segunda-feira, 4 de abril de 2011

Milícias no Rio Grande do Sul: Governo teria sido avisado sobre milícia em Jaguarão que ameaçou estudante universitário baiano

 

Milícia no Rio Grande do Sul: Governo teria sido avisado sobre milícia em Jaguarão

Estudante baiano afirma ter sido agredido por policiais em 5 de fevereiro


Ao lado, cópia de uma das cartas ameaçavam estudante baiano



A suspeita da existência de uma milícia de policiais militares em Jaguarão, no Sul do Estado, teria sido informada ao secretário estadual de Segurança Pública, Airton Michels, no início do governo, há três meses. Uma sindicância na Corregedoria da Brigada Militar foi aberta e o Ministério Público da cidade, acionado. A atuação da suposta milícia veio a público após a denúncia do estudante de História da Unipampa, o baiano Helder Santos, 25 anos. Ele afirma ter sido agredido por policiais em 5 de fevereiro.

Uma correspondência foi enviada por alguém que se dizia soldado da Brigada Militar (BM) informando sobre a milícia. Airton Michels afirma que a situação preocupa, em especial porque Jaguarão é área de fronteira, local comum de tráfico internacional de drogas e armas.

A ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, se reunirá nesta terça-feira com o governador Tarso Genro para discutir formas efetivas de barrar práticas abusivas das forças policiais contra a comunidade negra. Nesta manhã, ela teve um encontro com o vice-governador, Beto Grill. Ele afirma, no entanto, que é difícil que o Estado consiga evitar esse tipo de situação, por se tratar da conduta individual de cada servidor.

Entre os casos discutidos, estão o racismo praticado contra Helder Santos, bem como a morte do boxeador Tairone Silva em Osório pelo policial militar Alexandre Camargo Abe, no início deste mês, e as denúncias de tortura a um jovem do Quilombo Silva em agosto do ano passado.

Helder continua na Capital, aguardando que o Ministério da Educação transfira sua matrícula da Unipampa para a Universidade Federal do Recôncavo Bahiano. A situação comoveu uma moradora da Região Metropolitana de Porto Alegre. Ela procurou a TV Record oferecendo estadia na casa onde vive com a filha ao rapaz. A agente administrativa, de 62 anos, diz que não faltará apoio ao jovem, caso ele aceite a oferta.




 


 O jornal Correio, da Bahia, descreve assim o drama do estudante:

Estudante baiano abandona universidade após denunciar agressão e racismo de PMs

Helder Santos, 25, estudava história na Unipampa, no Rio Grande do Sul

O estudante Helder Santos, 25, não vai trazer na bagagem de volta à Bahia o diploma do curso de história da Unipampa, no Rio Grande do Sul. Ele foi obrigado a abandonar o curso no 3º semestre e deixar a cidade de Jaguarão, no sul do estado, após sofrer ameaças de morte em cartas supostamente enviadas por policiais da Brigada Militar da cidade. Helder denunciou ter sido vítima de racismo e agressão por policiais da Brigada.

A primeira carta anônima chegou à casa do estudante de Feira de Santana após ele denunciar na Corregedoria da Polícia e na rádio local que tinha sido agredido e chamado de 'negro vagabundo' ao tentar defender um amigo de uma abordagem policial. Helder foi agredido na barriga e no ombro por um dos policiais e em seguida detido acusado de desacato.

Se a primeira carta aconselhava o estudante a deixar a cidade para sua própria segurança, a segunda assustou Helder pelo conteúdo e pelas ameaças. "Eram muito agressivos, me chamavam de 'baiano fedido', 'nego sujo', 'volta pra tua terra, baiano'. Pensei que se levasse as cartas à público eles não tentariam fazer nada contra mim", contou o estudante.

Em um dos trechos, o texto diz: “Se tu for lá na Brigada e falar a verdade e me caguetar no meu processo, eu vou te cobrir de porrada. No carnaval, tu escapou, mas dei um jeito de embolachar teu amiguinho Seco Edson sem sujar as mãos. Deixamos a cara dele mais feia e preta que a tua, seu otário”.

Após as denúncias, as ameaças aumentaram. "Eles começaram a passar na porta da minha casa com a viatura ligada, várias vezes ao dia. Passavam bem devagar e, no início pensei que era apenas para me intimidar", contou o estudante de Porto Alegre, para onde se mudou após as ameças.

O estudante deve voltar à Bahia na próxima semana e tenta transferência para outra universidade. "Vou tentar me transferir para a Universidade Federal do Recôncavo. Estou na casa de um amigo esperando alguma posição".

O caso está sendo investigado pela Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, ligada à Presidência da República, e pela Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Procurado pelo CORREIO, o comandante da Brigada Militar de Jaguarão, major José Antônio Ferreira, não foi encontrado para dar esclarecimentos sobre a acusação e não retornou às ligações.

"Eu estava concretizando tantos sonhos, minha casa estava toda mobiliada, minha vida estava toda estruturada. Deixei a Bahia só para estudar, fiz 'Livro de Ouro' para juntar dinheiro, passei listinha entre amigos que me ajudaram a comprar a passagem. Comecei a trabalhar na prefeitura, atuava com um trabalho voluntário na comunidade quilombola, com os presos, e estou saindo daqui sem nada", disse o estudante por telefone”


Fonte: Correio do Povo (RS)  e Correio 24 Horas (BA)

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