sexta-feira, 6 de maio de 2011

Grilagem e milícia no Itanhangá, bairro nobre do RJ




Golpista cobrou R$ 15 mil para não derrubar casas que serão demolidas na Muzema






Moradores fazem barricada na entrada da loteamento na Fazenda Muzema, em Jacarepaguá


RIO, 6 de abril de 2011 - Na tentativa de evitar que suas construções irregulares fossem postas abaixo, moradores da Favela da Muzema, no Itanhangá, acabaram vítimas de um golpe. Segundo denúncia encaminhada ao gabinete da vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB), uma pessoa que dizia falar em nome de uma autoridade da prefeitura cobrou R$ 15 mil — divididos em duas parcelas de R$ 7.500 — para que as edificações, já embargadas pela Secretaria municipal de Urbanismo, não fossem derrubadas. Com medo, e sem saber quando será feita a operação de demolição, moradores montaram uma barricada, na madrugada de quinta-feira, no acesso a um dos dois loteamentos.

— O que soubemos é que seria amanhã (hoje) — disse um dos moradores, sem se identificar, acrescentando que cada uma dos ocupantes dos imóveis a serem derrubados recebeu três notificações diferentes da prefeitura.
Secretária tem 34 processos de embargo no Itanhangá

Embora sem informar a data, o secretário de Urbanismo, Sérgio Dias, confirmou que a Secretaria Especial da Ordem Pública (SEOP) já foi acionada para fazer as demolições:

— Aquilo que não pode ser legalizado, tem de ser derrubado — disse o secretário.

Sérgio Dias acrescentou que o embargo se limitou às edificações que estavam em obras, não atingindo os imóveis mais antigos. O subprefeito de Barra e Jacarepaguá, Tiago Mohamed, também confirmou que a ação será pontual, em cima de construções em andamento.

De acordo com a Secretaria de Urbanismo, há 34 processos de embargo — cada um deles pode envolver mais de um imóvel — em dois loteamentos irregulares no Itanhangá. Os endereços não oficiais dos loteamentos irregulares são Estrada do Itanhangá 2.890 e 2930. O primeiro embargo aconteceu em fevereiro. Em abril, uma nova vistoria foi realizada e constatou que as irregularidades permaneciam.

    Só faltava essa: grileiro querendo usar o meu nome. Já pedi que a Subprefeitura (da Barra e Jacarepaguá) e a Coordenadoria Militar apurassem

A barricada para tentar impedir a entrada de caminhões e carros da prefeitura — formada por dois portões de ferro derrubados, pedaços de madeira e restos de construção — foi montada na frente do acesso ao loteamento no número 2.890 da estrada. Com a barreira, apenas motos e pedestres conseguem entrar. Para chamar a atenção de quem passa, manifestantes colocaram faixas e uma bandeira do Brasil junto à barricada.

O loteamento irregular da Estrada do Itanhangá 2.890 tem cerca de cem imóveis entre casas e prédios, vários deles alugados. Ele fica numa ladeira sem saída. O loteamento é antigo, mas, segundo um morador, mais recentemente começaram a vender novos lotes.

O golpista usou o nome de Pedro Paulo para praticar a extorsão. O secretário-chefe da Casa Civil do município, Pedro Paulo de Carvalho soube que estavam citando o seu nome quando foi procurado pela vereadora Andrea Gouvêa Vieira.

— Só faltava essa: grileiro querendo usar o meu nome. Já pedi que a Subprefeitura (da Barra e Jacarepaguá) e a Coordenadoria Militar apurassem — reagiu ontem o secretário.
Comunidade é controlada por milícia

Localizada entre a Tijuquinha e Rio das Pedras, a Muzema é controlada por milicianos, assim como as favelas vizinhas dela no Itanhangá. A comunidade está crescendo entre a Pedra do Itanhangá e a Lagoa da Tijuca. No local, há prédios de até sete andares.

Em 2009, a prefeitura chegou a demolir na Muzema um prédio de cinco andares em construção, que estava sendo erguido ilegalmente numa área de proteção ambiental (APA). Esta foi a última grande operação contra construções irregulares feita na favela.

Assim como no caso do Minhocão da Rocinha — demolido também em 2009, após denúncia do GLOBO — a obra da Muzema desmatou a encosta e serviria para especulação imobiliária: o edifício derrubado teria 15 quitinetes e já estava em fase de acabamento.

O prédio na Muzema teve que ser demolido a marretadas porque o local era de difícil acesso e o uso de máquinas poderia pôr em risco as construções vizinhas. A demolição durou três semanas.


Por Selma Schmidt
Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo
Fonte: Extra

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