sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Diretor da DRACO denuncia rede de corrupção envolvendo policiais ligados a Turnowski



Diretor da Draco denuncia rede de corrupção envolvendo policiais ligados a Turnowski


RIO,18 fev 2011 - Uma rede de policiais com cargos de comando e que atuava na base operacional do ex-chefe de Polícia Civil Allan Turnowski foi acusada de envolvimento em diversos crimes pelo delegado Claudio Ferraz, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), em depoimento prestado na última segunda-feira na Divisão de Assuntos Internos (Divai) da Corregedoria Interna da Polícia Civil (Coimpol).

Em oito páginas, Ferraz fez revelações contundentes: contou que agentes ligados ao ex-subchefe Operacional da Polícia Civil, o delegado Carlos Oliveira, organizaram, em abril do ano passado, uma operação na Favela da Coreia para roubar armas de traficantes e entregá-las a milicianos de Ramos. A operação foi autorizada pela Chefia de Polícia - inclusive com uso de helicóptero e blindados.

Segundo Ferraz, o armamento seria repassado ao policial militar da reserva Ricardo Afonso Fernandes, o Afonsinho, que, de acordo com as investigações da PF, controlava a milícia na Favela Roquete Pinto, em Ramos, juntamente com o filho, o inspetor da 22 DP (Penha) Christiano Gaspar Fernandes e o delegado Oliveira, todos presos na Operação Guilhotina. Ferraz disse ainda que a investida dos policiais era investigada pela Draco, mas acabou repassada para a PF com autorização do secretário José Mariano Beltrame: 

- Como a PF tinha uma linha de investigações contra o mesmo grupo, o secretário autorizou que as informações fossem compartilhadas.

A ação do grupo de milicianos estava sendo monitorada, com grampos telefônicos, em investigações da Draco. As interceptações mostraram ainda que o mesmo grupo - da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), que foi chefiada por Oliveira - participaria de outra incursão oficial na comunidade. No grampo, um dos agentes diz que "eles (da Draco) gostam de tudo certinho". Por isso, a operação em conjunto "não teria bagunça" (roubo de armas); se fosse para haver "bagunça", iriam com policiais do 14 BPM (Bangu).

Ferraz prestou depoimento um dia depois de a Draco ser invadida por agentes da corregedoria e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), que buscaram até esta quarta-feira provas de um suposto esquema de extorsão contra empresários e prefeitos do interior. A varredura fora determinada por Turnowski, que disse ter recebido uma carta anônima com a denúncia.

Nos bastidores, acredita-se que a devassa foi uma retaliação por Ferraz ter ajudado a PF na Operação Guilhotina, que prendeu o delegado Oliveira, ex-braço direito de Turnowski.

Ferraz também contou à Corregedoria que o delegado Carlos Oliveira procurou a Draco ao saber que Afonsinho e Christiano estavam sendo investigados. Segundo o titular da Draco, Oliveira defendeu a dupla e pediu o fim das investigações.

Investigação inspirou trecho de 'Elite da Tropa 2'

O delegado Claudio Ferraz contou que a Draco passou a investigação à PF após parte da apuração ter chegado ao conhecimento do delegado Carlos Oliveira. Dias depois, ele descobriu que a "banda podre" foi informada por algum funcionário do Disque-Denúncia.

Para confirmar as suspeitas de que os policiais estavam comandando a milícia na Favela Roquete Pinto, Ferraz foi pessoalmente à sede do Disque-Denúncia pedir uma pesquisa sobre informações que poderiam ter sido passadas referentes ao grupo paramilitar. Para o delegado, o pedido chamou a atenção de alguém dentro do órgão, que informou aos policiais envolvidos no esquema. Apesar do problema causado pelo vazamento, Claudio Ferraz elogiou o Disque-Denúncia.

- O Disque-Denúncia facilita e muito as investigações, é uma arma extraordinária. O que aconteceu é um fato isolado, nada tem a ver com a direção do serviço - disse.

O diretor do Disque-Denúncia, Zeca Borges, negou ontem qualquer tipo de vazamento:

- Não existe nenhum informante aqui dentro.

As semelhanças entre ficção e realidade não são meras coincidências quando se trata da atual crise na Polícia Civil e do livro "A Elite da Tropa 2 - a história além do filme", do qual Ferraz é coautor.

O delegado disse que, para escrever parte do livro, se inspirou no caso do vazamento de informações da operação para prender o traficante Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol, de 32 anos. Segundo ele, a banda podre da corporação, ao ler a obra, associou os casos e passou a chamá-lo de traidor da polícia.


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Um comentário:

Vera Paixao disse...

Antes tarde do que nunca...