Rio, 10/04/2012 -  O pátio da 41ª DP (Tanque), em Jacarepaguá, na Zona Oeste, transformou-se em abrigo temporário para moradores do Complexo da Covanca, no mesmo bairro, que já sofriam com ações da milícia e, recentemente, foram expulsos de suas casas por traficantes. Alguns têm dormido em carros de vítimas em frente à unidade. Segundo a polícia, tudo aconteceu após a retomada das comunidades da região por traficantes que tentavam voltar para a área desde janeiro.


De acordo com a associação de moradores da comunidade, quatro pessoas morreram na disputa pelo território e 16 famílias foram expulsas por bandidos do Comando Vermelho. Com medo, um morador tem usado até colete à prova de balas para andar nas ruas. A guerra teria começado com a morte da secretária da associação de moradores Iara Gomes Prata, 59 anos, assassinada no dia 13 de janeiro com 11 tiros no rosto.
Moradores levaram até alguns eletrodomésticos que salvaram para espaço onde são guardados carros da | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Moradores levaram até alguns eletrodomésticos que salvaram para espaço onde são guardados carros da | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia

Segundo a polícia, ela, que distribuía as cartas para os moradores da favela após recebê-las dos Correios, teria sido morta por traficantes. No mesmo dia, uma ex-funcionária da entidade, identificada apenas como Elizabeth, de 42 anos, também foi morta.

Na tarde de domingo, após a ordem para o fechamento do comércio, pelo menos 22 criminosos, armados com fuzis e pistolas, invadiram a comunidade e fizeram mais uma vítima: o pedreiro Lindomar Barbosa Dias, 25, foi morto com dois tiros, um no ombro e outro na nuca. Ele foi velado na noite de ontem, e o corpo será enterrado em Minas Gerais. Ontem, muito abalados, parentes de Lindomar não quiseram comentar sobre o crime.

Segundo moradores retirados da comunidade, as expulsões mais recentes começaram na quinta-feira. “Passei a Páscoa aqui na delegacia. Não sei o que é uma refeição decente há dias. É muita humilhação ser expulsa de casa dessa forma. Só pude pegar umas mudas de roupa e documentos”, conta uma moradora, sem se identificar. 
 
Ela conta que os criminosos foram até a casa dela e a expulsaram do imóvel, que seria transformado em boca de fumo. “Eles também disseram que vão usar minha casa para embalar as drogas”, completou a moradora, que deixou a Covanca com o marido e os três filhos. A mãe dela, que era sua vizinha, também foi expulsa. “Fui informada por telefone. Eles ligaram e me disseram para não voltar mais. Com medo, obedeci”, disse ela, de 65 anos.


Quadrilha queima casa para usar como boca de fumo

Quinta-feira, um morador foi expulso de casa e viu sua vida virar cinzas. “Me colocaram para fora e atearam fogo em tudo. Não sobrou nada, nem meus documentos. Disseram que ali é um ponto estratégico e que precisavam do espaço”, contou. Ele disse que também passou o fim de semana na delegacia.
Durante operação da polícia na comunidade da Covanca, ontem, pelo menos 12 motos foram apreendidas | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Durante operação da polícia na comunidade da Covanca, ontem, pelo menos 12 motos foram apreendidas | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia

De acordo com investigadores da 41ª DP (Tanque), o enfraquecimento da milícia com prisões de integrantes dos grupos paramilitares teria favorecido o ataque do tráfico.

As investigações apontam Alexsandro Rocha da Silva, o Sam da Caicó, e o irmão dele, Anderson Rocha da Silva, o Russão, como os traficantes que lideraram o ataque do fim de semana. Sam e Russão, além dos comparsas identificados como Antoninho e Bruninho, estavam refugiados no Jacarezinho, durante a permanência da milícia na Covanca.

Cinco anos de guerra

Há mais de cinco anos, moradores do Complexo da Covanca sofrem com a disputa entre traficantes de drogas e milicianos pelo domínio do território e a exploração de serviços oferecidos na comunidade, como o sistema de transporte alternativo.

Investigações sobre a atuação de milicianos revelam que, para dominar a área da Covanca, paramilitares montaram uma espécie de consórcio, com milicianos de outras áreas, como Rio das Pedras, para invadir e expulsar os traficantes, como O DIA noticiou em reportagens no ano de 2007.

Em diversas operações policiais na região, centrais de TV a cabo clandestinas, montadas em casas de moradores expulsos por traficantes ou milicianos, e até um cemitério clandestino, na Estrada da Covanca, foram localizados. O local também é usado, de acordo com policiais do Serviço Reservado do 18º BPM, para desmanche de veículos roubados. As peças retiradas são comercializadas por ferros-velhos da região.


Fonte O Dia