domingo, 6 de maio de 2012

Milícia domina área pública




Paramilitares cobram por falsa proteção a donos de quiosques em calçadas de Rio das Pedras


Por João Antonio Barros




(A Rua Velha — endereço da peixaria — é a mais cobiçada pelos comerciantes. Num trecho de apenas 100 metros, cinco barracas obstruem completamente a passagem pela calçada. Mas o curioso é que nem a rotunda — no cruzamento da Estrada de Jacarepaguá com a Rua Nova — escapou da mira da milícia. O apertado espaço é sede de um bar repleto de cadeiras, que à noite fica cheio de clientes)



Rio, 06/05/2012 -  O lucro abre novos caminhos em Rio das Pedras. Com a falta de terrenos para mais edificações, os milicianos de Jacarepaguá avançam sob as calçadas e praças em busca de espaço para novas oportunidades de ‘negócios’. Eles simplesmente lotearam a área pública e negociam a instalação de trailers, quiosques e barracas. Os comerciantes interessados no ponto têm que pagar de R$ 40 a R$ 80 por semana a título de ‘taxa de segurança’ à milícia.

O novo ‘boom comercial’ pode ser visto em quase todas as ruas de Rio das Pedras. E o leque de comércio sob as calçadas e praças da comunidade carente é variado. Vai desde os tradicionais bares e lojas de lanches rápidos até lava-jatos e peixaria. Isto mesmo: uma venda de pescado fixa foi montada sob a calçada com direito a painel na fachada e aspecto de legalidade.

Os empreendimentos mais caprichados são os que ficam nas praças do Pinheiro e de São Bartolomeu — a ‘Zona Sul’ de Rio das Pedras. Os enormes quiosques, com suas mesas e cadeiras, tomam conta de quase todo o espaço que antes eram destinados à recreação de crianças e adolescentes.

Segundo a Prefeitura do Rio, todo o comércio instalado nas praças e calçadas de Rio das Pedras não têm licença para o funcionamento.

Loteamento que começou com prédios

O avanço das milícias sob o espaço público é a segunda fase da grilagem de terra em Rio das Pedras. Durante anos, os paramilitares ‘tomaram’ terrenos vazios e assumiram áreas públicas para erguer prédios nas comunidades. Fizeram fortuna com o aluguel de apartamentos e também ganharam na comissão sobre todas as vendas posteriores dos empreendimentos — uma espécie de ‘laudêmio do crime’.

Há dois anos, imbróglio envolvendo o jornalista Dalcemir Pereira Barbosa — indiciado por envolvimento com a milícia — chegou à 32ª DP (Taquara), após ele ser acusado de fraudar documentos para se apoderar de um terreno em Rio das Pedras de Socorro Tostes, viúva de Félix Tostes, um dos organizadores da milícia na comunidade. No local, era erguido um prédio, que acabou derrubado por falta das licenças de construção.

Moradores querem praças livres

Um batalhão de desordem. As maiores queixas dos moradores de Rio das Pedras à Subprefeitura da Barra e Jacarepaguá são a falta de área livre nas calçadas: camelôs, carros estacionados e puxadinhos das lojas tiram o espaço e jogam o pedestres para andar nas ruas.

A Prefeitura do Rio diz desconhecer que a milícia tenha loteado as praças e calçadas, mas admite o aumento nas reclamações. E justamente da instalação de barracas e quiosques fixos na comunidade. Em uma das últimas operações do Choque de Ordem, um ambulante reclamou com fiscais sobre a remoção da barraca e admitiu que investiu R$ 5 mil no negócio.

No ano passado, a subprefeitura colocou abaixo um prédio de cinco andares em construção. O empreendimento, sem licenças e com suspeita de ser financiado pela milícia, era feito justamente em uma praça pública, na localidade de São Bartolomeu.

O entulho permanece no terreno e os moradores já sabem que os milicianos falam em reativar o negócio. Desta vez, planejam fazer um lava-jato para não chamar tanto a atenção.

Fonte: O Dia

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