Parentes de pescador morto
falam em disputa por áreas e 'milícia marítima'
‘Muita gente tem medo de
passar nessa espécie de zona proibida’, diz primo. Pescador foi encontrado morto, amarrado, na
Baía de Guanabara.
João Luiz Telles Penetra em foto tirada
por familiares, quando resgatou um pinguim (Foto: Arquivo Pessoal)João Luiz
Telles Penetra em foto tirada por familiares, quando resgatou um pinguim.
A família do pescador João
Luiz Telles Penetra acredita que ele tenha sido morto por causa de uma disputa
de áreas de pesca na Baía de Guanabara. O corpo de João Luiz foi encontrado
boiando às margens da baía, próximo a um estaleiro em Niterói, na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, na manhã desta segunda-feira (25). O primo
dele, o professor Antônio Carlos Penetra, explica que existem vários currais -
armadilhas utilizadas para a captura de peixes - montados na baía, e que os
donos desses currais ameaçam quem pesca dentro ou nas proximidades deles. “Eu
cresci sendo alertado pelos meus avós de que não podia nem passar perto dos
currais, porque as pessoas matariam a gente”, conta Antônio Carlos.
“Muita gente tem medo de
passar nessa espécie de zona proibida, porque os donos dos currais dão tiros. É
uma espécie de milícia marítima”, ressalta Antônio Carlos. Ele acrescenta que
já havia escutado rumores sobre tiros e agressões perto dos currais. “Mas essa é
a primeira morte relacionada ao assunto”, enfatiza o professor. (
Saiba mais)
Família acredita que pescador achado morto no RJ foi vítima de
homicídio
Existem cerca de 300 currais
na Baía de Guanabara, de acordo com familiares de João Luiz, que reconheceram o
corpo dele no fim da tarde de segunda, no Instituto Médico-Legal (IML) do Posto
Regional de Polícia Técnico-Científica de São Gonçalo, na Região Metropolitana.
Fontes da Polícia Civil informaram que a morte de João Luiz trata-se de um
homicídio.
‘Corpo estava amarrado com corda de curral’, afirma primo
“Hoje, existem cerca de cem
currais ativos, feitos de bambu. É uma prática permitida pelo Ibama [Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], que tem o
cadastro deles”, explica Antônio Carlos. O Ibama informou que o cadastramento
dos currais é competência do órgão. Entretanto, segundo o Ibama, não há
informações sobre a quantidade de currais porque eles estão em processo de
ordenamento.
"Meu primo foi um filho de
Paquetá brutalmente assassinado" (Antônio Carlos Penetra, primo do
pescador morto)
De acordo com os familiares de
João Luiz, que também são pescadores, os currais antigos, que foram
desativados, foram feitos de pau de mangue, madeira que teve a utilização
proibida pelo Ibama. Entretanto, esses currais não foram desmontados, mas
apenas abandonados pelos antigos donos. “O barco onde meu primo estava, com um
amigo, foi encontrado afundando, com quatro buracos no casco, dentro de um
desses currais desativados. E a corda com que amarraram o meu primo e o amigo
dele é do mesmo tipo da utilizada para amarrar os paus de mangue”, afirma
Antônio Carlos.
O professor explica que muitos
pescadores de Magé, da Praia de Mauá, distrito de Magé, e da Ilha de Itaóca,
que pertence a São Gonçalo, atuam na Baía de Guanabara. “Em Paquetá não tem
nenhum dono de curral. Ninguém sabe quem são eles”, afirma Antônio Carlos. Ele
disse que o primo não relatou nenhuma ameaça ou levantou qualquer suspeita
contra alguém nas últimas semanas. “Ele não tinha desafetos e não pescava em
curral ativo. João Luiz só pescava de arpão peixes como robalo, badejo e
pescada, com pouco menos de dez quilos”, acrescentou.
“Os moradores da Ilha de
Paquetá são como se fosse uma família: todo mundo se conhece”, conta Antônio
Carlos. “Na minha família, que é tradicional em Paquetá, todo mundo é pescador,
menos eu, que virei professor”, complementa. Ele diz que os moradores ficaram
chocados com a morte do primo dele. “Nenhum pai está deixando o filho sair para
pescar. O índice de violência e criminalidade na ilha é zero. Meu primo foi um
filho de Paquetá brutalmente assassinado”, finalizou o professor.
Leia mais:
Bernardo Tabak Do G1 RJ
Fonte: G1