RIO, 15 setembro 2022 - Três
relatórios da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública
do Rio, já entregues à Justiça Eleitoral, dimensionam a influência e o poder
político das milícias nas eleições deste ano. Os documentos listam os nomes de
25 candidatos a vereador supostamente apoiados por grupos paramilitares, que atuam na Zona Oeste e na
Baixada Fluminense. Entre os concorrentes relacionados, 16 são policiais
militares, dois policiais civis e um é bombeiro, além de um agente da Polícia
Rodoviária Federal (PRF).
Na relação enviada ao TRE no
fim de agosto, dez candidatos disputarão uma vaga na Câmara do Rio, todos com
redutos eleitorais em regiões dominadas por grupos paramilitares em
Jacarepaguá, Santa Cruz, Campo Grande, Sulacap e Realengo. Entre eles figuram
um major, três sargentos e um cabo da Polícia Militar, além de um comissário da
Polícia Civil. Todos com anotações criminais, citados em inquéritos e processos
em andamento no Tribunal de Justiça por envolvimento em casos de lesão
corporal, formação de quadrilha, extorsão e homicídios.
Na Baixada Fluminense, as
principais áreas dominadas por milicianos ficam em Nova Iguaçu e Duque de
Caxias. Mas há indicações da influência desses grupos em Magé, Mesquita, São
João de Meriti e Belford Roxo. A atuação chega também a Saquarema, na Região
dos Lagos. Os 15 candidatos que disputam os votos dos eleitores destes sete
municípios também respondem por assassinatos, porte ilegal de arma, lesão
corporal, extorsão, falsidade ideológica, corrupção passiva, furto e ameaça.
Apesar de aparecerem nas
investigações e em processos em andamento, nenhum deles até agora foi condenado
em segundo grau pela Justiça e, por isso, tiveram seus registros de candidatura
aprovados pelo TRE-RJ, podendo fazer campanha normalmente. A Lei da Ficha Limpa
torna inelegíveis os candidatos condenadas por órgãos colegiados.
Suspeitos estão distribuídos
em 13 partidos
Dos políticos listados nos
relatórios, quatro são do PTN, três filiados ao DEM. Já o PT, PV, PSD, PR, PHS
e PTdoB têm dois candidatos incluídos na relação, cada um. As legendas PDT,
PSC, PMN, PSDC e PSL contam com um candidato cada. Procurados pelo GLOBO, os
diretórios regionais do DEM e do PTN, partidos com maior número de candidatos
citados pela Subsecretaria de Inteligência, não retornaram as ligações.
Nem todos que estão nos
relatórios são policiais e bombeiros. Na capital, por exemplo, dois são
vereadores que tentam a reeleição e estariam se beneficiando da influência dos
currais eleitorais das milícias em Santa Cruz e Campo Grande. Há ainda um
candidato ligado à exploração do transporte alternativo na região, e a mulher
de um miliciano preso há dois anos em operação da Delegacia de Repressão a
Ações Criminosas Organizadas (Draco).
Lançar o nome da mulher na
disputa eleitoral também foi a estratégia utilizada por um chefe de milícia que
atua em 27 bairros de Nova Iguaçu. Preso em 2009, também pela Draco, o sargento
PM, que cumpre pena numa penitenciária no Complexo de Gericinó, tenta eleger a
mulher para uma vaga na Câmara Municipal. Apesar de as informações contidas nos
documentos não poderem ser empregadas pelo TRE-RJ para inviabilizar as
candidaturas dos citados, os dados serão usados para traçar estratégias que
impeçam os citados de se beneficiarem dos votos nos currais eleitorais das
milícias. Para isso, a Justiça Eleitoral defende a utilização da Força Nacional
de Segurança nas localidades mapeadas. Não apenas no dia do pleito, mas com
antecedência para evitar o voto de cabresto.
Em julho passado, O GLOBO
noticiou que a força-tarefa criada pelo presidente do TRE, desembargador Luiz
Zveiter, investigava as campanhas de policiais militares, civis e bombeiros em
busca de indícios da ligação de algum candidato com grupos paramilitares. Em
todo o estado, 563 integrantes das três instituições tiraram licença remunerada
de suas funções para concorrer nas próximas eleições. Um batalhão de
candidatos, onde PMs são maioria com 385 nomes registrados no TRE, seguidos por
bombeiros (116) e policiais civis (62).
Fonte: O Globo.
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