quarta-feira, 27 de junho de 2012

Milícia marítima no Rio de Janeiro já toma o mar.







Parentes de pescador morto falam em disputa por áreas e 'milícia marítima'


‘Muita gente tem medo de passar nessa espécie de zona proibida’, diz primo.  Pescador foi encontrado morto, amarrado, na Baía de Guanabara.








João Luiz Telles Penetra em foto tirada por familiares, quando resgatou um pinguim (Foto: Arquivo Pessoal)João Luiz Telles Penetra em foto tirada por familiares, quando resgatou um pinguim.


A família do pescador João Luiz Telles Penetra acredita que ele tenha sido morto por causa de uma disputa de áreas de pesca na Baía de Guanabara. O corpo de João Luiz foi encontrado boiando às margens da baía, próximo a um estaleiro em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, na manhã desta segunda-feira (25). O primo dele, o professor Antônio Carlos Penetra, explica que existem vários currais - armadilhas utilizadas para a captura de peixes - montados na baía, e que os donos desses currais ameaçam quem pesca dentro ou nas proximidades deles. “Eu cresci sendo alertado pelos meus avós de que não podia nem passar perto dos currais, porque as pessoas matariam a gente”, conta Antônio Carlos.

“Muita gente tem medo de passar nessa espécie de zona proibida, porque os donos dos currais dão tiros. É uma espécie de milícia marítima”, ressalta Antônio Carlos. Ele acrescenta que já havia escutado rumores sobre tiros e agressões perto dos currais. “Mas essa é a primeira morte relacionada ao assunto”, enfatiza o professor.  (Saiba mais)

Família acredita que pescador achado morto no RJ foi vítima de homicídio

Existem cerca de 300 currais na Baía de Guanabara, de acordo com familiares de João Luiz, que reconheceram o corpo dele no fim da tarde de segunda, no Instituto Médico-Legal (IML) do Posto Regional de Polícia Técnico-Científica de São Gonçalo, na Região Metropolitana. Fontes da Polícia Civil informaram que a morte de João Luiz trata-se de um homicídio.

‘Corpo estava amarrado com corda de curral’, afirma primo

“Hoje, existem cerca de cem currais ativos, feitos de bambu. É uma prática permitida pelo Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], que tem o cadastro deles”, explica Antônio Carlos. O Ibama informou que o cadastramento dos currais é competência do órgão. Entretanto, segundo o Ibama, não há informações sobre a quantidade de currais porque eles estão em processo de ordenamento.

"Meu primo foi um filho de Paquetá brutalmente assassinado" (Antônio Carlos Penetra, primo do pescador morto)

De acordo com os familiares de João Luiz, que também são pescadores, os currais antigos, que foram desativados, foram feitos de pau de mangue, madeira que teve a utilização proibida pelo Ibama. Entretanto, esses currais não foram desmontados, mas apenas abandonados pelos antigos donos. “O barco onde meu primo estava, com um amigo, foi encontrado afundando, com quatro buracos no casco, dentro de um desses currais desativados. E a corda com que amarraram o meu primo e o amigo dele é do mesmo tipo da utilizada para amarrar os paus de mangue”, afirma Antônio Carlos.

O professor explica que muitos pescadores de Magé, da Praia de Mauá, distrito de Magé, e da Ilha de Itaóca, que pertence a São Gonçalo, atuam na Baía de Guanabara. “Em Paquetá não tem nenhum dono de curral. Ninguém sabe quem são eles”, afirma Antônio Carlos. Ele disse que o primo não relatou nenhuma ameaça ou levantou qualquer suspeita contra alguém nas últimas semanas. “Ele não tinha desafetos e não pescava em curral ativo. João Luiz só pescava de arpão peixes como robalo, badejo e pescada, com pouco menos de dez quilos”, acrescentou.

“Os moradores da Ilha de Paquetá são como se fosse uma família: todo mundo se conhece”, conta Antônio Carlos. “Na minha família, que é tradicional em Paquetá, todo mundo é pescador, menos eu, que virei professor”, complementa. Ele diz que os moradores ficaram chocados com a morte do primo dele. “Nenhum pai está deixando o filho sair para pescar. O índice de violência e criminalidade na ilha é zero. Meu primo foi um filho de Paquetá brutalmente assassinado”, finalizou o professor.

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Bernardo Tabak Do G1 RJ
Fonte: G1

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