sábado, 5 de março de 2011

Milícias e posição do Exército Brasileiro: "Faz sentido denúncia premiada na polícia"

 




Faz sentido denúncia premiada na polícia


Rio de Janeiro, 04 Mar 2011 - Há quem identifique nos grupos de extermínio que operavam na Baixada Fluminense nas décadas de 60 e 70 a origem das milícias. Neles também atuavam policiais, a soldo de comerciantes. No Rio, há registros de que, no início da década de 80, moradores da favela Rio das Pedras se organizaram com o mesmo objetivo. Depois, a eles se juntaram policiais.

A favela ganhou fama de local seguro, e alguns analistas e políticos chegaram a pensar que a organização de moradores, com a ajuda de policiais, garantiria a paz nas comunidades mais pobres. Houve quem lembrasse da criação, na Colômbia, das "forças de autodefesa", nas quais moradores do interior se organizaram para enfrentar guerrilheiros das Farc e o tráfico. Naquele país, a milícia degenerou em grupos paramilitares tão perigosos quanto os guerrilheiros e traficantes. E no final paramilitares e guerrilheiros passaram a atuar no tráfico. O mesmo processo degenerativo ocorrido na Colômbia aconteceu no Rio. Com a adesão de policiais, bombeiros e agentes penitenciários - da ativa ou não -, as milícias ganharam em poder, tomaram favelas do tráfico e passaram elas a subjugar as comunidades. Há negócios, inclusive, entre o tráfico e milícias.

O que era, para alguns, uma solução promissora virou um monstro tão ou mais perigoso que o próprio tráfico, porque ele tem ramificações no aparelho de segurança pública. Reportagem publicada domingo pelo GLOBO sobre o até então território livre para milicianos em Ramos, na área do Piscinão, mostrou a diversidade de negócios ilegais explorados pelos bandidos de farda e distintivos: estacionamento clandestino, ambulantes, numa rede com articulações com o presidente da associação de moradores local, Jaime Felipe Silveira, também administrador do Piscinão, de propriedade da prefeitura. Ele foi afastado do cargo, mas é ilusão crer que a medida - necessária - resolveu o problema.

A questão das milícias voltou com força a partir da Operação Guilhotina, desfechada pela Polícia Federal contra a banda podre das polícias. O resultado, até agora, da ação cirúrgica traçou um quadro de cores fortes da degradação na Polícia Militar e na Civil. Ficou evidente que a outra face desta banda podre são as milícias. Informações colhidas na investigação mapearam articulações de milicianos até na alta cúpula do aparato de segurança pública. Chamou a atenção que um dos apanhados tenha sido o delegado Carlos Alberto Oliveira, ex-subchefe operacional da Polícia Civil e subsecretário de Operações da Secretaria Especial de Ordem Pública da prefeitura do Rio. Também ficaram claras articulações políticas de milicianos. Não há mais dúvida que, dada a contaminação das polícias pelo crime, a limpeza dos aparelhos policiais é vital para a consolidação da política de segurança centrada nas UPPs, um modelo de combate ao tráfico e de defesa das comunidades com inédito apoio unânime da população.

Pela importância do que está em jogo, faz sentido a proposta do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, de ser aplicado o método de denúncia premiada para policiais - o denunciante de colegas receberá alguma atenuação, se também for culpado. O mesmo foi aplicado na Itália na luta contra as máfias. É do que se trata no Rio de Janeiro.

Fonte: Exército Brasileiro
Foto: O Globonline

http://www.exercito.gov.br/web/guest/o-exercito

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