo os dois livros que deram origem aos filmes Tropa de Elite, megassucessos de bilheteira, geradores de todo um debate.

"O meu avô era português", não resiste a dizer, para começo de conversa, sentado no bar de uma grande livraria do Rio. "Fugiu durante a I Guerra Mundial e chegou aqui sem nada."

Quase cem anos depois, o neto é "a" voz dissonante quanto à operação no Alemão, há um mês. Não se trata de "uma crítica à iniciativa do Governo, que apresenta características meritórias", mas sim "à forma como o Governo e os media brasileiros apresentaram o acontecimento", ressalva Luiz Eduardo. "O tratamento no Jornal Nacional da TV Globo, que tem extraordinário impacto no país, apresentava uma polaridade bem/mal, polícia/traficantes. De um lado as forças da ordem, do outro as da desordem."

Qual é o problema? O facto de essa polaridade não existir. "A polícia tornou-se um dos grandes combustíveis do tráfico. A tal ponto que não entenderíamos a história do tráfico sem levar em conta essa participação. O espectador terá dificuldade em perceber a polícia como parceira do crime, mas não se trata apenas de cumplicidade, é sociedade. Um padrão consolidado, em grande escala, tanto na Polícia Civil como na Polícia Militar."

A caveira do BOPE

E o BOPE, o célebre Batalhão de Operações Policiais Especiais, que faz parte da Polícia Militar, mas é uma unidade à parte, fardada de preto, com uma caveira por emblema? Quando o BOPE sobe o morro não é para morrer, é para matar, diz o capitão Nascimento em Tropa de Elite 1. Homens que acreditam estar mais duramente treinados que o Exército de Israel.

"O BOPE apresenta características singulares", distingue Luiz Eduardo. "Foi uma unidade muito violenta, perpetradora de execuções, mas honesta, a ponto de o justiciamento do colega corrupto ser uma prática. Transgressores da lei pela brutalidade, mas não pela corrupção." A passagem de 180 para os actuais 400 homens implicou "mudanças que expuseram o BOPE a reduzir a brutalidade e também a práticas de corrupção". Mas são "casos excepcionais".

Ao contrário do que acontece na polícia. "Existem 50 mil polícias activos no Rio, 40 mil da Polícia Militar e 10 mil da Civil", resume Luiz Eduardo. "Nesse universo, temos muitos milhares que actuam no crime de maneira sistemática. É uma relação permanente e orgânica. Os jornalistas não podem mascarar essa relação decisiva. No Rio de Janeiro não se trata só de recuperar esses territórios de traficantes e milicianos, mas de restaurar a polaridade. Claro que nunca teremos o mal só de um lado, mas trata-se de ter instituições cuja função é implementar a legalidade. A ocupação do Alemão tem sido conduzida com uma preocupação legalista, a postura geral é ouvir as denúncias de abusos policiais, e dar-lhes resposta. Há um movimento positivo, mas temos de encarar de uma vez por todas a questão policial."

Apesar de algumas denúncias de abusos policiais, tanto no Alemão como na Vila Cruzeiro a atmosfera geral entre os moradores depois da conquista era de satisfação. "A população sempre adora a polícia quando ela é respeitosa, e celebra uma presença que lhe garanta os direitos", diz Luiz Eduardo. Por si só, essa satisfação não significa que o problema da polícia esteja resolvido.

"O governador [do Rio, Sérgio Cabral] disse que eu estava sendo injusto porque mais de mil polícias corruptos já foram demitidos. Mas isso é um sintoma. Enquanto ele expulsa mil, a polícia continua fazendo tráfico de droga e de armas, violando os direitos humanos todo o tempo, alugando o Caveirão [blindado] para uma das facções. No Vidigal e na Maré [favelas] tem hora e local para os polícias venderem as armas. Ao dizer que expulsou mil, o Governo está dizendo que a polícia está de tal forma comprometida que mil foram expulsos. Muitos milhares estão pela frente. O tráfico só existe por conta de negociações com a polícia. Está acontecendo até hoje os policiais venderem as armas de volta aos traficantes. É assim que se faz tráfico de armas no Rio de Janeiro: por negociação com a polícia."

O BOPE não negoceia, mas ao ter deixado de aceitar rendição contribui para o aumento de armas, diz Luiz Eduardo. Como os traficantes sabem que não se podem render, que vão ter de lutar até à morte, isso "acaba empurrando os alvos do BOPE para técnicas cada vez mais belicosas".

Este antropólogo defende que o BOPE seja usado apenas para casos extremos, como era aliás a intenção de origem. "No Rio, a PM recebe 20 mil chamadas por dia. Dessas, 16 mil são conflitos não criminais. Só um por cento do total envolvem armas. E só parte dessas consistirá num enfrentamento numeroso. O BOPE é a unidade para isso, mas com muita frequência foi acionado para uma política de incursão, com a qual queremos acabar."

Na origem das UPP

Há uma mudança no Rio, sim, reconhece Luiz Eduardo, sinais de que a polícia, em vez da incursão sangrenta, chega para ficar, como tem acontecido nas UPP (Unidades de Polícia Pacificadora), que há dois anos se começaram a instalar e já estão em 13 favelas.

Mas as UPP - cerejas dos anos Lula - têm antecedentes, como os Mutirões pela Paz, unidades policiais propostas por Luiz Eduardo quando era responsável pela segurança. "Para o Governo é importante a marca da originalidade, e é verdade que eles estão a fazer melhor do que nós, mas nós não contávamos com o apoio entusiástico do então governador."

Já depois do Mutirão houve o GEPAI (Grupamento Especial de Policiamento em Áreas de Risco), conduzido por um oficial da Polícia Militar, Antônio Carlos Carballo Blanco, "a contramão da cultura corporativa da polícia", elogia Luiz Eduardo.

Este antropólogo faz ainda questão de prestar tributo ao coronel Nazareth Cerqueira, que foi comandante-geral da polícia do Rio: "Era um negro, defensor dos direitos humanos, muito respeitado, e começou a fazer um esforço para transformar a Polícia Militar." Morreu em 1999, assassinado por um polícia demente.

As UPP são "um aperfeiçoamento" de toda esta sequência de contributos, diz Luiz Eduardo, e a tomada do Alemão, tal como aconteceu, é uma consequência: "Em vez da invasão tradicional, fez-se tudo para evitar um banho de sangue. A ideia era entrar e permanecer, e essa é a tradição do Mutirão."

E as Forças Armadas devem envolver-se, como aconteceu no Alemão, onde agora vão ficar uns meses? "É importante que o Exército não seja usado para substituir a polícia, mas no caso do Rio justifica-se pela degradação extraordinária das instituições policiais."

Milícias: o perigo maior

De 2003 a 2009, diz Luiz Eduardo, "foram mortas 7854 pessoas pela polícia", mais de mil por ano. "Claro que todas são pobres, jovens, maioritariamente negros. Praticamente não há excepção. E a análise feita em 2003 mostra que 65 por cento dessas mortes foram execuções extrajudiciais. Isto é um recorde mundial. Temos polícias que são recordistas mundiais da brutalidade letal e polícias que formaram milícias."

Máfias formadas por ex-polícias que controlam territórios do Rio, as milícias são hoje o principal perigo, crê Luiz Eduardo.

Em entrevista recente ao PÚBLICO (11/12/2010), o chefe da Polícia Civil do Rio, Allan Turnowski, disse o mesmo, mas argumentava que 500 milicianos já tinham sido presos.

"Houve uma mudança de postura, o que foi um avanço", reconhece Luiz Eduardo. "Até 2008 o prefeito dizia que milícia era defesa comunitária, e Sérgio Cabral abraçava milicianos, com um discurso ambíguo. Até que ficou evidente que não era possível transigir com a violência das milícias. Agora, em função dos escândalos das milícias, as lideranças policiais assumem um discurso correcto."

Para dar uma ideia do que se passava antes, Luiz Eduardo cita o caso de Álvaro Lins, antigo chefe da Polícia Civil, condenado por ligação às milícias. "Um homem eloquente, sensível, bonito, que impressiona qualquer um. Imagine uma cidade como o Rio de Janeiro, com um galã inteligente condenado em todas as instâncias. Pode imaginar a penetração em todos os sectores da polícia."

O menu das milícias é extenso: "Tráfico de armas e de droga, lavagem de dinheiro, adulteração de combustível, adulteração de máquinas de moedas..." Além da actividade económica local, como as vans, as carrinhas que nas zonas pobres substituem os transportes públicos. "As vans são uma das maiores fontes de lucro. Em alguns casos, os proprietários são obrigados a contribuir, noutros os milicianos matam os donos e assumem o controle."

As barreiras de estrada com pagamento de "portagem" também são comuns. E depois há todo o esquema imobiliário nas zonas pobres e desamparadas. A milícia monta imobiliárias e vende apartamentos que não lhe pertencem. Mata associações de moradores que se lhe opõem, e "são sempre mortes com desfigurações, com armas muito potentes". E faz vendas de espaços públicos em favelas, atraindo moradores da Baixada Fluminense - nos arredores do Rio, uma das regiões mais pobres do Brasil - ampliando assim a favelização.

"A milícia é hoje o principal problema da violência no Rio. O envolvimento da polícia não se esgota nisso, mas esse é o envolvimento mais violento. São máfias, que penetram na política, nas instituições."

Tráfico desarmado

Nota positiva: o actual secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, considerado o cérebro por trás da operação do Alemão, inspira a Luiz Eduardo estas palavras: "Merece todo o nosso respeito. É um homem honesto, que luta com todas as suas forças para prender os maus polícias."

Já entre os traficantes, crê o antropólogo, a tendência é "anti-belicosa". Os traficantes sabem que morrem cedo, que não usufruem do dinheiro e que o modelo armado não vai resultar. "Sou pela legalização das drogas, mas, independentemente disso, imagine o que é para estes traficantes armar um exército e combater facções rivais. Numa sociedade como é hoje a brasileira isso vai tornar-se insustentável."

O México mostra isso: "Ou impõe um declínio do tráfico ou deixa de ser uma nação, porque o que está em risco é a soberania nacional. No caso do Brasil a escala é totalmente diferente. E imagine os custos para um rapaz de chinelo no dedo, sonhando com as suas glórias, vendo que todos os seus companheiros morrem antes dos 30 anos."

Luiz conheceu por dentro o caso de Lulu, Luciano Barbosa dos Santos, o líder da Rocinha, que lhe escreveu a pedir ajuda para sair do tráfico. "Eu respondi: "Tenho de te prender, mas espero que você mude." Ele fugiu da Rocinha, foi capturado pela polícia no Nordeste, trazido para o Rio. Aí recebeu um telefonema: "Quer viver?, Quer liberdade? Então retorne para o seu posto, precisamos que você produza tantos reais por semana, não podemos deixar de contar com você." Era a polícia."

Lulu acabou morto numa incursão do BOPE.

Fonte: JP

sábado, 25 de dezembro de 2010

STJ, o Tribunal da Cidadania, mantém prisão preventiva de supostos membros da milícia Liga da Justiça






STJ: Mantida prisão preventiva de supostos membros da milícia Liga da Justiça


A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a prisão preventiva decretada contra dois supostos membros da milícia carioca “Liga da Justiça”. O grupo paramilitar atua na Zona Oeste da capital fluminense, e seria composto por 65 pessoas, incluindo 25 policiais civis e militares, além de integrantes das Forças Armadas.

Para a defesa dos acusados, não haveria qualquer razão legal para mantê-los presos, já que encerrada a instrução criminal. Mas o ministro Napoleão Nunes Maia Filho divergiu. Para ele, a periculosidade do grupo é concreta e está bem demonstrada na ação penal.

Atuação

A ordem de prisão registra que a suposta milícia busca a hegemonia na exploração de qualquer atividade que possa gerar lucro no território que domina. As ações incluiriam transporte clandestino, exploração de jogos de azar por meio de caça-níqueis, venda de gás de cozinha, cobrança de taxas de segurança de comerciantes, exploração ilícita de transmissões de TV a cabo e a manutenção de depósitos clandestinos de combustíveis.

Segundo a decisão da primeira instância, para alcançar esses objetivos, o grupo “não mede as consequências de seus atos, valendo-se de práticas criminosas”. Essas práticas consistiriam em constrangimento e imposições a moradores e comerciantes, espancamentos, sequestros, torturas e homicídios, “não raro de forma ostensiva, como forma de intimidação e demonstração de poder”.

Periculosidade

Além disso, o juiz de primeiro grau assegurou que “a periculosidade dos denunciados é flagrante, haja vista que o grupo paramilitar por eles integrado costuma se valer de enorme arsenal bélico, com elevado poder vulnerante e da infiltração de seus agentes no seio do Poder Público para o cometimento de crimes”.

“A periculosidade dos acusados também se manifesta pela forma peculiar e abrangente da execução dos delitos que lhes são imputados, empreendido em atividade típica de crime organizado, impondo verdadeiro terror na população das localidades por eles dominada”, completou.

A ordem de prisão conclui que “o grupo paramilitar em questão tem a pretensão de, em suas áreas de atuação, substituir o poder estatal e formar um poder paralelo, muitas vezes em razão da omissão das autoridades legalmente constituídas, mantendo sob seu domínio a população que ali reside e trabalha”.

O ministro Napoleão Nunes Maia ainda considerou o parecer do Ministério Público Federal (MPF) para manter a prisão. Segundo o MPF, um dos acusados que pleiteavam o habeas corpus executava homicídios em nome da milícia e participava da cobrança de diárias relativas ao transporte de passageiros, e o outro é policial militar, responsável pela segurança dos integrantes da quadrilha.

Fonte: STJ

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

RJ: milícia desarticulada utilizava veículos oficiais da PM















RJ: milícia desarticulada utilizava veículos oficiais da PM



Rio, 23/12/2010 - Carros oficiais da Polícia Militar eram usados pela maior milícia de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense - desarticulada terça-feira pela Polícia Civil e Ministério Público (MP) - para vigiar as áreas dominadas pelo bando. De acordo com denúncia do MP, o segundo-tenente Samuel Felipe Dantas de Farias desempenhava importante papel na quadrilha. Era ele quem, valendo-se do fato de ser oficial, manipulava as ações policiais e o atendimento de ocorrências, desviando viaturas e dando aparência de legalidade ao suposto serviço de ronda.

O tenente, segundo o MP, "gerenciava as atividades ilícitas que davam o lucro à quadrilha, dando atenção especial à venda de armas de fogo a traficantes do Complexo do Alemão, ao monopólio sobre a mercadorias de cestas básicas, distribuição ilícita de TV a cabo, empréstimos de dinheiro a juros de 30% mensais e exploração do jogo de azar". A atuação do policial ocorria principalmente nos bairros Pantanal, Vila Rosário e Parque Suécia.

Conforme denúncia do MP, era Samuel quem repassar as ordens dos chefes - os vereadores Jonas Gonçalves da Silva, o Jonas É Nós, e Sebastião Ferreira da Silva, o Chiquinho Grandão, ambos preso - para os milicianos da região que gerenciava. As determinações incluíam divisões de lucros, assassinatos, ameaças e agressões.

O oficial e mais 12 PMs da ativa foram presos terça-feira durante a Operação Capa Preta. Também foram capturados quatro ex-PMs, um comissário da Polícia Civil, um sargento do Exército, um fuzileiro naval.

O bando é acusado de ter cometido, em três anos, cerca de 50 homicídios no município, todos nos oito bairros que o bando controlava. Entre os crimes, a polícia investiga a morte de um presidente de associação de moradores.

Fonte Terra

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Dois vereadores são presos em operação contra milícia em Duque de Caxias








Dois vereadores são presos em operação contra milícia em Duque de Caxias





Polícia acredita que a dupla era chefe da quadrilha que atuava na região

Por Marcello Victor

Rio - A Polícia Civil realiza desde as primeiras horas desta terça-feira uma mega operação de combate à milícia atuante em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Dezesseis pessoas já foram presas -  entre elas dois vereadores do município e quatro policiais militares - na ação batizada de "Capa Preta".

Os vereadores Jonas Gonçalves da Silva - que é PM reformado e conhecido como "Jonas é Nóis" -, e Sebastião Ferreira da Silva, o "Chiquinho Grandão", foram presos em suas residências.

Na casa de Jonas, na Rua Dom Pedrito, 12, bairro Vila Sarapuí, os civis prenderam ainda Johnatan Luiz Gonçalves da Silva, o "Petão", filho do vereador e PM recém-formado. Outro filho de Jonas, o ex-PM Eder Fábio Gonçalves da Silva, o "Fabinho é Nóis", foi detido em sua residência, numa rua paralela à casa do pai.

O outro preso foi identificado como Daniel Seabra Ferreira, o Daniel do Lava-Jato. Com ele, os policiais apreenderam duas pistolas 9mm, quatro carregadores, dois aparelhos de rádio e um cinto da Polícia Militar.

Duzentos agentes participam da operação, que é organizada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (DRACO/IE) e conta com a participação de  várias especializadas. Policiais cumprem 34 mandados de prisão e 54 de busca e apreensão em 57 endereços, inclusive na Câmara Municipal de Duque de Caxias.

Chefes da milícia

A Polícia Civil acredita que Jonas e Sebastião seriam os chefes da milícia em Caxias, coordenando grupos de extermínio, centrais clandestinas de TV a cabo e controle do transporte de vans na região, entre outros crimes.

De acordo com o delegado Cláudio Ferraz, responsável pela operação, entre os procurados estão 13 policiais militares, cinco ex-PMs, um comissário da Polícia Civil, um fuzileiro naval e um sargento do Exército. A Polícia Civil chegou à quadrilha depois de seis meses de investigação.

Participam ainda da operação agentes da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e a  Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) e da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF).

Fonte O Dia.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Políticos e Milicias na grilagem de terra no Recreio e Vargem Grande

Delegacia do Recreio assume combate aos loteamentos irregulares


Estelionato, crimes ambientais e parcelamento ilegal do solo. Dados da 42ª DP (Recreio) comprovam o que já se sabia: há décadas, o bairro sofre com a existência de quadrilhas de grileiros que usam os mais diversos artifícios para vender lotes ilegais, principalmente na área de Vargem Grande. Com a inauguração da delegacia, em abril, a investigação policial, realizada com a ajuda da 16ª DP (Barra), ganhou mais força com a instalação de uma inspetoria específica para investigar este tipo de crime. O primeiro resultado saiu esta semana, com a conclusão do inquérito contra Marcos Antônio Amuí dos Santos, proprietário do condomínio Vivendas em Sossego.

O loteamento apontado como irregular pela 42ª DP fica na Rua Paulo José Mahfud, entre os rios Cancela e Calembá. Santos foi indiciado por diversos crimes, entre eles estelionato, construção em solo não edificável, parcelamento do solo urbano e crime ambiental. O caso será levado ao Ministério Público estadual (MPE) e pode resultar em sua prisão. O condomínio começou a ser construído em 1994, mas já sofreu embargos da Secretaria municipal de Urbanismo. Mesmo assim, imóveis ainda são vendidos no local.

Segundo a inspetoria da 42ª DP, geralmente os grileiros se aproveitam da existência de um posseiro dentro de uma área pertencente a outra pessoa. Eles fazem um acordo com o invasor para que entre com um processo de usucapião na Justiça. Se este obtém a posse do terreno, recebe como recompensa um dos lotes nos quais a área é desmembrada pelo grileiro. Mas, como mostram informações da delegacia, também pode ser expulso do local — ou até assassinado.

O delegado titular da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (DRACO), Cláudio Ferraz, também investiga casos de loteamentos irregulares na região e diz que em boa parte deles há políticos envolvidos, o que ajuda a dar uma aparência de legalidade ao crime:

— Tem sempre um de plantão. Após vários imóveis serem vendidos irregularmente, eles colocam todas aquelas famílias na frente das ações da Justiça, como um escudo humano.

“Comprei um lote em 2002 em um condomínio de Vargem Grande. Queria morar neste bairro que é tão rico em natureza. Era a ilusão de uma vida tranquila. Até que um dia, em 2004, acordei e me deparei com diversos policiais dentro do meu condomínio, dizendo que todos teriam que sair. Foi um desespero. Meu marido infartou e foi internado. Nunca conseguiu se recuperar, tendo morrido alguns anos depois. Comecei, então, a investigar e descobri que a área tinha sido invadida e estava no nome de laranjas. Um deles chegou a ser assassinado. Quando comecei a denunciar estes problemas, recebi telefonemas que me ameaçavam de morte. Então, aluguei o imóvel e fugi. Hoje moro fora da cidade. Tive que parar de trabalhar. Ainda tenho muito medo. Minha vida foi destruída por essa gente.”

X., vítima do golpe do loteamento ilegal

Fonte O Globo

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A CORAGEM DE DENUNCIAR A MILÍCIA DO DEZOITO

 

A coragem de denunciar



Sérgio Ramalho*


Subjugados por integrantes de uma milícia, moradores do Morro do Dezoito, em Água Santa, quebraram a lei do silêncio numa série de denúncias que permitiram à Delegacia de Repressão a Ações Criminosas organizadas (Draco) reunir provas para prender 15 milicianos, entre eles oito PMs, na Operação Todos os Santos, em setembro passado. Parecia o fim de um pesadelo para famílias que em dez anos viveram ora sob o domínio o tráfico, ora sob o controle de paramilitares a quem eram obrigadas a pagar taxas de "proteção", além de ágio na compra de botijão de gás e até de água.

Pelo menos 15 denúncias, com informações consistentes, chegaram à Draco. Mas foi a coragem de três moradores que permitiu a identificação dos PMs ligados ao grupo paramilitar. Foram eles que apontaram nos álbuns da PM os oito policiais envolvidos na cobrança das taxas de segurança. Para o delegado Claudio Ferraz, da Draco, as informações obtidas por meio dos relatos dos moradores foram fundamentais para o desenvolvimento das investigações.

A sensação de liberdade, contudo, durou pouco. Faltou o estado ocupar definitivamente o Dezoito, como ocorreu em outras favelas pacificadas. No mesmo mês, o traficante Alexandre Bandeira de Melo, o Piolho, chefiou a retomada do morro, onde voltou a ditar regras e logo impôs toque de recolher aos moradores, impedidos de chegar à comunidade depois das 22h. Piolho, o ditador da vez, está de volta ao morro graças a um benefício concedido pela Vara de Execuções Penais (VEP). Dias depois de ganhar liberdade condicional, Piolho reuniu aliados, juntou armas e expulsou do Dezoito os remanescentes do grupo paramilitar.

Piolho chefiava o tráfico no Complexo de Água Santa – composto pelos morros do Dezoito, Saçu, Caixa D’Água, Favelinha, Fazendinha, Pau Ferro, Granja, Beco, Fubá e Cabo – até ser preso no Espírito Santo, em 2002. Na época, os milicianos aproveitaram o enfraquecimento de sua quadrilha para anexar a região ao território paramilitar. A visão de patrulhas da PM circulando no morro, inicialmente, fez com que moradores acreditassem no fim da ditadura do tráfico.

Eles não esperavam que os PMs estivessem ali para marcar território, mas para garantir a segurança da população. Com o tempo, aprenderam que as patrulhas eram usadas para impor medo e, principalmente, mostrar o que estava por trás do grupo paramilitar. Chefe do bando, o PM Wellington Alves, o Nam, costumava circular fardado pelas comunidades recém-ocupadas. Tudo para intimidar a população local.
Com a milícia, as taxas se acumulavam. Os moradores foram obrigados a pagar até uma taxa especial de fim de ano. O valor seria dividido entre os milicianos, como uma espécie de 13o salário. Quem se recusasse era ameaçado, agredido e em muitos casos tinha algum eletrodoméstico levado pelos paramilitares. A pressão era tamanha, que um grupo de moradores decidiu romper o silêncio.

A prisão dos paramilitares, no entanto, não garantiu a tranquilidade total dos moradores. Atualmente, a região é cenário de uma disputa entre traficantes e milicianos, que já resultou em pelo menos oito assassinatos.

*Sérgio Ramalho é repórter do GLOBO e cobriu o desmantelamento da milícia que agia no Morro do Dezoito.

Milícia da Zona Oeste em guerra mata mais um na Grota Funda



Homem é morto a tiros na estrada da Grota Funda.  

Crime pode ter ligações com a milícia na Zona Oeste


Por Marco Antonio Canosa

Rio - Mais um crime que pode estar ligado à guerra de milicianos da Zona Oeste do Rio foi registrado nesta segunda-feira. O empreiteiro Antonio Jucelino de Mesquita Souza, 29 anos, dono de dezenas de imóveis na comunidade Beira Rio, no Recreio dos Bandeirantes, foi executado ao volante de seu carro, uma picape Pajero blindada, na Estrada da Grota Funda, no Recreio.

Segundo informações da polícia, Jucelino voltava de campo Grande, onde fora tratar de negócios. No carro estavam seu irmão adolescente e dois pedreiros que trabalhavam com ele. Eles contaram que, apesar do carro blindado, Jucelino dirigia com os vidros abertos e que um carro prata, que poderia ser um Gol ou um Golf, fechou a Pajero. Um homem magro saltou do carro e, armado com uma pistola desferiu vários tiros contra o empreiteiro, que foi atingido no pescoço e cabeça e morreu no local.

os outros ocupantes do carro disseram que a ação foi muito rápida e que Jucelino não teve tempo de fechar os vidros do carro. Um policial que não quis se identificar contou que o crime pode ter relação com a guerra entre milicianos da Zona Oeste. "Ele era dono de muitos imóvies na comunidade e, segundo informações, estaria expadindo seus negócios para Campo Grande", revelou.

O crime está sendo investifgado pela Delegacia de Homicídios (DH), que não quis revelar detalhes da investigações.

Fonte O Dia

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Justiça do Rio condena 3 acusados de integrar milícia de Chico Bala na zona oeste

 



Justiça do Rio condena 3 acusados de integrar milícia de Chico Bala na zona oeste





Eles vão cumprir pena por latrocínio e formação de quadrilha.  Segundo TJ, trio é suspeito de tentar roubar armas de DPO, em Itaboraí.




Com base em denúncia oferecida pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), o Juízo da Vara Criminal de Itaboraí condenou, na terça-feira (14/12), três integrantes da milícia comandada pelo ex-policial militar Francisco César Silva Oliveira, conhecido como Chico Bala. "A condenação dos acusados é mais uma resposta estatal ao poder paralelo estabelecido pelas milícias, evitando que este grupo criminoso amplie sua área de atuação", afirmou o Promotor de Justiça Antonio Carlos Pessanha, que subscreveu a ação com a Promotora Clarisse Lagoeiro de Magalhães Lourenço.

O ex-PM Marcelo Oliveira de Andrade e Willian Pereira da Silva foram condenados pelos crimes de latrocínio tentado, latrocínio consumado, ocultação e guarda ilegal de munições de uso permitido e restrito e formação de quadrilha. De acordo com a sentença, os dois deverão cumprir 59 anos de prisão. O terceiro integrante, Aloísio Barbosa Teixeira, foi condenado por latrocínio tentado, latrocínio consumado e formação de quadrilha. Ele deverá cumprir 53 anos de prisão. 

Segundo os Promotores, o trio invadiu o Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) de Sambaetiba, em Itaboraí, em 13 de março de 2009, com o objetivo de roubar armas acauteladas no local para estabelecer uma base do grupo miliciano na região. Na ocasião, houve confronto com os PMs de plantão, que resultou na morte do policial militar Yolando Flávio da Silva. Outro policial, Robson da Silva Reis, ficou gravemente ferido.

O trio teria partido de um sítio chamado Shangri-lá, de propriedade do também miliciano e ex-policial militar Alexandre da Silva Monteiro, vulgo Popeye, que já se encontra preso.

Fonte JusBrasil

Ocupação não garante controle sobre facções nem sobre as milícias














O trabalho mal começou


Ocupação não garante controle sobre facções nem sobre as milícias.


Entrevista com Gláucio Ary Dillon Soares

A ocupação do Complexo do Alemão, conjunto de favelas tomado na manhã de ontem, praticamente sem resistência, pela Polícia Militar do Rio de Janeiro com apoio das Forças Armadas, ainda não representa o controle sobre o crime organizado na cidade.

Por uma questão tática - diminuir a possibilidade de uma articulação das facções criminosas entre si e com os milicianos - os ataques foram direcionados a áreas controladas apenas pelo Comando Vermelho.P Para o sociólogo Gláucio Ary Dillon Soares, a segunda etapa do combate, contra outras facções e milícias, exigirá estratégias que ultrapassem a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

Dillon Soares sugere a adoção no Brasil de mecanismos semelhantes aos utilizados pelo governo de Álvaro Uribe (2002-2010) na Colômbia para a desmobilização de grupos criminosos. Naquele país, o governo ofereceu o perdão para crimes cometidos e até uma bolsa equivalente a US$ 180 para garantir a reinserção dos criminosos no convívio social.

Em três anos, Uribe conseguiu que 13 mil pessoas entregassem as armas, majoritariamente integrantes de grupos paramilitares, que cobravam proteção para perseguir narcotraficantes e militantes de movimentos sociais. Mas, na sexta-feira passada, a Justiça colombiana tornou sem efeito os benefícios concedidos aos desmobilizados.

No caso do Rio, Dillon Soares enxerga mais possibilidades de se tentar um acordo do gênero com os integrantes das milícias, que expulsaram facções criminosas de favelas e passaram a extorquir moradores. Para o sociólogo, a vinculação dos milicianos com o aparelho institucional do Estado pode fazer com que seus integrantes tenham percepção de que não teriam como enfrentar uma ofensiva das forças de segurança.

Aos 76 anos, e com um currículo no sistema Lattes de 49 páginas, Dillon Soares é carioca do bairro das Laranjeiras e pesquisador do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Há 35 anos seu objeto de estudo é a criminalidade urbana. Desde janeiro de 2007, o sociólogo integra a organização não governamental "Rio de Paz", que, na sexta-feira, fez um apelo para que o poder público fizesse uma proposta formal de rendição aos criminosos, que estavam cercados no Complexo do Alemão. A "Rio de Paz" foi formada logo após a interceptação de um ônibus interestadual por criminosos, que atearam fogo ao veículo e mataram sete passageiros.

Eis a entrevista.

No início da atual onda de violência no Rio, no dia 21, houve avaliações de que os episódios estavam sendo superdimensionados pela mídia e os indícios de que se tratava de um movimento organizado eram frágeis. Qual o balanço que o sr. faz dos conflitos até agora?

Entre 2000 e 2009, houve mais de 800 ônibus danificados no Rio de Janeiro, com as ocorrências sempre ligadas a prisões, remoções e mortes de traficantes. O que chama a atenção agora é a dispersão geográfica dos eventos em uma concentração menor de tempo , o que indica, sim, coordenação. Mas trata-se da coordenação de grupos fragilmente organizados. É um erro pensar nas facções como empresas com linhas hierárquicas organizadas. Elas se conectam fragilmente. Vem uma ordem e cada um age do jeito que pode. O traço que as une é que parece haver uma preocupação, por parte dos bandidos, em destruir patrimônio, mas evitar perdas de vidas.

Em 2005, com um ônibus urbano, e em 2006, com um ônibus interestadual, houve intenção deliberada de matar os passageiros quando os veículos foram incendiados. Morreram 12 pessoas.

Foram ações pontuais, que tiveram como consequência a execução sumária de seus autores, por parte das facções criminosas. A mídia não superdimensiona ao retratar as ações como uma ofensiva organizada, o exagero está ao se avaliar a força destas facções.

É equivocado aproximar o caso carioca do existente no México ou na Itália?

Basta observar a grande diferença da intensidade da violência nas ações e a extensão temporal dos episódios. É um exagero comparar as facções daqui com os cartéis do México e com a Máfia e a Camorra na Itália.

O sr. não considera a hipótese de que a entrada das Forças Armadas em cena e a disposição das autoridades governamentais em não aceitar acordos tácitos leve a uma perenização do conflito nesse nível de intensidade?

O ponto decisivo será o resultado da operação que se desenrola no Complexo do Alemão [a entrevista ocorreu no momento em que as forças de segurança começavam a cercar a área ]. A invasão da quinta-feira na Vila Cruzeiro mostrou que as facções criminosas sentiram o golpe e estão inferiorizadas em poder de fogo. A aposta maior é que o conflito arrefeça, com alto índice de prisões e baixas entre os criminosos.

O retrospecto do uso de força bélica em conflitos urbanos é muito ruim, inclusive internacionalmente...

É péssimo, desde que não se tenha uma determinação "churchilliana" do governo para resolver a situação. Na Somália, durante o governo Clinton, os EUA foram humilhados por milícias, com a derrubada de um helicóptero Black Hawk, mas não havia determinação em se vencer aquela situação. A determinação é o grande diferencial que existe no governo de agora.

Há indícios de que o Comando Vermelho e os Amigos dos Amigos, as mais importantes facções, estão atuando em conjunto na onda de ataques. Isso não elevou o conflito a outro nível de gravidade?

Sou extremamente cético em relação a essa aproximação. Precisaria de evidências irrefutáveis. Por um motivo básico: as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) reduziram os índices de criminalidade nas favelas que ocuparam, exatamente por bloquearem as invasões de um bando na área do outro. Por irônico que seja, as UPPs salvaram vidas de bandidos também. O que importa ressaltar é que essas facções literalmente se matavam até muito pouco tempo atrás. E as UPPs até o momento entraram na área de uma das facções, não as atingiram de modo uniforme. Elas foram instaladas na área de apenas uma das principais facções [O entrevistado evita citar o nome das facções. As áreas onde as UPPs foram instaladas até este ano são conhecidas pela atuação do Comando Vermelho]. As outras facções e as milícias foram deixadas para um segundo momento, talvez.

O combate às milícias não tende a ser muito mais duro, dado que elas têm um enraizamento no aparelho institucional do Estado que o narcotráfico jamais teve?

Quando o foco for a milícia, teremos uma situação de grande ocorrência de dupla militância. Haverá a necessidade de separar a milícia da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Não será fácil. Mas o poder de fogo deles, feita a separação, é menor do que o das atuais facções criminosas.

O conflito atual não coloca em xeque a política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) como eixo central da estratégia de segurança do governo do Rio?

As UPPs fazem a ocupação com certo grau social de áreas antes controladas pelo tráfico. Elas claramente se inspiram nas iniciativas adotadas na Colômbia, sobretudo em Medellín, cidade com muitas semelhanças com o Rio. Mas há outra vertente da estratégia colombiana que seria importante refletir sobre sua adoção aqui. É o que chamo de uma proposta de rendição: os soldados do tráfico, os integrantes das facções, se integrariam na sociedade, com o esquecimento dos crimes passados, em troca do abandono das armas. Na Colômbia, funcionou relativamente bem. O grande obstáculo é que, no Brasil, a segurança pública é jurisdição estadual, que não tem poder sobre a legislação penal.

Se a organização das facções criminosas é frágil, quem seriam os eventuais interlocutores de um acordo de rendição?

Encontrar os comandantes é fácil, porque a maioria deles já está presa. Mas acredito na eficácia de uma interlocução por meio de intermediários, sobretudo das igrejas. Não só a Igreja Católica, mas muitas evangélicas.

Do ponto de vista da opinião pública, este acordo não teria dificuldades de ser concretizado?

O cenário da opinião pública tornou-se muito adverso para as facções criminosas. Eles aproximaram, com esses ataques, a polícia da população, que se viu definitivamente na condição de vítima. É previsível supor que certos temas voltarão com força ao debate, como o fim da maioridade penal aos 18 anos. Ela só existe em seis países. É cada vez mais difícil sustentá-la como uma medida civilizatória. A linha dura contra a bandidagem vai ganhar muito terreno. O grupo "foucaultiano" de intelectuais que desconfia das instituições, e que se alinhou com o que se convenciona chamar de "política de direitos humanos", sai disso tudo muito enfraquecido. Temos um grande problema para decidir pela frente, que é o que fazer com o usuário de drogas. As opções estão ganhando uma definição nítida: ou libera-se , ou criminaliza-se o usuário. Mas o fumador de crack das ruas e os que fumam maconha nas redações, nas universidades, nas repartições públicas precisam receber o mesmo tratamento. É uma questão que terá que ser enfrentada.

Fonte: Valor Econômico