terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Rio deixa Zona Oeste sob o jugo das Milícias


Rio “esquece” zona oeste, dominada por milícias e tráfico, no 3º ano da política de UPPs

Cronograma de instalação de UPPs segue lógica de segurança para Copa e Olimpíada


Rio, 20/12/2011 - Enquanto o ano de 2011 foi marcado pelo sucesso da ocupação da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, e pela instalação de seis UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), na zona norte e região central da cidade, a zona oeste permaneceu como reduto de diversas milícias e base da facção que perdeu menos território com a pacificação.

Para especialistas em segurança pública ouvidos pelo R7, após análise do mapa de implantação da política de UPPs que completa três anos neste mês, a zona oeste não deve ser o foco do programa até o governo organizar as regiões do Rio essenciais para receber a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.

O antropólogo e ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) Paulo Storani diz acreditar que o Estado não fugirá do combate às milícias – grupos armados controlados por integrantes de instituições de segurança pública para prática de extorsões. Para ele, a milícia será o problema da década, mas o governo do Rio precisa antes atender a compromissos que assumiu para ser a sede de eventos internacionais.

- Não há recursos para ações simultâneas por toda a cidade. Por isso, a escolha das próximas UPPs depende da visibilidade perante a população e do cumprimento de protocolos de segurança para a Copa e Olimpíada. Por enquanto, a Polícia Militar deve realizar operações sistemáticas contra o narcotráfico e a milícia.

Veja fotos de casos envolvendo milicianos

Para o cientista político Ricardo Ismael, do departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio, o cronograma da pacificação também leva em conta motivos eleitoreiros.

- O governo começou a pacificar pela favela Santa Marta, na zona sul, pois serviu como um cartão de visita durante as eleições para governador. A partir do Alemão e da Rocinha, é possível ver que o que foi feito foi uma questão de urgência para os próximos eventos esportivos. No entorno do Maracanã, por exemplo, foi feito um cinturão de segurança. 

Ambos os especialistas apostam no complexo da Maré, na zona norte, como a próxima localidade a ser ocupada por forças de segurança. Além da posição estratégica próxima às principais vias da cidade - avenida Brasil e linhas Vermelha e Amarela - para escoamento de drogas e outras atividades criminosas, o conjunto de favelas está perto do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão).

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A Secretaria de Segurança Pública não divulga a ordem de instalação das UPPs, mas a previsão é de que o Estado tenha 40 unidades até 2014 – ou seja, mais 22 nos próximos dois anos. Duas comunidades da zona oeste já entraram para o programa de pacificação: a Cidade de Deus e o Batan – esta última era área de milícia e recebeu a atenção do governo após uma equipe de reportagem do jornal O Dia ser torturada.

O Batalhão de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, que tinha a Cidade de Deus como local mais violento, registrou queda acentuada de homicídios após a chegada da UPP, em 2009. Entre janeiro e julho de 2008, foram 74 mortes registradas. No mesmo período de 2011, foram 31 homicídios, redução de 58%. A diminuição das mortes em confronto com a polícia também chama a atenção. Nos primeiros sete meses de 2008, foram 24 autos de resistência. No mesmo período deste ano, foram apenas dois casos, queda de 92%.

Segundo a secretaria, um estudo está reavaliando a distribuição de efetivo da Polícia Militar para reforçar o combate à milícia e ao narcotráfico na zona oeste. Além disso, a Draco-IE (Delegacia de Repressão às Ações do Crime Organizado e Inquéritos Especiais), delegacias distritais e batalhões têm trabalhado de forma estratégica contra a proliferação desses crimes, segundo a Polícia Militar.

Entre os 624 milicianos presos de 2006 até outubro deste ano, 214 eram agentes ou ex-agentes do Estado, como PMs, policiais civis, bombeiros, integrantes das Forças Armadas, da Guarda Municipal e da Polícia Federal, o que corresponde a 34% do total. Um era deputado estadual e sete, vereadores. Os outros 402 eram civis.


Por: Gabriela Pacheco
Colaborou Marcelo Bastos
Foto: Alexandre Vieira/Agência O Dia/19.11.2011 (Milícia na zona oeste - carro alvejado - 9.11.2011. Ex-PM foi morto em novembro em Santa Cruz, na zona oeste, após ter o carro atingido por cerca de 50 tiros de fuzil

Fonte: R7

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